Crítica: Pantera Negra

O mundo já tem branco demais

Por Vitor Velloso


Salve Killmonger!

Ao assistir “Pantera Negra” no cinema, a primeira reação que tive foi olhar o público, a maioria branca permaneceu em silêncio, todos os negros da sessão, aplaudiram. Ali foi o primeiro indício de que era muito mais que super-herói, muito maior que “apenas um filme”.

“Eles querem um preto com arma pra cima
Num clipe na favela gritando cocaína
Querem que nossa pele seja a pele do crime
Que Pantera Negra só seja um filme”

Baco Exu do Blues lança “Bluesman”, em sua primeira música do álbum há os versos acima. O barulho que Ryan Coogler conseguiu fazer aqui é tão impressionante, que agora em dezembro, escutamos as pessoas comentarem sobre ele, lançado em Fevereiro. Vimos ele fazer parte de uma roda de debate com diversos diretores premiados, inclusive Spike Lee. Primeiramente, para compreender “Pantera Negra” devemos olhar não apenas o cenário de super-herói e toda seu excesso de branquitude, em especial “Capitão América”, mas também relembrar que James Baldwin disse: “A história do negro nos EUA, é a história dos EUA. E não é uma história bonita”. O maior representante dos “Vingadores”, ser um homem caucasiano que leva a bandeira americana em cada parte de seu uniforme e discurso, ao escutar a frase de Baldwin, é algo que incomoda. A primeira aparição do Pantera Negra, foi em “Guerra Civil”, onde ele enfrenta o Capitão Trump e o vence sem dificuldades. Toda essa construção de como o herói é poderoso e misterioso, nos traz a seu filme, com uma pequena ressalva, ele não possui uma origem bem definida, ele é a realeza, ele é um herói e ninguém questiona isso. E esse nível de empoderamento o cinema de super-herói, estava precisando. Especialmente ao lembrar que Okoye (Danai Gurira) diz a Viúva Negra (Scarlett Johansson) que saia da frente ou ela irá tirá-la.

“É o super poder, sobreviventes de uma época super feroz
Falta muito, mas meu filho vê as cara preta referência de super-herói”
Rincon Sapiência – O céu é o limite

Quando a projeção se inicia, vemos jovens garotos negros jogando basquete em uma praça nos EUA, após um determinado tempo, iremos compreender que uma das crianças será, no futuro, Killmonger (Michael B. Jordan) o “vilão” do filme. Toda sua realidade é introduzida, para nos mostrar que dinheiro não era uma realidade do personagem, que cresceu no gueto. E ao vermos ele já adulto, com todo seu discurso, ainda que radical, é fácil concluir que ele não é de fato um vilão, muito pelo contrário, seu pensamento encanta mais que o de T’Challa (Chadwick Boseman). Enquanto rei de Wakanda busca manter-se no anonimato, evitando que o mundo descubra o que seu país de fato pode fazer à humanidade, Killmonger quer defender o povo negro, que sofre diariamente. Em sua última cena o personagem diz que prefere a morte, como seus antepassados que preferiam pular do navio, pois sabiam que o que lhes esperava do outro lado era pior.

Mas além de toda a importância cultural de Pantera Negra, há todos os méritos técnicos. Coogler possui uma eloquência extremamente crível ao apresentar Wakanda ao público, existe um encantamento natural, mas sem perder as características africanas. A música regional vem com força na primeira cena e arrebenta o classicismo eurocêntrico. Quando Killmonger caminha em direção ao trono e vemos a câmera girar… que plano meus amigos… Sendo hábil em manter uma misancene compreensível, mesmo com a velocidade das cenas de ação, o diretor mantém uma estrutura fílmica extremamente coerente ao universo que se propõe a apresentar.

Infelizmente não apenas de méritos vive “Pantera Negra”, Chadwick Boseman é frágil em sua interpretação, soa inexpressivo em determinados momentos ou exagerado, ele nitidamente compreendeu a ideia do filme, mas não conseguiu transformar isso em potência dramática. E alguns efeitos especiais do longa são bem duvidosos, em especial a luta final. E algumas piadinhas que acabam não funcionando, gerando pequenos vácuos temporais.

Ainda assim, tornou-se a obra de super-herói mais importante da década, possivelmente da história, em questão cultural. Não há discussão. Absolutamente necessário e político, Coogler desenha ao mundo aquilo que deveríamos ter visto a tempos na tela do cinema.

Wakanda Forever!

4 Nota do Crítico 5 1

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