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Entrevistamos a diretora Regina Jehá

Entrevistamos a diretora Regina Jehá!

Nosso site entrevistou por email a diretora Regina Jehá, do documentário “Frans Krajcberg: Manifesto”

Por Vitor Velloso

 

VERTENTES DO CINEMA: Como foi tentar construir a forma do documentário a partir das ideias de Krajcberg?

REGINA JEHÁ: Foi um desafio, mas muito instigante. Por um lado, eu tinha a mais bela entrevista concedida por Krajcberg durante toda a sua vida. Na verdade, não foi uma entrevista mas uma longa conversa entre amigos queridos de longa data. Eu deixei que ele falasse o que quisesse, pontuando apenas aqui e ali alguns assuntos que me interessavam abordar no documentário. Como por exemplo quando ele relembra a viagem que realizou em 1978 com Sepp Baendereck e Pierre Restany pelo Alto Rio Negro. Desta viagem os três retornaram transformados por um sentimento que mais tarde a ele se referiam como sendo “o choque amazônico”. Choque diante daquela beleza, daquela riqueza que é a floresta amazônica. Ali nasceu o Manifesto do Rio Negro. Este Manifesto está explicitado no titulo do filme.

Mas temos um segundo Manifesto; o do próprio artista, que soube como ninguém, personificar a sua arte e a sua luta. No artista Frans Krajcberg, vida e obra se interpenetram, tornando-se uma coisa só. O filme se configura como um oroboro, por isso a primeira imagem do meu filme é a da cobra que avança majestosa e sinuosa, sobre a superfície das aguas do Rio Negro, símbolo da vida inesgotável e eterna. Para os antigos druidas, a espiral formada pela serpente que morde o próprio rabo representa a evolução, a dança da morte e a dança da reconstrução.

E este é o meu Manifesto, escrito em forma de som e imagem.

VC: Qual a sua visão acerca da postura que o artista tinha, com o atual momento politico do país?

RJ: Sempre me perguntam isto. Não sei responder. Frans era tão inesperado e inusitado em suas reações, como se pode verificar na sequencia da montagem das suas obras para a 32a Bienal Incerteza Viva.
Às vezes, penso que a sua morte aos 96 anos lhe poupou a extrema revolta diante deste descalabro politico atual.

VC: Durante o processo de produção havia algum tipo de imposição/limitação do artista, com o que poderia ser mostrado no longa?

RJ: Apenas a limitação imposta pela idade avançada do artista e sua saude. Uma vez ele me disse: “Este filme só faz sentido se for pra falar da minha luta”.

VC: O trabalho de material de arquivos é uma das chaves para o longa funcionar, como se deu essa relação com as filmagens? Quantas horas de material tinham?

RJ: Limitados que estávamos quanto a novas filmagens, concentramos nosso esforços em localizar os materiais existentes. Tivemos a ventura de “herdar” as imagens de feitas por Walter Carvalho e dirigidas por Walter Salles. Ainda, tínhamos o filme produzido e dirigido por eles durante a expedição ao Alto Rio Negro. E algumas imagens cedidas por Eric Darmon dirigidas por Maurice Dubrocca. Tivemos ainda a sorte de obter preciosas gravações de João Meirelles Filho, jornalista que gravou encontros com Krajcberg durante 40 anos. João estará lançando em breve um livro compilando todo este trabalho. Ao todo, umas 50 horas de imagens e 13 horas de audio.
Tínhamos um duplo desafio aí: como costurar o filme do ponto de vista da narrativa fílmica; e a questão técnica, como recuperar as imagens e o som danificados pelo tempo, como unifica-las ou não considerando as diferentes tecnologias desenvolvidas neste período- película, VHS, U- Matic, cassete, beta analógica e digital – um verdadeiro compendio da historia do suporte cinema deste período.

VC: Qual a importância da critica cinematográfica para você?

RJ: A critica na sociedade urbano-industrial funciona, para mim, como a intersecção entre o artista e seu publico. Buscar entender e aprofundar melhor a complexidade de pensamento que existe quando o cineasta traduz em imagens e sons os temas que lhe interessam abordar.

A critica mais comum, a externa ao filme, funciona como um espelho para que o critico projete suas ideias e necessidades do momento.

A critica mais interessante é a imanente, que mergulha no discurso da narrativa. de onde sai com vontade de ir atrás do que lhe tocou.

Apreciei muito as questões que você me propôs!
Muito obrigada.

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