Especial Vertentes sobre o Centenário de Fellini
Tudo sobre a vida e as obras do cineasta italiano mais realisticamente fantasioso de todos os tempos
Por Redação
Federico Fellini nasceu em Rimini, 20 de janeiro de 1920 e faleceu em Roma, 31 de outubro de 1993. Conhecido pelo estilo peculiar que funde fantasia e imagens barrocas, ele é considerado uma das maiores influências e um dos mais admirados diretores do século XX. O cineasta criou a personagem biográfica Guido Anselmi, seu alter-ego.
Hoje, 20 de janeiro de 2020, comemora-se exatos cem anos de nascimento do realizador neo-realista. O número cabalístico também representa a comemoração do dia de São Sebastião, padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro.
Logicamente, a data não poderia passar em branco. Além da exposição na Museu de Arte Moderna (que acontece até 15 de março deste ano) e Retrospectiva de seus filmes no Centro Cultural Banco do Brasil (até início de fevereiro), nosso site, um admirador incondicional de suas obras, também realiza uma homenagem. Um especial de notícias sobre o universo Felliniano e críticas dos filmes.
Nosso especial crítico inicia-se agora às 20h da noite. O leitor-cinéfilo (os verrtenteiros e as vertenteiras) já pode conferir tudo sobre o diretor: perfil, podcasts, eventos e nossas análises de “Amarcord“, “E La Nave La“, “Julieta dos Espíritos“, “Oito e Meio“, “Os Boas Vidas” e “Os Palhaços“, e, até o final de fevereiro, serão produzidas as outras críticas de todos os seus filmes. Época de carnaval, que por sinal, é propícia e altamente casada com a vida livre e fluída de Fellini. Comece agora e curta o barco à fantasia!
PERFIL DIRETOR
O primeiro filme que Fellini dirigiu sozinho foi “Abismo de um sonho” (“Lo sceicco bianco”, 1952). Estrelado por Alberto Sordi. O filme é uma releitura de uma fotonovela – comuns na Itália daquela época – de Michelangelo Antonioni feita em 1949. O produtor Carlo Parlo Ponti pagou a Fellini e Tullio Pinelli para desenvolver a trama, mas achou o material muito perplexo. Assim, o filme foi passado para Alberto Lattuada, que também recusou. Fellini então resolveu pegar o desafio e dirigiu o filme sozinho. Leia o perfil completo AQUI!
PODCASTS
Confira dois podcasts sobre Fellini (do programa Vertentes do Cinema na Rádio Uerj), produzidos em maio em 2015! Parte 1 (número 58): AQUI e Parte 2 (número 59): AQUI
EXPOSIÇÃO CENTENÁRIO FELLINI: O CÉREBRO (E A CAMINHADA) DE GUIDO ANSELMI
(saiba tudo clicando na foto abaixo)
RETROSPECTIVA FELLINI, IL MAESTRO
(saiba tudo clicando na foto abaixo)
CRÍTICAS
Fellini que, como dito adorava a atmosfera circense, se coloca entre o real e a fantasia. Não como um simulacro- o que seria simplificar bastante a obra do autor-, mas como uma das múltiplas possibilidades de realidades paralelas de reconstrução que habitavam sua cabeça. No neorrealismo, ele começou a exercitar esses mundos, mas eles emergem com mais força e de maneira mais vigorosa a partir da década de 60. “AMARCORD” transita entre a comédia e o drama. A cidadela de Amarcord parece um sonho com personagens que falam diretamente ao espectador e atuam de maneira exagerada. Há sempre algum elemento estranho que, no cinema de Fellini, se encaixa perfeitamente. Leia a crítica completa AQUI!
Ao assistirmos “E LA NAVE VA”, é possível nos perguntarmos o motivo de Fellini ter buscado referências na ópera e como esta (des)representação constante seria empregada neste cenário. É o primeiro trabalho de Fellini sem a parceria com Nino Rota, compositor musical de seus trabalhos anteriores, como Abismo de um Sonho (1952) e Ensaio de Orquestra (1979), nos quais a música tinha uma participação importantíssima. Desta forma, o cineasta traz para as telas a temática do funeral, da morte de uma celebridade da música e certo pesar ao longo do filme, em virtude do fatalismo decorrente da necessidade de se desfazer das cinzas da cantora e, com isto, finalizar-se uma participação no mundo. Com o filme, Fellini se despede de seu amigo, desfaz-se de suas cinzas, homenageando-o com referências musicais, apresentações e construções, que se dão, enquanto um navio viaja sobre as águas. E, assim como no filme, o fatalismo e a consciência do destino são características comuns em diversas obras musicais, sendo uma arte advinda do Renascimento, a ópera resgata esta forma de construção das obras do teatro grego do Período Helenístico. Leia a crítica completa AQUI!
