O Lagosta
A estranheza como condução
Por Fabricio Duque
Durante o Festival de Cannes 2015
“O Lagosta”, do grego Yorgos Lanthimos (de “Dente Canino“), integrante da mostra competitiva a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2015, utiliza-se do surrealismo conceitual para construir uma fábula metafórica sobre a exacerbação da individualidade de cada um. Os personagens “internam-se” em um hotel a fim de “vencer” medos relacionamentos amorosos. A “cara metade” aparece por afinidades, não importando o quanto se comporte estranha, idiossincrática, violenta, submissa, desprendida e ou escatológica, como uma família que usa exatamente a mesma roupa.
O universo kitsch futurista a La Wes Anderson de “O Lagosta”, sem esquecer de Roy Andersson, tampouco de “Borgman”, de Alex van Warmerdam, contribui a uma transposição atmosférica. O classicismo da narração adjetivada fornece o tom dos “solitários” em epifanias para lá de modificativas. Aqui, eles podem “aprender” a ser “animais” instintivos. Um filme que usa a estranheza como condução e assim questiona e confronta o lado palatável cinematográfico do espectador.
“O Lagosta”, ao nos atravessar com seu surrealismo coloquial de excentricidade possível, consegue encontrar o de mais humano tem no indivíduo social, que vive sua existência pautado no mais intrínseco e genuíno dos instintos, que geram impulsos que nem mesmo a mente mais sã poderia entender os desdobramentos, propósitos e porquês.