Melhores Amigos

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Pais, os Inimigos

Por Fabricio Duque

Exibido na Mostra Panorama do Festival de Berlim 2016 e também no Festival do Rio do mesmo ano, “Melhores Amigos”, do diretor Ira Sachs (“Deixe a luz acesa” e “O amor é estranho”), com roteiro do brasileiro Mauricio Zacharias, pode ser desenhado como a primeira parte de um trilogia que aborda as idades da homossexualidade. Em “Deixe a luz acesa”, temos o desenvolvimento da fase adulta (e seu sexo latente à flor da pele); e em “O Amor é Estranho”, o amor na velhice (suas dificuldades, limitações e doenças). Já aqui, no filme em questão, a trama tece a descoberta sutil da sexualidade pela amizade entre dois meninos pré-adolescentes.

O filme busca imprimir uma atmosfera à moda típica de Richard Linklater (de “Boyhood”) pelo viés da inocência quase amadora, que por sua vez tenta a espontaneidade com excessiva técnica. O resultado soa mais anti-naturalista por causa do tom encenado dos diálogos conjugado com a ingenuidade das ações. O roteiro usa gatilhos comuns característicos, como o choro contido e solitário após o velório; a briga para defender o “namorado”; e ou a rebeldia da relação entre pais e filhos e a experimentação de um vestido.

“A vida é exatamente isso: adaptável”, diz-se sobre a metáfora do desapego de desenhos que foram jogados no lixo. Com a morte do avô, Jake (o ator Theo Taplitz), um menino de 13 anos, se muda com a família para a casa onde ele morava. No novo lar, o adolescente conhece Tony (o ator Michael Barbieri – que foi aceito na escola de artes cênicas de Nova York após a estreia do filme), um garoto da sua idade, filho de Leonor, a costureira chilena que aluga a loja localizada no térreo do imóvel. Quando o pai de Jake decide aumentar consideravelmente o aluguel de Leonor, os dois meninos estreitam seus laços de amizade. Alheios aos conflitos de “negócios” do mundo adulto, eles sonham em se matricular em uma prestigiosa escola “dos sonhos” voltada para o ensino das artes, a La Guarda (lugar que “Al Pacino foi reprovado”).

Entre picardias típicas da idade; alfinetadas iniciais contra o Brooklyn (para dizer a seguir: “mais tranquilo de Manhattan”) e contra os atores independentes (assim igual ao pai que “não faz sucesso e não é conhecido porque não trabalha na Broadway”); ensaio de teatro (“A gênese da atuação é ver”, ensina-se); treinos de futebol; jogos de videogames; festas matinês; desentendimentos da herança; peça “A Gaivota”; tudo desemboca em um distanciamento narrativo, em que nós espectadores recebemos uma enxurrada de informações paralelas para que assim possamos desnecessariamente montar o quebra-cabeças do que assistimos, a fim de embasar as reviravoltas.

Melhores Amigos” é, acima de tudo, uma crônica sobre lidar com a perda-afastamento de pessoas, que insinua o despertar da sexualidade por detalhes (como o cabelo grande no final), apesar da indicação explícita dos créditos (com cores do arco-íris) e do próprio cartaz oficial. A ideia de filmar crianças em greve de fala contra seus pais buscou referência em “Meninos de Tóquio”, de Yasujiro Ozu e “Bom Dia”, também de Yasujiro Ozu. Concluindo, um filme mediano e sessão de tarde para pré-jovens em suas descobertas existenciais.

3 Nota do Crítico 5 1

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