Toy Story 3
Somos todos brinquedos na aventura da vida
Por Fabricio Duque
“Amigo estou aqui, amigo estou aqui, os seus problemas são meus também…”, parte da música que acompanha a trilogia de “Toy Story”. A terceira e última parte segue pelo mesmo caminho dos anteriores, porém fornece uma atmosfera mais nostálgica. Talvez pelo fato de não haver mais histórias. A mudança do diretor é significativa, assumido por Lee Unkrich. A narrativa de “Toy Story 3” comporta-se como de memórias. A trilha sonora continua sendo de Randy Newman. Não há flashbacks, mas a mãe filma os momentos de Andy e assim o período passado (dos outros filmes) é rapidamente resumido. Desta vez, o “dono” está com 17 anos e vai à faculdade. Mudanças precisam ser feitas. Os brinquedos poderão encaminhar-se ao sótão (espera), ao lixo (morte) e a creche – doação – (possibilidade de fazer alegria a outras crianças – menos afortunadas). O crescimento é inevitável. Não há mais tempo para brincadeiras. Os brinquedos estimulam um futuro pré-imaginado, como os filhos dele que poderão brincar, perpetuando a “família”. Woody não consegue a libertação.
Em “Toy Story 3”, o cordão umbilical é forte. As reviravoltas ocasionam novas aventuras. Assim, são encaminhados a terceira opção. Lá, encontram novos brinquedos e perigos, causados por decepções sentimentais. Há o urso do abraço, o bebê gigante e o Ken (da Barbie). “Ficar sem dono é ficar com coração partido”, diz-se. O roteiro busca a racionalidade ingênua e desconhecida deles. Precisam aprender rapidamente sobre a resolução de problemas que nunca viveram. A câmera foca nos detalhes – como o chapéu perdido (gerando o sofrimento solidário do espectador), humanizando o abstrato e convertendo na realidade transmitida: a da imagem. Uma nova “dona” entra na história. Essa criança gosta de dirigir espetáculos teatrais, cuidando bem do que tem. De volta a creche, a divisão de hierarquia permanece. Quem antes era um bom sujeito, mostra a verdadeira face e assume a liderança. Assim, excede o poder e impõe regras sádicas e unilaterais. “Ken, brinquedo de menina”, diz-se, tangenciando à inferência de sua opção sexual, chamado “metrossexual”. A dominação aumenta.
E então a revolução necessita acontecer. A solução escolhida é a psicológica. São planos simétricos e organizados. Buzz sofre com a reinicialização (reset). Torna-se a versão demo (básica) e depois um brinquedo espanhol. Hilário e divertido. Há o perdão. O rancor. As consequências dos próprios atos. “O que o faz especial é que ele nunca desiste de você”, diz-se sobre Woody, enaltecendo e confirmando a amizade e o carinho (homenagem e agradecimento). Aguarde até o final dos créditos, há pequenos futuros dos personagens. A peça “Romeu e Julieta”. “Na próxima, encenamos Cats”. Concluindo, “Toy Story 3” é um filme que possui todos os elementos existenciais da alma humana. É incrível. O espectador sofre, chora, ri, realiza um balanço de sua vida, pensa no passado e traça o futuro, de forma leve e contundente. Excelente. Vale muito a pena assistir. Recomendo a visualização crescente. Do primeiro ao último. Assim, encontra-se complementação linear. Indicado aos Oscar 2011 na categoria de Melhor Filme.
A Pixar Animation Studios é uma empresa de animação por computação gráfica (pertencente a The Walt Disney Company), localizada em Emeryville, Califórnia. Desenvolveu o software de renderização padrão da indústria, o RenderMan, usado para geração de imagens de realismo fotográfico de alta qualidade. Os softwares trabalham em um modo de baixa resolução para poder mostrar uma visão prévia do resultado. Quando o projeto está concluído, ou em qualquer momento que se queira fazer uma aferição de qual será o resultado final, faz-se a “renderização” (converter uma série de símbolos gráficos num arquivo visual) do trabalho. É necessário, entre outras coisas, definir um tipo de textura para os objetos existentes, sua cor, transparência e reflexão, localizar um ou mais pontos de iluminação e um ponto de vista sob o qual os objetos serão visualizados. Ao renderizar, o programa calcula a perspectiva do plano, as sombras e a luz dos objetos. A companhia foi comprada por Steve Jobs (co-fundador da Apple Inc.) por US$10 milhões. A Pixar cuidava de todos os aspectos de produção enquanto a Disney cuida de todos os aspectos da distribuição. Em 1995, depois do lançamento de “Toy Story”, ambas as companhias assinaram um contrato de 10 anos ou 5 filmes na qual as duas companhias dividem os custos de produção e lucros. Desde 2006, as empresas fundiram-se, tendo Steve como o maior acionista individual.
“Tudo é projetado, modelado, construído, filmado, como qualquer outro filme, só que, aqui, é virtualmente. Usamos as mesmas ferramentas, mas no computador. Então, arrumamos a locação, recebemos os atores, eles atuam”, diz a produtora Darla K. Anderson, que complementa “Tivemos muitas emoções, é muito pessoal para nós. Há oito anos, ninguém sabia se “Toy Story” daria certo ou que daria início a um segmento. A Pixar não existiria sem o filme. Quando começamos, devia haver umas 50 pessoas. Agora, tem 1,2 mil, no mínimo”. A animação marcou uma nova fase por transformar o roteiro tradicional dos filmes da Disney. Antes, a pureza e a fantasia prevaleciam. Hoje, os diálogos – e ações – perspicazes, de cotidiano e com quebra da carga sentimental de efeito ganharam espaço, chegando mais próximo à linguagem realista, humanizando personagens e convertendo simbolismos em imagens. Chamava atenção também o uso de marcas licenciadas de brinquedos, especialmente clássicos dos anos 80 como o Cabeça de Batata, Army Men, Traço Mágico e até a Barbie. As referências ao mundo pop e contemporâneo não ficaram de fora. Há de “2001 – uma odisséia no espaço” (de Stanley Kubrick) a “Guerra nas estrelas”. É conhecido por ser o primeiro longa metragem dos estúdios Pixar e também o primeiro da história totalmente feito por computação gráfica.