Mostra Um Curta Por Dia 2025

Tudo sobre a 8ª Edição do Festival Curta Campos do Jordão

Tudo sobre a 8ª Edição do Festival Curta Campos do Jordão

O Cinema Sobe a Serra com o festival jordanense, que se consolida em 2022, como um dos principais eventos do interior Paulista

Por Clarissa Kuschnir

Os festivais presenciais estão de volta e com tudo (apesar da resistência do público em ainda comparecer as salas de cinema), nesse final de 2022. Depois de dois anos pandêmicos e com os festivais acontecendo na maior parte online (com exceção de alguns eventos terem retornado no presencial, no segundo semestre do ano passado), é muito bom poder entrar novamente em uma sala de cinema e sentir o prazer de assistir aos filmes em tela grande. E o melhor ainda, assistir aos curtas, tão restritos aos grandes circuitos comerciais. E o mês de outubro foi invadido por dois grandes eventos cinéfilos como o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo. Porém nesse meio teve, o Festival Curta Campos do Jordão, que chegou em sua 8° edição. Durante uma semana 125 curtas de diversas partes do Brasil (o festival esse ano recebeu 571 inscrições) fizeram parte da seleção do festival, na cidade mais alta do país. Além das exibições, o curta Campos do Jordão conseguiu reunir realizadores e convidados que muito contribuíram com o evento que contou com debates, uma oficina para as crianças, homenagem a uma personalidade do cinema e atividades culturais paralelas, além das telas.  As sessões como nos últimos anos presenciais, aconteceram no Espaço Cultural Dr. Além (antigo Cine Glória) onde também abriga um espaço para palestras, uma biblioteca e um pequeno museu do cinema.  

“Eu agradeço aos presentes que estão aqui, depois de dois anos online. Esse ano voltamos ao formato presencial sentindo esse calor e esse astral nessa sala de cinema que foi construída para ser uma sala de cinema aqui, em Campos do Jordão, em 1942 e foi inaugurada em 1943. E a gente tem contribuído bastante para que essa atividade cultural do cinema, permaneça nessa casa”, disse Cervantes Sobrinho, diretor e idealizador do festival durante a cerimônia de abertura. Cervantes ainda complementou que trabalhar com e para o cinema nesse país, já merece um ato de respeito.

O secretário da Cultura de Campos, Benilson Toniolo, agradeceu e disse ser muito fácil atuar com secretário tendo parceiros como o Cineclube Araucária (associação cultural e uma das idealizadoras do festival).

“A gente tem essa casa que é o espaço cultural Dr. Além e essa sala que é chamada de Cine Glória, que é tombado pelo patrimônio cultural de Campos. O Cineclube nos apresenta soluções, alternativas e cabe ao gestor público apenas ser entusiasta e apoiar incondicionalmente. E isso é muito bom, pois o resultado dessas ações é muito positivo. É isso vale para todas as faixas etárias e para todos os estratos sociais da nossa cidade, e isso é um momento histórico”, finalizou Benilson que logo em seguida apresentou o filme de abertura do festival que foi o longa “Todos os Mortos“, dos cineastas Caetano Gotardo e Marco Dutra, que esteve representado pela veterana cantora e compositora Alaíde Costa, que faz o papel de Josefina. Pelo longa, Alaíde recebeu no Festival de Gramado em 2020, o Kikito de melhor atriz coadjuvante.

Dos 125 curtas divididos nas categorias: regional, documentário, experimental, animação infantil e ficção foram entregues 11 prêmios pelo júri oficial e dois pelo júri popular. O filme regional “Quase Ele”, de Caroline Lobo e André Pires da vizinha cidade de Taubaté levou para casa dois troféus Araucária. O curta produzido pela Flor Filmes (produtora representada por mulheres e mães) ganhou tanto na categoria do júri oficial quanto do júri popular. Na categoria experimental foi escolhido o curta repleto de metáforas “Pra tirar Você da Chuva”, de Mayara Helena Alvim, de Juiz de Fora (MG). Já o poético “O Espaço do Não Ver” de Guilherme Bonini, de Araraquara, foi escolhido como o melhor curta documental. Da sessão infantil (que lotou a sala do Cine Glória de crianças) o escolhido para o troféu Araucária foi “Bola da Vez” de Elder Patrick, de Goiás (GO). E para melhor animação o júri escolheu “Nonna”, de Maria Augusta V. Nunes de Florianópolis. Os premiados “Sideral” de Carlos Segundo do Rio Grande do Norte e “O Fantasma de Neon”, de Leonardo Martinelli, do Rio de Janeiro saíram cada um com o troféu Araucária. O primeiro como melhor roteiro e o segundo como melhor direção. 

