Mostra Um Curta Por Dia - Repescagem 2025 - Julho

Jovens Amantes

A trupe dos tolos sem direção

Por Fabricio Duque

Assistido presencialmente no Festival de Cannes 2022

Jovens Amantes

Antes de tudo, é preciso entrar no óbvio e no fato de que toda a experiência sentida em um filme é totalmente subjetiva. Cada espectador assistirá de uma maneira, com um olhar particular, trazendo referências-espelhos da própria vida. Dito isso, esse preâmbulo não é para me redimir de nada, mas para talvez ser fofo neste início prévio de analisar “Jovens Amantes”, filme dirigido Valeria Bruni Tedeschi, que foi exibido na mostra competitiva a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2022, porque esta é uma daquelas obras que despertam na audiência, no meu caso, um constrangimento por causa de suas conduções narrativas. Pois é, talvez a minha “implicância” com os filmes desta diretora exista nas próprias características apresentadas.

Valeria Bruni Tedeschi parece fazer um cinema propositalmente amador, sem sutilezas, sem insinuações e sem sugestões a conclusões abertas. Tudo precisa ser mais direto, e mais visualmente didático, num misto de afobação e ansiedade, dos arquétipos comportamentais de nossa sociedade “comunidade” coletiva. Aqui em “Jovens Amantes”, há uma construção de uma deia da realidade, cuja coloquialidade reside no pragmatismo teatral do ser e não na forma mais “método”, humanizada, empática e sensível do sentir. Ainda que traga, constantemente, um que de metalinguagem, de trabalhar a interpretação da interpretação no teatro (de um filme de dentro), almejando, utopicamente, uma aura mais de Nouvelle Vague francesa, dos tempos pretéritos, Valeria prefere ficar na facilidade da tradução de caricaturas tipificadas, agarrando-se no conforto de uma criação mais popularmente aceita e sem riscos.

“Jovens Amantes” quer a narrativa do constrangimento, de se conduzir pelas imperfeições limitadoras das idiossincrasias imutáveis de suas personagens. Ainda que soe mais realista em seu começo, o filme busca mesmo repetir os clichês (internalizados pelo público) desses comportamentos humanos: o chato, a exibicionista, o tom mais sexual, a zombaria dos “jurados” em um teste de elenco, chamada de “prostituta”, que só quer mostrar que é uma atriz boa a uma “audiência respeitável”. A possível “salvação”, o realismo de seu início, dá lugar a um mergulho para o fundo da terra: exageros forçados nas reações com tentativas de alívios cômicos, num que de pastiche mais sério. É como uma criança brincando de ser adulto. Não consegue. Falta maturidade e bagagem vivente.

E assim, pela “soltura” livre e sem sentido de imagens mais granuladas, de câmeras próximas e “escondidas”, que observam e contemplam, entre o foco e desfoque, “Jovens Amantes” é quase um estético exercício de linguagem de um estudante de cinema em seu primeiro ano de curso que quer impressionar seu professor e seus colegas. Mas que soa vazio e que encontra a euforia pelo nome na porta, num misto de emoções desmedidas, que precisam ser lapidadas com consciência e verdade. Esses novos atores precisam tirar os condicionamentos enraizados e se entregar. Deixar de pensar na ideia de ser um ator e incorporar o genuíno se entregar com o “já sou a personagem”.

“Jovens Amantes” é sobre esses primeiros impulsos. Sobre vivenciar as primeiras emoções reais e afloradas na hora de interpretar. É sobre sentir o movimento. Uns optam pelo blasé. Um que de Marlon Brando, especialmente em “Um Bonde Chamado Desejo”. “O que importa é o processo e não a hora do show”, diz-se, “evocando” um tom mais coach. Sim, nós espectadores entendemos tudo isso e Valeria tinha tudo na mão para fazer uma obra de arte à moda de John Cassavetes e de um Jean-Luc Godard. Mas infelizmente a realizadora prefere permanecer no desenvolvimento mais infantil da narrativa, num humor tolo e de ingenuidade consciente e imprudente, de escolha à apatia criativa.

Nem é tiro no pé mais, visto que Valeria “bagunçou” o próprio filme bem antes. Não só perde ritmo, como desnorteia o público com a atmosfera sempre fora de tom. Tudo fica ainda mais solto, desconexo, perdido e sem direção, especialmente por aumentar o grau sentimental e potencializar os clichês de referências óbvias. Podemos até dizer que é um filme de gags. Nem mesmo o ator Louis Garrel, extremamente afetado em suas “expressões de ator atormentado”, com caras e bocas, consegue nos “salvar”. Sem paixão e sem vida. A quebra da quarta parede então é sim o tiro de misericórdia. É jogar a última pá de terra. É a sensação de que enterramos “Jovens Amantes” para sempre, como uma “explosão de Chernobyl”. Por último, nada disso incomoda tanto como o fato de Valeria realmente ter crença total de sabe fazer cinema, ainda que este filme seja inspirado livremente na juventude da própria cineasta. Talvez isso explique sua falta de distanciamento dos eventos abordados.

1 Nota do Crítico 5 1

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