Entretenimento de primeira?
Por Vitor Velloso
Quando um longa ambientado na Segunda Guerra Mundial, com uma trama de ficção científica, quase declara amor ao game “Wolfenstein” e é produzido por J.J. Abrams, chega aos cinemas brasileiros, os fãs do gênero choram de alegria, não é por menos, aliás, toda a campanha de marketing do filme foi inteligente, gerou uma expectativa nas pessoas, como um projeto descompromissado e factualmente divertido. De forma concreta pode-se dizer que isto foi alcançado, mais precisamente, não.
Dirigido por Julius Avery, “Operação Overlord”, possui uma trama rocambolesca. Em 1944, quando os americanos estavam realizando a operação que culminaria na invasão à praia de Normandia, uma equipe era enviada para dar fim a uma torre de comando que seria a chave da batalha em questão. Porém, tudo vai pros ares quando o avião é abatido e os soldados são obrigados a pular, Boyce (Jovan Adepo), é um dos membros desta equipe, ao receber uma ordem de Ford (Wyatt Russell), ele consegue invadir a base nazista e descobre um laboratório onde diversas experiências são realizadas em seres humanos.
A história está longe de ser original, aliás, de fato os alemães realizavam testes em pessoas, a diferença é que ninguém virava um zumbi semi-imortal, com super-força. Ainda que soe excessivamente fantasioso, Julius Avery, opta por uma abordagem mais séria e dramática, não dá muito espaço pras linhas fajutas de roteiro se expandirem em uma diversão fútil e descompromissada. Porém, a escolha em transformar o projeto em algo majoritariamente sério, soou mais interessante. Uma pena. Dessa forma, alguns efeitos especiais problemáticos não passam despercebidos, muito menos diálogos expositivos e mal cadenciados.
Sem dúvida o que mais chama atenção é o som, não a trilha, esta é genérica e compromete algumas cenas. A potência que toda a parte inicial possui deve maior crédito ao design sonoro, que explode no espectador de forma intensa e direta. A primeira sequência toda depende diretamente deste impacto auditivo. Filmes de guerra sempre necessitam de atenção extra neste departamento por motivos óbvios, o curioso é ver uma tentativa de minimizar os sons, tentando recriar o silêncio durante a guerra, durante todas as cenas na pequena vila na França, onde eles estão presos na casa e devem evitar barulhos a fim de não despertar o interesse dos nazistas. Esta mesma proposta acaba sendo abandonada futuramente, mas este momento deixarei ao leitor que enxergue durante a projeção.
Não há necessariamente um problema de ritmo no filme, o que há é uma irregularidade quanto a narrativa, o que irá fazer o espectador ir perdendo o interesse pela história, a fim apenas de ver explosões e tiros. Não há o que julgar, afinal, vamos ao cinema experienciar longas como esses pois queremos ver isto, não à toa, após a exibição, uma pessoa disse: “Esse filme podia não ter diálogo né? Apenas explosão e deixar o som rolando”. Negar a razão em sua fala é difícil, pois, a quantidade de clichês que se sucedem conforme a progressão narrativa se dá com a crescente de tempo, fere a inteligência de qualquer um. Os lugares comuns se tornam tão corriqueiros durante “Operação Overlord” que já começamos a imaginar como se dará a cena seguinte, é possível acertar algumas.
Uma pequena recompensa se dá pelo próprio diretor, que possui consciência clara da estética que deseja imprimir. “Sangue Jovem” não agradou muitas pessoas, mas não dá pra negar um mínimo de autoria visível no projeto. Já em “Overlord” há uma dose de adrenalina em um longa com muito mais dinheiro, o que gera resultados interessantes, planos sequências peculiares, ainda que artificiais, como o primeiro, onde ele cai do avião. E um design de destruição de cenário, a fim de dar uma sensação de brutalidade maior, onde as reações são visíveis. O interessante de ver essa concepção saindo dos videogames e indo aos cinemas, é a fragilidade que se coloca entre cenografia x ação x misancene, isso porque a misancene pode ser fragmentada ou modificada com apenas dois cortes, exemplo de “Se a Rua Beale Falasse” onde o marido dá um tapa no rosto da esposa. Mas quando se modifica de forma aguda a cenografia e a misancene com uma questão diretamente ligada a ação dos personagens e do diretor, torna-se um exercício de linguagem divertido e ousado, se é que pode-se dizer isso.