Emma.
O mesmo e o mais
Por Vitor Velloso
“Emma.” de Autumn de Wilde é um daqueles filmes que causam preguiça em menos de cinco minutos de projeção e apenas piora o sentimento conforme a narrativa vai progredindo. Tudo é clichê, blasé (para usar uma palavra “eurrôpéia”), inócuo, lento, chatíssimo, mimado e estéril. É uma adaptação que não faz o menor esforço para se distanciar da cadência datada e assume tudo como uma grande exposição de enquadramentos que são “verdadeiras obras de arte”. Mas esse padrão de “beleza” a gente sabe bem onde leva.
Desprovido de tutano, o barato precisa apelar pro figurino, para o design de produção, o conteúdo idílico em torno da aristocracia, diálogos rápidos que discutem essas relações (uma fofoca glamourizada) em vias dramáticas exacerbadas. O espectador que conseguir se divertir com “Emma.” merece um lugar especial onde quer que seja. Pouca coisa aqui é funcional, desde a atuação afetada de Joy à essa estrutura narrativa que quer aumentar essa pompa da aristocracia e nos dar a dimensão do quanto nossa protagonista é falhamente perfeita. Essa mise-en-scène funciona como uma muleta para criar um projeto visualmente “agradável” quiçá impactante, mas demonstra a decadência criativa de um filme que busca suas bases em referenciais constantes. De Kubrick aos conservadores cinematográficos, o quadro vai demonstrando uma profunda inabilidade em construir uma característica particular para si.
Suas investidas nesse humor aristocrático sintetizam os velhos problemas da indústria em não compreender a distância espaço-temporal de suas representações. Quanto mais o longa se esforça em ser engraçado diante desses mimos na autocracia, menos consegue se divertir. O barato não consegue ser funcional, pois trabalha dentro de limitações tão arcaicas e clichês, que cada arquétipo que é atravessado por alguma “ousadia” contemporânea diante desse “estoicismo” revela a fragilidade monumental de um longa que não sabe por onde caminhar. “Emma.” transmite essa indecisão o tempo inteiro. As escolhas tentam forçar um direcionamento que não sustenta os quase cento e vinte minutos de projeção.
Ainda na primeira meia hora é possível implorar pros créditos finais interromperem o balaio. O dramalhão de gente mimada e personagens desinteressantes com relações chatíssimas vão formalizando um romance insuportável, onde os jogos de poder provocam bocejos irremediáveis e cada nova cena um suspiro de cansaço. O espectador sabe por onde o filme vai caminhar, como será o grande ápice amoroso, o desfecho catastrófico e meloso com uma música imponente da colheita feliz. Entre umas amoras e roupas exuberantes, o projeto busca transformar Joy em uma figura doce mas “perigosa” pela capacidade de manipulação. Essa suposta inocência em um ninho de cobras, é transmitida na linguagem através de um esforço pictórico, de impôr Emma diante dos demais personagens, aproximando-nos de seus olhos para entendermos os “perigos” dali e gerar alguns planos de referência. De Kubrick à Sokurov, essa assimilação se prova pouco funcional e tão inócua quanto o desejo de glamourizar essa peçonha classicista.
A própria escolha nas cores, reforça o tom da película ao vislumbrar moradias distintas do luxo aristocrático, a paleta cinza e as sombras ganham forma e demonstram o apelo emotivo desse universo de abundância e de sua ausência. “Emma.” não é um desastre absoluto, pois tenta modernizar algumas das verve mais tóxicas do barato todo, para uma cadência cômica mais contemporânea. Mas sua incapacidade de articular uma unidade que consiga fugir de todas as padronizações industriais, reforça que o clichê é apenas uma muleta para trabalhar o ganho de cifras e o engajamento. Alguns prêmios no Oscar podem mascarar os problemas do filme, mas o figurino, a maquiagem e o design de produção são grandes cortinas de fumaça de um longa que não possui consistência e apenas bambeia de um lado para o outro.
O Oscar relembra que suas nomeações são capazes de desanimar qualquer um. “Emma.” está longe de ser um dos piores projetos contemplados na premiação mais imperialista do ano, mas sem dúvida concorre na categoria dos mais chatos e mimados. Falta paciência para chegar até o fim e para cada nova cena que adia o óbvio, o espectador vai perdendo as estribeiras.