Ave, César!
Por Fabricio Duque
Durante o Festival de Berlim 2016

 

É inquestionável como os Irmãos Coen (Joel e Ethan) descobriram a fórmula perpétua de fazer filmes de sucesso, repetindo maestrias obra após obra, sem a mínima possibilidade do fracasso. Sim, uma incrível vocação qualitativa que se observa (em crescente admiração) desde a estreia da dupla com “Gosto de Sangue”. Sim, a característica marcante de seus longas-metragens já transcendeu a óbvia definição e se comporta como um gênero cinematográfico (como Quentin Tarantino, Wes Anderson e Woody Allen, por exemplo – na verdade, pode até ser comparado como uma fusão dos três cineastas). Em seu mais recente filme, “Ave, César!”, que abriu o Festival de Berlim 2016 e sua mostra competitiva (mas fora de competição), corrobora a estrutura visionária crítica-questionadora dos irmãos americanos, pelo artifício da plena “pseudo” ingenuidade da ironia-sarcasmo-deboche. O humor é tão acirrado e ou tão surreal e ou tão patético e ou tão escrachado e ou tão potencializado, que funciona como “psicologia reversa”, reverberando picardias e mais picardias sobre o mesmo universo do cinema hollywoodiano e suas manipulações-tentativas de dominação em massa. É a essência da metalinguagem, e ao se quebrar a própria estrutura de construção do próprio filme, desestrutura o espectador em uma confusão proposital de reviravoltas conflituosas e da ordem, que praticamente se mantém em um “caos” perfeitamente organizado e simétrico existencialmente. “Ave, César!” é uma comédia de situações que satiriza com precisão cirúrgica as produções dos estúdios de Hollywood dos anos cinquenta (tendo “Os Dez Mandamentos” como pano de fundo), questiona o ofício dos roteiristas (perdidos em lutas perdidas e comunistas – que discutem, em verborragia, ideias mirabolantes em uma atmosfera kitsch noir – devido ao mistério inserido à trama), atores que interpretam a interpretação dos “produtos-produção em escala” (“Posso fazer melhor”, diz-se; “Está ótimo”, responde-se), produtores em pressão total das “minorias” (não ofender com o filme a nenhum americano e ou religião), do politicamente correto (o que pode ou não ir ao ar; “créditos curtos”; “e também, aparição religiosa”) e dos líderes religiosos (que devaneiam sobre Deus e Cristo). O longa-metragem é um desbunde maravilhoso que mescla ficção, bastidores, fantasia e realidade. Outro quesito perpetuado é a “falta” de limites de seus atores em suas interpretações. Talvez só mesmo os Coen para transformar Scarlett Johansson como uma “bitch barraqueira”; e ou Channing Tatum como um dançarino “liberto” e “saltitante” em suas danças à moda Fred Astaire (a liberdade comportamental da época – “gays, but no gays – gays, mas não gays”); e ou Alden Ehrenreich como um “caubói-vaqueiro do faroeste” mudando de “lado” e vivendo um ator dramático (péssimo – e que “mitou” uma das mais antológicas cenas da história do cinema – a parte da montagem), entre outros. Todos encenam o desastre de atores deslocados na frente das câmeras. “Pessoas não querem fatos, querem acreditar”, diz-se. É um filme “tempestade de ideias” sobre o “comodismo do ator-funcionário” (“artificialmente social” e interpretações propositadamente de efeito) e sobre a “vingança” comunismo à moda “Trumbo” (com muito humor, lógico – e com a metáfora de um submarino que “balança” as águas de Hollywood. Sim, não há nada que não seja de propósito, alfinetando a “grandiosidade” das produções com o “patético” resultado objetivado e “incutido” (como uma lavagem cerebral) no público. É difícil traçar linhas analíticas sobre “Ave, César!”. O espectador tem que conferir também outras metáforas, como “botar fogo em Roma-Hollywood” por um César “altivo” tipicamente George Clooney de ser. E que só mesmo um produtor para o “colocar” no devido lugar. E que tem o narrador como “Deus” da história. A sinopse nos conta que em uma Hollywood dos anos 1950, Edward Mannix (Josh Brolin) é o responsável por proteger as estrelas do estúdio Capitol Pictures de escândalos e polêmicas e vive um dia intenso quando Baird Whitlock (George Clooney), astro da superprodução Hail, Caesar!, é sequestrado no meio das filmagens por uma organização chamada “Futuro”. Concluindo, altamente recomendado.
5 Nota do Crítico 5 1

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  • Esse filme me surpreendeu, pero no mucho. Adoro os Coen, o senso de humor, as tramas meio fragmentadas, como o elenco sempre se destaca. Achei muito engraçado, sobretudo o Clooney e seu filme tipo “Cecil B. de Mille”. Dou 7.5

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