Curta Paranagua 2024

Canto dos Ossos

A Natureza do Gênero

Por Vitor Velloso

Crítico convidado pela Mostra de Tiradentes 2020

Canto dos Ossos

Demonstrando que a Mostra Aurora possui a capacidade, já conhecida, de dividir seu público, durante a 23ª Mostra de Tiradentes, o público teve a oportunidade de assistir “Canto dos Ossos” e discordar em peso após a sessão. Jorge Polo e Petrus de Bairros assinam a direção do projeto que envereda seus esforços para um terror canhestro e trash, a fim de brincar com o gênero dentro da unidade estilística que é implementada aqui.

O filme consegue ser absolutamente tedioso, ainda que aplique questões de linguagem que são interessantes – caso retiradas de seus momentos. Uma delas é a utilização de uma decupagem que prioriza os primeiros planos, gerando algumas cenas visualmente fragmentadas, mas que remetem diretamente a uma questão de atração. Tal viés compila uma necessidade de compor um ritmo que assume a diversão a partir das questões mórbidas que são trabalhadas ali, ainda que toda essa ideia não consiga se concretizar até o fim da projeção.

Cada diálogo em “Canto dos Ossos” abusa do ouvido do espectador que desce na cadeira do cinema em posição fetal implorando a surdez repentina. Não apenas pela exposição das falas, mas pelas interpretações que soam completamente sem direção por parte da produção. Além disso, as relações que são construídas ao longo da narrativa são infinitamente artificiais. Qualquer argumentação que fale sobre a possibilidade de ser proposital, por uma necessidade de desconstruir o gênero cinematográfico, cai por terra, pois fica explícito que não há influências sintetizadas na autoria da obra, mas sim coladas diretamente em clara consonância com as ideias viris do cinema de horror.

Inclinando próxima a proposta, façamos uma experimentação tão cínica e auto(in)suficiente.


Do digital a pele pálida que escarrada é digitalmente a taça que a os longos cabelos procura para se defender se encontra entre dois pilares que sustentam os braços retumbantes de um brado perdido na colonização cultural de uma cidade imperial que projeta a falha monumental que o nascer há de curar e o levante da literatura acompanhar a revelação de uma locação abandonada. Aos que ali permanecem tão pálidos e inexpressivos quanto seus sonhos tenebrosos o maior perdão dos desistentes e a profunda gargalhada da carreira de sódio que os espera do outro lado das pedras tortas que nos separa pois o líquido que denuncia a temperatura desliza sobre o recipiente se confundindo com a quentura do vício que há de assassinar previamente o infeliz que magoou a janela da alma com a presença.

Os dedos que teclam a maldicidade (perdão a Rio Branco) de descrever a experiência de desistência da serenidade de uma logística que abençoa os que presentes se fazem para um trabalho semi escravagista. Flácido ácido áci do inferno que nos maltrata a lírica inexistente de uma garganta que assume um teor satírico da generalização do medo que consola as mãos frias que protegem os rostos da vergonha de não assumir suas fragilidades diante da deidade iluminada que é liberada pelo proletário negado a experiência. Se a intencionalidade mesquinha de produzir algo que aparentemente assume uma autoria diante daquilo que não há de se explicar a credencial faz o mesmo em ironia mas reconhece a atitude pouco complacente com a aurora de uma carreira que possui méritos. Se a palavra francesa que Herbert Richers recusa Deleuze (autoreferência é ego de pulseira estendida) não é o sustento da situação ao menos a estoicidade do quadro que exclui consegue chamar atenção para a amplitude da construção além da luz que ilumina os contornos dos pilares que caminham de maneira estonteante pela narrativa.

Enquanto o devaneio se faz presente na monumental recaída do vício de narciso o alado infeliz segrega os neurônios em complacência com o distúrbio isquêmico da memória recente que provoca o distúrbio de uma mostra que nega o legado de uma abertura absoluta para os trezentos e sanguinolentos tempos curtos que provocam a rigidez da situação do povo que chora as margens do rio e cheira o papel crepom, aos mineiros.

Ao projetar o fim da necessidade do trabalho, me vejo na satisfação de poder ver a repetição de uma constante que se faz entre os embrulhos de uma quarto que aprecia os odores diversos e o êxtase das últimas palavras.

O fim se aproxima e o sorriso não se fez na sala mas a partir deste ponto.

1 Nota do Crítico 5 1

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