Curta Paranagua 2024

Holiday

Inocuidade entre terços

Por Vitor Velloso

Reserva Imovision

Holiday

“Holiday” de Isabella Eklöf é um daqueles filmes que chega ao mercado brasileiro para o agrado dos longas mais estilizados. Uma espécie de “Grave” (2016) com “Demônio de Neon” (2016) com a falta de argamassa que todos os projetos sofrem. O longa investe em uma estrutura que vai ganhando corpo aos poucos, para catalisar uma violência já exposta no pôster até o fim da projeção, mas a falta de interesse com a progressão surge por uma repetição de violências que nunca compreendem uma verdadeira resolução dramática. Ou seja, todo esse “estilo” e “beleza” são pautadas em questões inócuas de pouco impacto e que se dissolvem facilmente ao fim da própria cena.

Não por acaso, o arco dramático que norteia a obra, a partir da protagonista, está em deslocamento com suas dependências de outros personagens, é um não-pertencimento constante que sempre termina em sua objetificação. Para isso, a narrativa vai atrás de um “descobrimento” particular, que jamais se concretiza, pois está sempre achatado nessa fórmula estilística de comercial de perfume caro. Nessa proposição do dispositivo imagético que norteia os acontecimentos, o filme pouco faz o espectador se importar com seus personagens, apenas a inocuidade dos grilhões industriais que fomentam as produções de imagens “belas”. “Holiday” não sustenta nem a própria ideia de idealização da protagonista nesse mundo de objetificação, pois está constantemente provocando o espectador em situações limítrofes onde a própria moral da obra é colocada em cheque. Não à toa sua aproximação com “Demônio de Neon” é latente e passiva. Alinha a forma à falta de versatilidade na compreensão dramática para criar um pseudo-panorama do vazio constante, tornando-se vítima da própria ideia. 

Isabella Eklöf possui um rigor na cena que demonstra uma consciência muito sólida dos encaminhamentos que procura, mas não consegue consolidar isso fora do conceito esteta que levou os festivais de cinema ao conservadorismo contemporâneo. É parte de uma estrutura de homogeneização que toma conta da tela e mantém os grilhões para uma cadência equalizadora. Por fim, teremos sempre o retorno a resolução pragmática da violência no final de cada sequência, mas com a longitude da preguiça formal. Uma espécie de dispositivo-gatilho catártico que apenas almeja uma recompensa no repouso estóico, entre a inércia e o mecanismo que se mantém interior a protagonista, sem rebelar-se, criticar, formular diagnóstico, nada. É uma exposição da mais inócua, uma espécie de retrato de um estilo de vida explicado ao início da exibição. Na contramão da própria imagem, tudo funciona em uma esquemática programada onde a unidade é encerrada pela própria limitação da tela. É como uma articulação natimorta, reconhecendo que suas fragilidades serão os motores dessa estrutura.  

A ideia da beleza como esse rigor centralizador da concepção, um mito, aqui pré-definido, surge como ato falho na idealização do “sagrado”. Qualquer ligação com dogmatismos, não estará tão distante do que “Holiday” propõe, já que a própria explicitação dessa imagem é dada a partir da opressão, como um pódio/altar, que encontra uma redenção nessa mitologia fragilizada pela moral do espectador/leitor. Por essa razão, a frustração se torna uma constante em um filme que não consegue se desvencilhar de um eixo que fuja a tônica de planos fixos que enquadram a “paisagem” como uma moldura que partilha com a deidade a exímia habilidade do enquadramento, da fotogenia. 

Perseguindo a própria história, o longa que chega ao streaming brasileiro parece acreditar que o público vai criar a matéria do que enquadra, a objetiva segue a fragilidade do roteiro e por mais que seja notório que a diretora possua uma consciência bem definida, nada funciona em “Holiday”. Quando a postura é iconográfica e dialoga com as deidades plásticas sem nenhum diagnóstico moral que fuja da obviedade cristã, o resultado é uma direção que não se desprende dos buracos de um texto pouco criativo que parece andar na mão de tudo que os caracteres industriais podem promover como automação de “premiações diversas”. 

Já dizia a antiga pilha de páginas: Ele não está presente onde o homem edifica.

1 Nota do Crítico 5 1

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