“JULIETA DOS ESPÍRITOS“, no entanto, permanece esotérico, misterioso e espiritual até o fim. Até toda essa receita do realismo fantástico entrar em colapso junto com sua personagem, em nome de uma experiência cinematográfica absurda. No melhor nível de um filme que foge das convenções narrativas, propõe algo novo, em cima de um tema comum a muitas mulheres. Assim como o cinema de Fellini procura outros olhares, formas de contar histórias pela experimentação da linguagem, Julieta também responde a esse processo em nome de uma emancipação, ainda não social, não política (mas que não deixa de ser), mas pessoal. A busca de ferramentas para percepções de mundo fora da curva é o que está em jogo em Julieta dos Espíritos. Ao afirmar o tempo todo a capacidade que temos de sonhar e não ignorar a janela que o cinema abre para essa experiência. Leia a crítica completa AQUI!
“OITO E MEIO (8 1/2 de Fellini)” divaga sobre este universo. As limitações da arte gerando as mazelas pessoais, confundindo-se a trama cinematográfica com o filme da própria vida. Uma das principais obras de Fellini, considerada a mais pessoal tanto por seu estilo como por seu tom autobiográfico. O cinema italiano transpassa a característica de que os personagens acostumam-se com o seu próprio ser. Eles resignam-se no que são, vivenciam ao extremo o que são, mas existe a percepção clara do que fazem e de como agem, fazendo desta artimanha uma falsa carência, para que seja suavizado o estado bruto de seus interiores. Os sarcasmos agressivos e as picardias infantis demonstram a defesa de se mostrar um outro sentimento. Sempre ao contrário. “Beba água devagar, vai ficar inchada”, diz-se diretamente, sem rodeios. Leia a crítica completa AQUI!
A narrativa de “OS BOAS VIDAS” busca a naturalidade editada, principalmente por sua narração que apresenta, ambienta e adjetiva, de forma subjetiva e definitiva, pela essência intrínseca, suas personagens da “Companhia” (a união dos amigos que se ajudam em seu trambiques e “transações” afetivas). De nome implícito, “Boas Vidas” é um estilo de vida de jovens adultos “mimados”, cafajestes, covardes (que limitam suas percepções nas fugas deles mesmos), fanfarrões, que se comportam como crianças grandes e fogem de suas responsabilidades e “promessas perdidas”. Assim, o filme consegue traduzir quase de forma antropológica as características dominantes dos italianos que falam alto e são: verborrágicos, enérgicos, agitados, imediatistas, expansivos, verdadeiros, ingênuos, debochados, implicantes, confusos, cúmplices, desesperados, ansiosos, impacientes, intolerantes, “espertinhos”, brincalhões, desengonçados, passionais, ora excessivamente individualistas, ora demasiadamente preocupados com suas famílias e amigos, e sempre zombam uns aos outros e com brutos-rudes cumprimentos sociais, entre picardias aceitáveis e até mesmo esperadas. Leia a crítica completa AQUI!
O longa-metragem apresenta uma camada de metalinguagem interessante. “OS PALHAÇOS” é um filme sobre a gravação de um documentário, intercalando com imagens de circo que se relacionam com o cinema não só de Fellini como da comédia burlesca em um todo. A sensação é similar – embora em escala menor – ao de assistir “O Sanduíche” (2000), curta de Jorge Furtado que extrapola a metalinguagem e a usa como temática do que é ou não real. Em matéria de linguagem cinematográfica, é interessante a maestria do diretor ao perceber seus recortes narrativos. O que mostrar e quando mostrar. Evidente que, através de longas sequências de peças no circo, o diretor deseja re-encenar a experiência que tinha ao frequentar as peças em sua infância. No cinema, entretanto, a recepção imagética é outra. Se tem o poder de recortar a realidade em fragmentos e conduzir o olhar. Então, no meio de uma confusão de palhaços, não estamos somente em uma plateia do circo alternando olhares entre os artistas para vermos se conseguimos identificar o que cada um está fazendo. Fellini faz isso por nós e nos condiciona esses específicos efeitos cômicos dentro do caos. Leia a crítica completa AQUI!
CINECLUBE CLÁSSICOS DO VERTENTES
O Cineclube Clássicos integra as realizações do site Vertentes do Cinema. Os filmes, em película 35mm, serão exibidos toda primeira terça-feira de cada mês, com debate. E tudo de graça, para que possamos conversar e trocar informações sobre a arte cinematográfica. A temporada acontecerá de março à outubro. Na segunda edição, com foco Neo Realismo Italiano, o longa-metragem escolhido foi o “OS BOAS VIDAS – I VITELLONI”, de Federico Fellini. Na mesa do debate: o crítico de cinema Fabricio Duque. Saiba mais AQUI!
HOMENAGEM NELSON HOINEFF COM FELLINI
https://www.youtube.com/watch?v=YCPni_FE7_c&feature=youtu.be
Uma póstuma homenagem musical que NELSON HOINEFF recebeu no lançamento de “Preparativos”, seu último livro. Nós nos encantamos com duas músicas das obras de Fellini, cineasta favorito de Nelson, tocadas pelo Trio Vira Mundo.