O Nordeste ainda se destacou com o curta “Cercas”, de Ismael Moura da paraíba, que levou uma menção honrosa e o prêmio Centauro de legendagem. E o melhor curta de ficção foi para o sensível e sutil “Ela Mora Logo Ali”. O filme de Rondônia que tem se destacado em vários festivais pelo Brasil, aborda a questão do analfabetismo e narra o dia a dia de uma mãe de um garoto deficiente que de repente se depara com uma das obras mais populares de todos os tempos que é Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. 

O júri oficial ainda concedeu um prêmio especial para o curta “Reciclo Logo Existo”, de Paulo Antonio de Albuquerque Filho, de Campos do Jordão. E para finalizar o júri popular escolheu “Lembra-te de Ti”, de Carolina de Cassia, de Campos dos Goyatazes (RJ).   

Além da sessões presenciais, o festival disponibilizou os curtas online e de graça (com cada sessão durante 24 horas , em sua plataforma) oferecendo a oportunidade dos espectadores assistirem de casa, com direito a votação popular. Ou seja, uma oportunidade e uma janela a mais, para quem não pode comparecer no festival presencial. E esse é um formato que muitos dos festivais têm trabalhado, nos pós pandemia, o que eu acho muito válido.

Festival Curta Campos do Jordão

Subindo a serra além da tela

E já que o Curta Campos do Jordão voltou no presencial com mais dias de exibições, a programação foi extensa e com muitas atividades paralelas. A semana se complementou com debates, lançamentos de livros, uma oficina e um tour cultural, por diversos locais da cidade serrana.

O cineasta Jeferson De abriu os debates ao lado da roteirista, produtora e também realizadora e sua sócia parceira, Cris Arenas. Natural de Taubaté, o encontro que também aconteceu online reuniu diversos convidados (especialmente regionais) que puderam debater sobre a carreira do diretor que tem em seu currículo,  o premiado curta Carolina de 2003, seguido de diversos longas como: “Bróder”, “O Amuleto”, “Correndo Atrás” e os mais recentes “M8 – Quando a Morte Socorre a Vida” e “Doutor Gama”.

“É uma alegria muito grande estar aqui no oitavo Curta Campos do Jordão, no Vale do Paraíba para falar um pouco sobre o nosso ofício para todos vocês que estão em aqui e principalmente para vocês que estão diversos lugares do Brasil, e acho que do mundo também”, abriu as conversas Jefferson De. Cris Arenas endossou que é muito bom poder estar no festival que é gratuito, no Espaço Dr. Além, ao lado de grandes realizadores e elogiou a curadoria e a resistência, por parte dos realizadores do festival.

“Cinema é resistência! Estamos resistindo, e eu como produtora não poderia deixar de falar sobre o impacto que estamos sofrendo em relação a cultura e principalmente em relação ao cinema. Mas, quando chegamos ao festival e vemos a quantidade de curtas e de bons filmes, de jovens e de pessoas de todas as idades realizando, a gente sente que a criatividade está presente e ela vai continuar existindo. É muito importante estar em um festival como esse e é muito importante que todos venham, para que a gente continue vivendo e vivenciando a arte e a poesia. O que seria de nós sem a arte, a  poesia e o cinema? O cinema é uma janela para todos os lugares para onde a gente puder apontar e trazer as histórias, e as narrativas das imagens”, complementou Cris Arenas.

O festival contou com um segundo debate com os realizadores (também transmitido online) mediado pela professora, pesquisadora e documentarista niteroiense Tetê Mattos, que inclusive foi a personalidade a ser homenageada esse ano. Em um bate papo informal, os realizadores presentes falaram um pouco do processo de seus filmes e responderam pergunta dos internautas. A homenagem a Tetê Mattos foi um dos destaques da cerimônia de encerramento do festival. Como realizadora Tetê tem em seu currículos curtas documentários como: “Era Araribóia Um Astronauta?”, “A Maldita”, “Fantasia de Papel” e o longa “A Maldita”, exibido no Canal Brasil. O mais recente curta “O Mambo da Cantareira” está em fase de produção. A pesquisadora ainda dirigiu o Araribóia Cine – Festival de Cinema, entre os anos 2002 e 2013.

