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Rambo II: A Missão

Dispensando a Lógica

Por Jorge Cruz

Rambo II: A Missão

O segundo filme da franquia, “Rambo II: A Missão”, precisava pautar as atitudes do seu protagonista baseada em uma demanda por ser construída. Sendo assim, o que Sylvester Stallone fez foi angariar para seu prestigioso projeto um rapaz de trinta anos chamado James Cameron, que em 1985 curtia o sucesso de “O Exterminador do Futuro (1984), por ele dirigido e roteirizado, para cumprir novamente essa dupla função em “Aliens, o Resgate” (1986).

A partir da proposta de manter John Rambo como herói reativo, uma nova perseguição infundada a sua pessoa seria uma premissa inaceitável. Sendo assim, o roteiro nos coloca no período posterior à captura do personagem, que recebe uma proposta de indulto desde que volte ao Vietnã para uma missão de resgate. Ele deverá ajudar na busca por soldados norte-americanos mantidos reféns pelos nativos mesmo após o término da guerra. Muitas incongruências são identificáveis na franquia, a primeira delas nos primeiros minutos de “Rambo II: A Missão”, quando levam um veterano de guerra, preso por não conseguir controlar seus traumas e movido pela violência, a um local de conflito, apenas para tirar algumas fotos.

Há uma segunda forçada de barra do roteiro, ao elevar Murdock (Charles Napier) ao posto de protagonista com a inverossímil decisão de abandonar Rambo na selva quando bastava descer o helicóptero por alguns metros e levá-lo com segurança para casa. Se por um lado isso tornou esse personagem ao mais icônico vilão da franquia, por outro não se baseia em algo que faça algum sentido, gerando um incômodo que poderia ser melhor trabalhado. Na formação da persona de Rambo, esse momento é fundamental, já que a partir dali sua existência como “exército de um homem só” deixa de ser uma escolha e passa a ser uma obrigatoriedade. Uma configuração de protagonista que pautaria os longa-metragens de ação por um bom tempo.

A estrutura dessa obra se assemelha a um episódio de qualquer seriado de ação popular da época. No mesmo ano em que “Rambo II: A Missão” arrecadaria 300 milhões de dólares nas bilheterias ao redor do globo, ia ao ar o primeiro episódio de “MacGyver” (1985-1992), enquanto que uma das maiores audiências da TV dos Estados Unidos era “Magnum” (1980-1988). Essas influência fica clara na direção de George P. Cosmatos, diretor de poucos trabalhos no cinema, dentre eles o filme seguinte de Sly, “Stallone: Cobra” (1986).

O italiano ganhou destaque na década anterior ao dirigir dois filmes recheados de astros da época: “A Travessia de Cassandra” e “Fuga para Athena”. A maneira como ele ambienta o espectador o aproxima mais da ação do que o longa original, mas bem coerente com sua forma de dirigir em comparação aos filmes anteriores. Já a trilha de Jerry Goldsmith é bem menos inspirada, quase genérica. Na produção seguinte ele se valeria muito mais do material original, o que ampliaria o alcance do tema de Rambo, hoje de fácil reconhecimento.

Na construção psicológica de Rambo, a maturidade conquistada na prisão não tira de sua mente o ideal do desrespeito pela hierarquia. Em nenhum momento o protagonista parece, de fato, disposto a cumprir o que lhe foi delegado. Uma maneira de abordá-lo que não se repetirá ao longo da franquia, tornando essa obra a única que mantém diálogo forte com o material de origem. Por outro lado, somente ela dinamiza o início do arco de sua trama a partir de diálogos constrangedoramente bregas, com frases como “para mim, a mente é a melhor arma” e “o que você chama de inferno, ele chama de casa”. Sem contar a personagem feminina, Co (Julia Nickson), que se apresenta apenas para criar um vínculo sentimental frágil com Rambo, em duas cenas desconexas e dispensáveis. Erros que não se repetiriam nas produções posteriores. Não por isso, o roteiro de Cameron e Stallone ganhou o Razzie Awards de pior roteiro do ano (se somando aos prêmio de pior filme, ator e canção). A Academia reconheceu o bom trabalho de Fred J. Brwon e o indicou ao Oscar de melhores efeitos sonoros.

Há ainda uma constante ambientação de cenas à noite, o que aumenta o desafio tanto da produção quanto da pós. “Rambo II: A Missão” se sai muito bem nesse quesito, com movimentos de câmera em que Cosmatos claramente induz a uma montagem naturalista – já que foram cinco os montadores do longa-metragem de pouco mais de noventa minutos, uma anarquia total na pós-produção. As sequências são muito mais explosivas, com todo o tiro, porrada e bomba que um orçamento bem mais gordo permitiu. Contrariando até as decisões do Exército dos Estados Unidos na figura de Murdock, Stallone nos presenteia com uma carnificina apoteótica ao final, que seria igualada apenas no lançamento mais recente.

Enquanto “Rambo: Programado para Matar” custou 15 milhões de dólares, sua sequência custou 44. Rendeu 150 no país de origem e mais 150 no mercado internacional, perdendo o posto de maior bilheteria daquele ano apenas para “De Volta para o Futuro”. Acabou sendo um bom trabalho de consolidação da franquia junto ao seu público-alvo. Comete erros que se repetirão em outros filmes do gênero, mas nunca mais nessa franquia – que passaria a ter outros tropeços, bem piores que esses.

 

3 Nota do Crítico 5 1

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