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Crítica: Hare Krishna: O Mantra, o Movimento e o Swami que começou tudo

Hare Hare, Tio Sam!

Por Gabriel Silveira e Vitor Velloso


A proposta do documentário é contar a trajetória do movimento “Hare Krishna” e traçar um retrato biográfico de seu precursor Srila Prabhupada, que partiu em uma jornada espiritual a fim de agregar adeptos de uma filosofia de vida pautada na felicidade. Enquanto proposta informacional o documentário busca ser o mais didático possível, trazendo datas, arquivo, contextualização, entrevistas- contemporâneas e da década de sessenta, período em que ele desembarcou nos EUA.

No auge dos movimentos hippies, Srila desembarca no país do materialismo, com a intenção de combatê-lo. O filme busca criar uma imagem semi profética de seu personagem, usando sua trajetória como discurso final, seu destino. O diretor entende que não há como correr de exposições didáticas e partidárias, pois, a intenção do filme é clara desde o início trata-se de um filme, não só encantado pelo assunto que aborda, tanto do ponto de vista antropológico, como temático, mas também comunitário. É quase um filme propaganda. E isso atrapalha a forma como o filme é conduzido, pois sua estrutura se prende a pequenos vícios formais que visam a beatificação do personagem.

Ao mesmo tempo que sua carga informacional ajuda a contextualizar o espírito do país naquela época, criando uma base para entender os motivos do pensamento ter se espalhado com certa tranquilidade pelos mais jovens. Obviamente, sofrendo resistência de parte do país por questões ideológicas. Os dispositivos que o filme utiliza para recriar o espírito da filosofia em questão são de caráter mais explícitos quanto a sua mensagem e ideia final. Então, há simulações, para democratizar o processo de entendimento da construção histórica do movimento, há uso de arquivo para expor aquilo que está sendo dito.

O discurso fílmico não pretende ser dialético, não pretende problematizar e discutir seu assunto em questão, apenas expor e informar, planificar e horizontalizar toda a carga histórica que pretende defender pelos próximos noventa minutos. Assim como a montagem, um tanto acelerada, tem a tarefa de acelerar seus momentos para criar a sensação de turbulência social que o país vivia naquele período. Mas isto não consegue impedir que haja um problema de ritmo durante o filme, pois, sua carga de informações apesar de estarem presente em grande quantidade não vai além da superfície. Como não há a intenção de debate, não há um panorama de dissecação por parte de determinados acontecimentos, nem de internalização destes com o personagem.

E por conta deste desinteresse, o partidarismo do filme acaba pintando-se como uma imagem de um dos devotos de Prabhupada que a mídia atacava, apontando tal devoção para com a fé do guru que vai além do divino, como se o mantra de imparcialidade do guru fosse argumento para qualquer atitude do corpo do mestre e de seus fiéis. Prabhupada vem à américa do norte a fim de atacar o establishment ocidental com sua filosofia revolucionária e acaba não somente cedendo a cultura do capital na procura de espaço, mas como também, acaba tornando-se uma grande engrenagem do sistema ao transmutar sua fé em uma rentável commodity. Após a onda do primeiro estouro popular do discurso de Prabhupada, George Harrison entra no jogo ao colaborar com uma banda composta pelos seguidores mais próximos de Prabhupada que resolveram partir à Inglaterra a fim de dissipar a palavra de Krishna. O impulso arrebatador que Harrison dá ao valor da moda, como numa subida na bolsa — não somente colaborando com os artistas, mas também, aderindo completamente ao movimento e lançando um hit imenso dedicado à divindade (e aqui deixo claro que nenhum destes pontos são ressalvas a conduta moral de qualquer um dos envolvidos) — é lembrado por todos os entrevistados e apontado na montagem como um feito bíblico, Prabhupada teria finalmente triunfado na luta contra a repressão espiritual do materialismo capitalista enquanto estabelecia uma rede global de centros espirituais e um circuito de distribuição em massa de suas traduções dos textos divinos.

Curioso como após esbanjar a conclusão do feito, o filme apresenta o momento em que Prabhupada decide viajar à Rússia a fim de distribuir sua palavra sobre o regime da censura soviética como um confronto final entre nosso santo protagonista e o grande vilão final da repressão espiritual mundial. Bom ponto, inconscientemente estabelecido, do diretor ao apontar que, nem quando se trata de fé, o norte americano comum consegue deixar de ceder a tentação de expurgar todos os seus traumas pavorosos da guerra fria ao pintar aquela imagem fúnebre de uma representação soviética.

2 Nota do Crítico 5 1

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