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Sob Total Controle

Podem aproveitar a Disney

Por Vitor Velloso

Durante o Festival É Tudo Verdade 2021

Sob Total Controle

“Sob Total Controle” de Alex Gibney, Ophelia Harutyunyan e Suzanne Hillinger é um projeto que deve ser incorporado nas salas de aula futuramente por conta de um didatismo em torno da incompetência de Donald Trump no trato da Covid-19. Temos um certo espelho latino-americano, ocupando a cadeira de El Dorado, que segue as mesmas tendências negacionistas do norte. 

O filme possui uma quantidade de material de arquivo invejável e costura isso tudo como um especial televisivo. Porém, assume uma certa posição diante da caquistrocracia norte-americana, faz duras críticas ao processo xenofóbico e negacionista promovido pelo governo estadunidense. Essa articulação é feita a partir da montagem, que organiza os depoimentos, os materiais de arquivo e dispositivos, dando o caráter desse olhar crítico diante da realidade norte-americana. Contudo, o longa não insiste em um diagnóstico que compreenda as escolhas e negligências de Donald Trump como uma característica particular do neoliberalismo. Não à toa, a denúncia fica apenas no campo da exposição e passa por um processo de envelhecimento precoce, já que o novo governo (igualmente neoliberal) está em vigor e outras medidas foram adotadas contra a pandemia. 

Entre o processo de um genocídio em massa e as tentativas alucinadas de manter-se relevante mundialmente, a dupla dinâmica de fantoches do mercado financeiro, El Dorado e EUA mantiveram uma luta incessante contra a China e conseguiram um extermínio generalizado de suas populações. Porém, o foco de “Sob Total Controle”, como o próprio nome denuncia, está nos movimentos (e falta de) de Trump para conter o avanço da Covid-19 em solo estadunidense. Os brasileiros irão enxergar algumas semelhanças na maneira como as coisas foram conduzidas, mas o recorte que o documentário consegue fazer a partir de seu material é realmente impressionante. É um grande compilado das pataquadas múltiplas, com e-mails, depoimentos de pessoas internas e uma previsão mais óbvia dos deslizes que iriam ser cometidos futuramente. Quando a preocupação é o número de fiéis e não a eficácia do governo, a escolha é sempre a bolsa, nunca a vida. 

A lógica de sua “estratégia” foi permitir que a crise econômica mundial piorasse, as classes menos favorecidas se virassem e as mais abastadas fossem recompensadas por conseguir se isolar com maior facilidade. Neste caminho, o filme engatilha não apenas uma derrocada do governo diante da crise absoluta, como expõe uma perversidade explícita atrelada ao capitalismo. Até mesmo o modus operandi na ordem discursiva de Trump é um alvo aberto e fácil para o projeto, que alinha sua fala de “Até agora não perdemos ninguém para o coronavírus nos EUA”, ao discurso no dia seguinte que anuncia a primeira morte. Daí para frente, todos sabemos o que aconteceu, a crise se tornou incontrolável e o “país da liberdade e o centro do capitalismo mundial” se tornou o número 1 em casos e mortes. O Brasil e sua dependência histórica, quis seguir o mesmo caminho e tentou acompanhar de perto o barato fatal. 

O terrorismo negacionista que o presidente implementou com sua equipe foi tão eficiente que um de seus funcionários convida famílias a não mudarem seus planos e irem para a Disney. O momento é um retrato infalível na lógica do capital norte-americano e seu funcionamento em “constante progresso” mesmo que um vírus presente em solo nacional esteja matando milhões de pessoas ao redor do mundo. E “Sob Total Controle” conseguem expressar bem como essa caquistocracia conseguiu assassinar outros milhões por uma política que nega a fatalidade do vírus, sua existência e é tão mal caráter que culpabiliza seus erros em outras nações, como a China. Os fiéis, infantis e incapazes de encontrar erros em suas deidades seguem à risca as “balas de prata” contra a Covid e passam a agredir sistematicamente qualquer medida de segurança, fomentando a narrativa que o vírus é uma farsa. 

Uma reportagem televisiva que consegue fazer a denúncia de maneira didática e explicar o que aconteceu e como, mas que torna-se rapidamente datada. “Sob Total Controle” é um filme necessário, não há como negar, contudo a forma pode acabar causando um cansaço profundo por sua linguagem reprodutiva.

O fim dessa história toda que o Trump causou, nós conhecemos bem. Ele sai da cadeira berrando palavras golpistas, cria um estardalhaço, pede a invasão de seus fiéis e sai de cara amarrada. “Como um bom menino mimado fortalece o capital e sua imagem diante da nação de zumbis.”

3 Nota do Crítico 5 1

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