Mostra Um Curta Por Dia Marco mes 9

O Mistério de Frankenstein

O depósito segue em dependência

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

O Mistério de Frankenstein

“Deixai toda esperança ó vós que entrais”. Esta deveria ser a abertura de “O Mistério de Frankenstein” de Costas Zapas, uma obra que desde sua primeira cena avisa o espectador que está por vir, tenta expulsar, e consegue. Louvado quem conseguir se aventurar até o fim aqui. A passagem tá paga.

Não apenas porque a estética amarelada é construída como se estivéssemos nos bares de rock da zona sul carioca e os atores parecem anêmicos. Ou mesmo porque os cortes parecem saídos do Ensino Médio. O negócio é que tudo isso é acompanhado por interpretações vergonhosas, uma narrativa mal estruturada, uma tentativa de terror que não consegue ser minimamente funcional, uma decupagem assustadoramente frágil, estilizações sem propósito algum, traçados que surgem na tela, uma fotografia que acredita estar dando um tom épico para o retrato histórico e só cansam os olhos. Absolutamente nada funciona em “O Mistério de Frankenstein”, cada trecho do longa busca algum clichê industrial para transformar em protótipo B.

E sim, é trash. Mas não consegue articular uma falta de recursos para que torne-se criativo, pelo contrário, se utiliza de todos os arquétipos possíveis para tentar algo a partir daí. Mas os clichês estão longe de destruírem a obra. A linguagem é de um amadorismo singular, sem concessões para interpretações de vulgarização estética e outras pedaladas intelectuais reacionárias que possam ser utilizadas. Essa pataquada se encerra quando o filme de Zapas não assume qualquer particularidade em seu processo, apenas reprisa todo um imaginário que envolve as obras de Frankenstein e faz seu próprio, com colagens de todos os tipos e tentativas de estetizações que só atravessam o campo experimental na mais inócua interpretação que pode ser feita.

As burocracias formais enfrentadas aqui, estão munidas dos reacionarismo da máquina de xerox, tentando encontrar forças em guloseimas de “arthouse”. Só que essa transa nada funcional apenas torna  barato quase inassistível. Em verdade, só houve permanência diante da tela pelo oficio da escrita, do contrário, estou junto a Jairo Ferreira: “Já perdi meu tempo não vou perder meu dinheiro”. E esse é a tônica que vêm norteando o streaming brasileiro de dogmas conservadores. Não há para onde fugir, enquanto existir espaço para exibições de obras institucionais, reacionárias, tacanhas e amadoras como as últimas do mercado nacional, haverá uma queda brusca na qualidade.

Reflexo de uma política que busca aproximações com a burguesia cinematográfica, o Brasil segue patinando nas plataformas de streaming por não compreender os caminhos para se solidificar economicamente. Fazer a concessão para que “O Mistério de Frankenstein” receba palco de projeção é estar alinhando-se ao interesse do descarte internacional. Está certo que o mês de Janeiro e Fevereiro são conhecidos por suas qualidades duvidosas, mas 2021 está vindo com peso e já apresenta um forte candidato aos piores do ano.

Há pouco que ser dito sobre uma experiência tão marcada pela falta de brio e criatividade, mas sem dúvida o aprendizado aqui fica por conta “de como não fazer”. A encenação parece estar atrelada aos estudantes de ensino médio que decidem pegar uma câmera e realizar um longa sobre a obra cadavérica. Se ao menos houvesse uma verve passional, poderíamos desfrutar de transgressões à lá Zé do Caixão, mas tudo se encontra no campo infértil de referências vazias que se amontoam em atravessamentos culturais.

Sem conseguir um mínimo de entretenimento em todo seu tempo de tela, “O Mistério de Frankenstein” encaminha uma das obras mais difíceis (disponíveis) de se assistir até os créditos finais, pela absoluta incompetência. Caso o espectador decida manter-se após a cena inicial, será presenteado com o ônus de sua decisão. Porém, acredito em um grande número de desistências após a aparição de uma criatura advinda de uma tosqueira artística.

O blá blá blá se encerra entre a trupe de teatro e o Victor Frankenstein mais bisonho que o cinema já viu. Uma boa sorte aos que decidirem passar do portão, apenas entendam aquilo que diz o que guarda os sete caminhos. Uma boa sorte aos que se juntarão a Virgílio.

1 Nota do Crítico 5 1

Conteúdo Adicional

Banner Vertentes Anuncio

Deixe uma resposta