“Estou muito honrada e emocionada e é difícil de expressar em palavras. E hoje eu acho que eu aprendi a fazer em libras um agradecimento e eu, vou tentar fazer aqui”, disse Tetê que logo depois do agradecimento foi aplaudida e recebeu seu troféu Araucária. Cervantes Sobrinho ainda relembrou que no dia da assembleia de inauguração do Cineclube Araucária, a Tetê Mattos estava presente sendo assim, uma das fundadoras do projeto. 

Festival Curta Campos do Jordão

 

As crianças não ficaram de fora dessa edição do festival, que contou com a oficina de Stop Motion realizada pelo cineasta e fotógrafo Ralph Friedericks. E da oficina resultaram alguns curtinhas que foram passados também, na cerimônia de encerramento. “As oficinas para crianças e jovens são o nosso foco da produtora. Vamos para todos os lugares. Para a periferia, escola particular, pública, para morador de rua e até para a Amazônia. Então a ideia é mostrar como se faz um filme de maneira bem simples usando celular”, afirmou Ralph sobre o processo.  

O Festival ainda contou com o lançamento de um dos mais recentes livros do professor, crítico, realizador e pesquisador Marcelo Ikeda. Em seu “Utopia da Autossustentabilidade – impasses, desafios e conquistas da Ancine” Ikeda aborda os 20 anos da Agência Nacional de Cinema (Ancine), de uma forma menos técnica e mais aberta para dialogar com o leitor, analisando todas as etapas da agência desde sua criação até o governo atual.  

“Foi um prazer participar dessa edição do Curta Campos do Jordão. Essa foi minha primeira vez no festival como convidado e fui lançando meu livro Utopia a Auto Sustentabilidade-Impasses, desafios e conquistas da Ancine. O festival teve convidados como Jeferson D. Foi muito bacana a palestra dele. Acho que é um festival super importante para levar o curta metragem brasileiro, especialmente para o interior de São Paulo. É um festival bem diverso que fez um panorama amplo e interessante das possibilidades criativas para o curta metragem hoje dentro do cinema independente brasileiro. Fico muito feliz te ter participado e visto o amadurecimento desse festival que já é um dos mais importantes do interior de São Paulo”, finalizou Ikeda.

Os debates, a cerimônia de abertura e o encerramento podem ser acessados através do canal do Youtube do Cineclube Araucária.


OS VENCEDORES DO FESTIVAL CURTA CAMPOS DO JORDÃO 2022

Festival Curta Campos do Jordão

Premiação Júri Oficial

Melhor Curta Regional

Quase Ele, de Carolina Lobo e André Pires – Taubaté (SP) – 2022

Menção Especial do Júri 

Reciclo, Logo Existo, de Paulo Antonio de Albuquerque Filho – Campos do Jordão (SP) – 2021

Melhor Curta Experimental

Pra Tirar Você da Chuva, de Mayara Helena Alvim – Juiz de Fora (MG) -2022

Melhor Curta Infantil

Bola da Vez, de Elder Patrick – Goiás (Go) -2022

Melhor Curta de Animação

Nonna, de Maria Augusta V. Nunes – Florianópolis (SC) – 2021

Melhor Documentário 

O Espaço do Não Ver, de Guilherme Bonini – Araraquara (SP) – 2021

Melhor Roteiro

Sideral, de Carlos Segundo – Rio Grande do Norte (RN) – 2021

Melhor Direção de Curta-Metragem

Leonardo Martinelli, de Fantasma Neon – Rio de Janeiro (RJ) – 2022

Menção Honrosa 

Cercas, de Ismael Moura – Cuité (PB)

Prêmio Centauro de Legendagem

Cercas, de Ismael Moura – Cuité (PB)

Melhor Curta de Ficção

Ela Mora Logo Ali de Fabiano Barros e Rafael Rogante – Porto Velho (RO) – 2022

Premiação Júri Popular

Melhor Curta Regional

Quase Ele, de Carolina Lobo e André Pires – Taubaté (SP) – 2022

Melhor Curta Nacional

Lembra-Te, de Carolina de Cassia – Campos dos Goytacazes (RJ) – 2021

Mostra Interior Paulista

Deixe uma resposta