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Planeta dos Macacos: O Reinado

Risco para evolução

Por Vitor Velloso

Planeta dos Macacos: O Reinado

“Planeta dos Macacos” (1968), de Franklin Schaffner, é um clássico inquestionável da história de Hollywood que permite uma série de interpretações e versões novas para a sua narrativa. Em 2001, a tentativa frustrada de colocar nas mãos de Tim Burton a responsabilidade de um remake frustrou os fãs da obra original por apresentar uma proposta genérica, esteticamente desagradável e discussões superficiais. Já em 2011, uma nova tentativa de retomar a história do clássico, agora com a direção de Rupert Wyatt, se mostrou mais consciente dos debates presentes na contemporaneidade e abriu as portas para o ressurgimento da franquia, especialmente após a boa recepção do público. Após o sucesso do filme, a franquia contou com Matt Reeves nas sequências de 2014 e 2017, “Planeta dos Macacos: O Confronto” e “Planeta dos Macacos: A Guerra”, respectivamente. Agora, em “Planeta dos Macacos: O Reinado”, de Wes Ball (diretor dos filmes da franquia “Maze Runner”), a franquia volta a decair, acreditando em um caráter simplório das discussões e em clichês pouco efetivos.

Um dos maiores problemas aqui parece ser o referencial da obra anterior, que se debruçou em uma esquemática dramática à la “The Last of Us”, com uma base de relação paterna, criando estranhamentos por uma relação que não soa natural desde o princípio e que compreende a diferença como o ponto de fixação dos personagens, recriando conflitos presentes nos outros filmes, desde as reflexões acerca dos limites criados pelas espécies até a possibilidade de confiança em uma situação limítrofe. Aqui, todo esse debate é simplificado para uma lógica de realizar uma apresentação direta de uma das personagens, Nova, interpretada por Freya Allan, e sua relação com Noa, interpretado por Owen Teague, seus conflitos e toda a contradição por trás de uma suposta “tradição”, com as tomadas de decisão de Noa, ainda imaturo, inexperiente e sensível às transformações que atravessa. É tudo muito direto e imediato, ainda que haja alguma dificuldade em encontrar ritmo na primeira metade, pois o filme parece perder seu sentido de progressão, tentando tatear entre a multiplicidade de temáticas abordadas, enquanto dinamiza o entretenimento com cenas de ação e a perseguição de um grupo a outro.

Planeta dos Macacos: O Reinado” possui momentos em que consegue fazer sua breve reflexão sobre o novo status do mundo representado, a partir da perspectiva de novos líderes, após os acontecimentos de “A Guerra” (2017), mas nunca encontra a densidade necessária para superar o fantasma de César na franquia e nos personagens. Assim, acaba refletindo sobre outras relações epistemológicas e bases mitológicas que são atravessadas através de registros e da oralidade, ampliando mais as bases “culturais” estabelecidas na região, mas organizando esse complexo jogo de forma quase aleatória ao longo da projeção. Não por acaso, uma das saídas é referenciar o filme clássico com uma determinada paisagem ou plano, reverenciar a discussão presente nos filmes de Reeves sobre a presença dos humanos neste cenário e acrescentar a “caixa de Pandora” que poderia solucionar os problemas enfrentados pelo grupo, na chave do “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Porém, é particularmente frustrante encontrar esse nível de discussão e organização de ideias após a interessante representação de conflitos morais e éticos oferecidos em “O Confronto” e “A Guerra”, especialmente pelos personagens Dreyfus (Gary Oldman) e Coronel (Woody Harrelson), que intensificavam todas as discussões em pauta, retirando a antiga dualidade herói x vilão, retomada de forma bilateral e simplória no novo filme.

Planeta dos Macacos: O Reinado” é um passo atrás de uma franquia que vinha de um belo desfecho e teve de ser reaberta para ajudar a indústria a reativar velhas formas de fechar o ano mais próximo de um balanço positivo. A escolha de Wes Ball como o diretor que vai encabeçar o projeto daqui para frente pode até ser compreendida como uma aposta, já que seu trabalho em “Maze Runner” demonstrou progresso e maturidade de um filme para o outro. Contudo, o fã da franquia Planeta dos Macacos terá de ver se essa melhor progressão do cineasta na outra série de filmes será repetida aqui, pois o primeiro deixa a desejar em pontos cruciais e é desprovido de constância, além de tocar em pautas políticas contemporâneas espinhosas e escolher algumas saídas verdadeiramente questionáveis.

2 Nota do Crítico 5 1

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