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Rio em Chamas

O gigante acordou?

Por Vitor Velloso

Rio em Chamas

Pensar uma determinada ambientação política a partir de sua ação imediata e presente, é sempre uma problemática temporal, não porque sua validação requer tempo, mas sim um distanciamento momentâneo para que haja uma reflexão mais ampla da verdadeira situação que está ocorrendo.

“Rio em Chamas” é um projeto coletivo com direção de Cavi Borges, Daniel Caetano, Vinicius Reis, Clara Linhart, André Sampaio, Eduardo Souza Lima, Diego Felipe Souza e Luiz Claudio Lima, que une o trabalho desses diretores em torno das manifestações de 2013. A proposta plural gera aquela velha disparidade em torno de alguns momentos, pois a alta quantidade de olhares promove uma mudança ímpar durante a construção geral. Aqui não há blocos de direção, mas sim uma montagem que dá conta de tudo, aglomerando os pontos em torno de um projeto que se divide em ficção, documentário e “experimental”.

Esse turbilhão de informações se organiza de maneira menos caótica que parece, a construção compreende os acontecimentos em ordem social e se distanciam de uma possível sobreposição. A problemática nasce de uma flexibilização excessiva do projeto, em meio à depoimentos e imagens de arquivo, vemos uma narrativa curta ficcional se desenhar, onde amigos conversam sobre o movimento e vão às ruas. Toda essa situação acaba burocratizando o processo de informação, agiliza o ritmo mas acaba tendo influência direta na discussão que se dá. Dentro desse espectro, cápsulas que adicionam imagens de guerra aos sons da manifestação, parece comprar a ideia de que se vive um estado de conflito, quando na verdade, o próprio filme esclarece que é um massacre, não um embate.

Essa comparação direta com a guerra, traz à tona uma visibilidade pouco ampla do que de fato ocorreu naquele momento. Já que o problema central, colocado pelo próprio longa, é a descentralização do movimento, como podemos comparar o mesmo à um Estado? Ora, uma imagem não é detida de contexto e carga Histórica, se fosse, esse filme não faria mais sentido em 2020, mas faz.

É claro que grande parte da discussão de “Rio em Chamas” se enveredou para outro lado, o que se tem hoje é o reflexo daquele movimento, o que ele causou. E nesse sentido outra vertente que acaba fragilizando, com o perdão da palavra, a obra, é o trecho “experimental”. As aspas são por conta da manipulação pouco direta ou formal do próprio material, que acaba utilizando-se das imagens gravadas para um livre reimaginação estética daquele momento. O que acaba sendo parte do discurso que o filme ataca, já que trata-se de uma apropriação do discurso para fins diversos. Ainda que em âmbitos distintos, não opostos, a utilização daquelas gravações para uma individualização quase egocêntrica, pende para a banalização da própria política que se implementa.

Pois se há a vulgarização da factualidade daquele registro, em prol de uma manipulação pura e simplesmente plástica, o que o filme vêm a dizer então?

“Rio em Chamas” possui interesse, onde fragmenta parte da discussão à olhares isolados daquele espaço, a história de Fernandão é um exemplo disso. A trajetória ali criada, não relativiza a proposta, só acrescenta. Pois detém a marginalidade de uma situação ignorada pela mídia, abre o foco para fora da Zona Sul e amplia esse olhar para o resto do Rio de Janeiro. O que não ocorre em todos os outros segmentos, que centraliza suas tomadas no eixo burguês do Rio. Ainda que os poetas reconheçam o tom cômico que há discutir a situação política do Brasil e da poesia carioca em plena praia de Copacabana, não deixa de incomodar que a proposta feita seja incorporar determinados ícones a uma historicismo do início do século.

Dom Negrone e Black Alien não estão fora dos livros de História, eles são a capa e contracapa em tom político mais imediato possível. Tentar relacionar os dois a esta categorização burocrática, é tentar transformar aquilo em um fenômeno, quando na verdade está para além disso.

“Rio em Chamas” acaba patinando em diversos momentos e centraliza a discussão no eixo clássico da Zona Sul e Centro do Rio, mas consegue momentos interessantes e desafiadores em meio a polarização vivida naquele momento e consegue refletir um panorama relativamente diferente para os tempos atuais, ainda que não reconheça em um primeiro momento, o que estava por vir.

2 Nota do Crítico 5 1

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