Incógnita X
A incógnita que se faz
Por Vitor Velloso
Dentro da militância resistência brasileira, existe um espectro de diretório do discurso, um eterno debate de como determinadas questões são passadas as pessoas. Seja de maneira direta, através do humor ou com parábolas infinitas que buscam um determinismo subjetivo da atual situação do país. O que a maioria possui em comum é a gangrena de pautar todas as questões em reverberações pragmáticas que apenas buscam apontar o dedo sem solucionar uma problemática. Ao assumir que a resolução deve ser dada pela política e não pelo cinema, no caso em questão, assume-se que o mesmo não possui potência suficiente para debater pauta qualquer.
Se o cineasta pode ser filósofo, antropólogo ou apenas….cineasta. Parte dessa militância de resistência optou pelo desmembramento dos neurônios da necropolítica.
“Incógnita X” é dirigido por Vitor Damasceno e Leandro Franz e toca em pontos contemporâneos da política nacional e toda sua necro aproximação apocalíptica com determinados assombros do passado. Alcança o lugar comum, o 0 absoluto, partindo do ponto “nada”. Concretiza um humor merecedor de esquete do “A Praça é Nossa”. Tal como o projeto, está decidido que haverá uma brutal tentativa de apagar as janelas do espectador em projeção pseudo científica humorística canhestra de brutalidade rara e interpretações que se diferenciam do cinema industrial tupiniquim.
Segue em anexo comentários ao brevíssimo texto sobre a experiência kinematográfica de “Incógnita X”:
– Fulano que fura a quarentena para beber pinga no bar: Pô, vi o filme aê, achei engraçado, não entendi nada não, fica colocando uns nomes científicos nos caras, uns diálogos rápidos que acho que tinham haver com a Dilma né? Mas assim, eu gosto do cara lá que bota a arma descarregada na cabeça do cara, achei maneiro aquilo.
– Fã de filmes de terror: Eu achei muito f**** quando o pânico aparece falando de terror, uma baita metalinguagem com o resto do longa. E assim, mostra que de fato vivemos um governo de puro medo, saca?
– (ligação via skype) Brizola: Não entendi bem a proposta do filme em si. Está claro que há uma tentativa de debate com relação ao impeachment de Dilma, mas trancafiar toda a discussão em piadinhas de gatilho rápido e de um humor conservador, não funciona não. Passei grande parte da projeção tentando entender onde estava a resolução daquela questão toda, mas no fim, descobri que era uma coisa de apontar o dedo e gritar patavinas. Achei retrógrado.
– Crítico de Cinema morador de Ipanema: Achei interessante como ele articula a questão temporais e espaciais com uma perspectiva estóica. Porque no fim existe uma projeção que remete Walter Benjamin, já que reflete em looping a necropolítica brasileira. No fim, acaba tendo um pequeno problema de ritmo e em interpretações isoladas, mas acho importante, em um momento como este, debater sobre a situação do país e demonstrar que é possível realizar com tão pouco.
– (video chamada por Telegram) Jairo Ferreira: Rebimboca da parafuseta cinematográfica. Tô com o Brizola, entendi patavinas. Mas as atuações são divertidas, dá pra ver como o processo foi orgânico. Mas esse negócio de ficar botando dedo na ferida e não chegar a lugar nenhum? Pô, já deu né? Discurso derrotista da p****. Por conta desse hipotenusa aí, tô começando a achar que a produção que critica o imperialismo e o capitalismo contemporâneo, tá entrando num processo de gangrena grave. Cê viu o último filme do Straub? Lá dos robôs na França? Que que é aquilo, coisa chata e arrastada, fala nada com nada. Sei lá, tem nego que aplaude né, achando a questão cíclica super inteligente, mas o discurso tem pra lá de setenta anos, Straub tá ficando senil…. (a internet caiu, pois ele conversava enquanto reassistia a obra do Mojica no Spcine play).
Depois desse amplo debate com diversas personalidades, fica claro que “Incógnita X” não atinge sua proposta. Pois acaba sendo incompreensível por possuir atuações que não conseguem suprir com as necessidades do longa. Ainda que esteja dotado de boas intenções, acaba se trancafiando no velho discurso burocrático de exposição problemática, utilizando como fonte primária, o humor. Sendo falho em fazer graça, falho em ser reflexivo a partir da situação política e tóxico em uma verve de discurso, “Incógnita X” acaba caindo em todas as armadilhas possíveis e transmite o rigor da epistemologia de seu título.