Curta Paranagua 2024

Crítica: O Crime da Gávea

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Um Crime ao Cinema

Por Fabricio Duque

“O Crime da Gávea”, do estreante na direção de um longa-metragem, André Warwar, do curta-metragem ” Retrato falhado”, “primeiro filme brasileiro exibido em 4k”, informação esta que corrobora a vertente de seu realizador em estar mais interessado na forma técnica cinematográfica (como a fotografia cinzenta “noir” por sombras) que necessariamente no conteúdo de seu roteiro, isto por ser explícito ao espectador as interpretações forçadas, desengonçadas, clichês e de efeito em frases prontas, óbvias e anti-naturalistas, principalmente pelos gatilhos comuns do artifício do “flash” prévio, que insere inúmeros detalhes para, com o desenvolver da trama, tentar confundir o espectador ao desfecho palatável (à moda de “Seven – Sete Pecados Capitais”, de David Fincher).

Aqui, nós somos mergulhados em um “Thriller policial” investigativo, com frases “O que veio para você, vai voltar para eles” e “Tudo que nós vimos e não pegamos, não vemos” (oi?) e por clichês visuais (e falados) pululados: o close na criança chamando pela mãe; close na falecida; drogas para suportar o momento; o “trabalho pesado” de um interrogatório (que busca ser ” Elon Não Acredita na Morte”, de Ricardo Alves Jr. e ou “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba); o beijo na falecida; diálogos engessados; a filha na casa dos sogros; o traficante que aposta no Jockey; a violência na cidade; o pedido de dinheiro ao sogro; caminho pelas “normas do inquérito”; a procura da verdade do “corno” (“procura do outro lado também”, “mulher gosta de variar”); a elucubrações-suposições de um delegado preconceituoso e machista (“Talvez um assaltante marginal da favela da Rocinha” e “O colar de pérolas onde está?” – que tem o “dever de descobrir o assassino”) e o gatilho comum máximo utilizado: o choro em câmera lenta. Corta-se para uma trilha. Para uma nova desvirtuada aventura. Sonho? Projeção?

Sim, o espectador não acredita na maneira como está sendo manipulado. “O Crime da Gávea” parece ser um seriado televisivo da Rede Record que foi transpassado ao cinema. As caricaturas são as mesmas, mas agora, no escurinho de uma tela grande. “Os primeiros suspeitos são sempre mais interessados na morte”, diz-se, degringolando ainda mais o roteiro que se perde entre pesadelos, uma traição e a proteção do adultério no lugar de “gente rica e famosa”. “A perícia no Brasil é uma piada”, diz-se. Vingança ou crime passional? Já não importa mais, o único desejo do público é que o filme acabe.

Um dia, Paulo (Ricardo Duque) chega em casa e encontra sua esposa morta. A filha do casal, de 3 anos de idade, está ao lado do cadáver, sem nenhuma lesão. Enquanto a polícia investiga o crime, Paulo dá início à sua própria busca do culpado, entrando em uma série de suspense e mistérios.

“O Crime da Gávea”, baseado no livro homônimo, escrito por Marcílio Moraes (de “Vidas Opostas” na TV Record), que acabou atuando como roteirista, adaptando a própria obra, lançada em 2003, é ingênuo, exaltado nas reações e nas sensibilidades, que consegue fazer até uma relação sexual “transa”no parque de forma anti-naturalista e não convincente. Em nenhum aspecto. Seus personagens parecem que estão lendo o roteiro (ou que acabaram de decorar e estão os reproduzindo como robôs). “Deus verdadeiro foi escorraçado. Não sei quem pode dizer o que é verdade”, diz-se com sofreguidão, raiva e encruzilhadas desesperadas. “A honestidade vale mais que a vida”, diz-se. Sério?

“Crime é uma arte tão precisa”, diz-se. E nosso protagonista tem um “insight” para que? Escrever um roteiro com direito à “representação” ao livro “Moby Dick”, de Herman Melville; ao “deus impostor”; à lua cheia; filosofia à moda de bar; aforismo de Heráclito de Éfeso; investigação por conta própria “simples e brutal”; epifania da dança; extorsão do delegado (“conhece a Justiça né?”), tudo é de uma ingenuidade ímpar, que não consegue forças para galgar à pretensão. “Assassino de mulher é limpo na cadeia”, diz-se. Entre idas e voltas, e um final mais que esperado, “O Crime da Gávea” é um “balaio de gatos” e acaba para deleite de seu espectador, que não consegue tampouco apreciar o elenco: Ricardo Duque, Simone Spoladore, Roberto Birindelli, porque não há química, apenas pressa não cuidada em jorrar detalhes e reviravoltas que não funcionam. Uma pena!

1 Nota do Crítico 5 1

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