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Tarde Para Morrer Jovem

Nunca é Cedo para Amadurecer

Por Vitor Velloso

Durante o Festival do Rio 2018

Tarde Para Morrer Jovem

A partir dos primeiros minutos de projeção vemos tratar-se de um filme… diferente, seu enquadramento milimétrico, mas excludente, porém, extremamente íntimo, nos gera diversas sensações diferentes. Dirigido por Dominga Sotomayor e exibido na programação do Festival do Rio 2018, “Tarde para morrer Jovem”, acompanha a história de Sofia (Demian Hernández). É um longa sobre amadurecimento, não da maneira clássica, mas de uma forma diferente, já que até mesmo o meio social onde está inserida possui características muito específicas, vivendo com seu pai numa espécie de comunidade no meio da floresta. Seu enfrentamento com diversas questões possuem os traços de sua idade (adolescente), ela fuma, por uma clara questão de rebeldia e se recusa a tentar parar aceitando seu vício, bebe escondida e não sabe lidar com seus sentimentos por determinadas pessoas.

Num jogo de contraste entre frio e quente, a fotografia de Inti Briones é capaz de gerar um acolhimento necessário ao público, este clima aconchegante e prosaico é reforçado pelos enquadramentos precisos, mas sem soares engessados, a fim de dar uma fluidez mais a narrativa. Essa naturalização da misancene desenvolve um fluxo que soma à obra, logo à personagem, com uma exímia exatidão, pois, não apenas o envolvimento emocional com a protagonista é necessário, mas a compreensão daquele meio social onde ela vive. A proposta solta e livre da trama funciona como um espaço ao desenvolvimento da personalidade de Sofia, suportada pela atuação de Demian. Um trabalho de interpretação bastante complexo e multifacetado, apesar de sua indiferença a certos estímulos, que é justificada pela situação (emocional) onde a personagem está inserida.

Cada núcleo da narrativa em “Tarde para morrer Jovem” possui um eixo e uma âncora, assim como as pessoas na história, em geral, esse peso presente nas possibilidades dramáticas é o grande trunfo da dramaturgia, que discute por tabela o convívio em um âmbito comunitário e relações familiares, conturbadas ou não, mas sempre assumindo à problemática de qualquer relacionamento. A dificuldade de acompanhar toda essa construção se dá pelo tempo da montagem e dos planos, que intensifica a monotonia daquela vida, porém, dificulta o desenvolvimento drama da protagonista, ou melhor, arma um compasso difícil de penetrar, por isso, seu ato final possui um nítido impacto, pois, até aquela altura conseguimos transformar a ideia com uma organicidade mais palatável, o problema é que parte dos espectadores já pode ter desistido até o fatídico momento.

As frustrações amorosas que Sofia, somado ao personagem de Lucas (Antar Machado) e Ignácio (Matías Oviedo), compõe uma textura de romance peculiar, não original, mas com características bastante específicas, que discute inclusive facetas da misoginia inerte em parte dos homens, deixando no ar questões atuais e sinceras. Facilitadores são utilizados no texto para que este eixo dramático seja mais facilmente diluído, por isso, alguns lugares comuns são explorados, determinados estereótipos que mexem com a imaginação de adolescentes, o que justifica o recurso, já que vemos um retrato extremamente pessoal de uma personagem que não se encontra nas relações sociais que a cerca. Além do mais, essa idade é uma das mais frutíferas à imaginação, sexual ou amorosa. As fantasias que cercam os anseios de Sofia vão de encontro a um complemento essencial da linguagem cinematográfica utilizada por Dominga, a estrutura do espaço-tempo em uma civilização em constante contato com o ócio e a natureza.

Não à toa, o segundo plano, que remete ao último, nos mostra um cachorro correndo enquanto uma fumaça atravessa sua silhueta. Se no primeiro momento ele corria atrás de algo, no caso, seus donos, no último vemos ele correr em sobrevivência, porém, não trata-se do mesmo cachorro, ele está modificado, por questões diversas. Aliás, toda construção que qualquer ser possui depende diretamente de sua vivência, logo não é possível entrar no longa e sair o mesmo. O velho pensamento que nega a possibilidade de banhar-se no mesmo rio duas vezes, é a chave do longa-metragem. Um pensamento clichê sim, mas extremamente bem utilizado e desenvolvido durante toda a projeção. “Tarde para Morrer Jovem” é de uma eficiência ímpar em promover um olhar singelo e cauteloso sobre uma protagonista perdida e com perspectivas pífias. Deve atingir algumas pessoas em cheio e quem sabe, emocionar. Evita ao máximo recursos frágeis e decide por uma abordagem fora do padrão, mas acaba caindo em pequenos deslizes que podem afastar parte do público.

3 Nota do Crítico 5 1

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