Balanço Geral e Vencedores do Festival É Tudo Verdade 2024

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Balanço Geral e Vencedores do Festival É Tudo Verdade 2024

Maior festival de documentários do país premia o filme brasileiro “Tesouro de Natterer”, o alemão “Cento e Quatro” e encerra com as canções de Luiz Melodia

Por Clarissa Kuschnir

Durante os dez dias do Festival É Tudo Verdade 2024 deu para sentir que este ano (confira aqui nossa cobertura completa por críticas de Fabricio DuqueLetícia Negreiros, Vitor Velloso, João Lanari Bo, Paula Hong e Pedro Sales) o festival voltou com mais força, conseguindo lotar várias sessões e reunindo um público cativo, em salas do Rio de Janeiro, no Estação Net Rio e Botafogo, e em São Paulo, claro (a “casa do festival”), ainda que a abertura tenha começado na Cidade Maravilhosa, com uma ótima curadoria de documentários nacionais e internacionais, tanto de longas quando de curtas e médias metragens.

“Quero agradecer de coração logo de cara a toda a equipe do É Tudo Verdade. E este ano temos uma equipe de jovens que está pela primeira vez fazendo o festival. Agradeço ao monitores que estiveram no dia-a-dia das projeções e que é uma equipe sempre jovem e que, adora cinema”, disse Amir Labaki ao fazer questão de homenagear essa nova geração de trabalhadores cinéfilos durante a cerimônia de premiação do festival, que divulgou no sábado, 13 de abril, os vencedores de sua 29ª edição.  Amir aproveitou para falar que este ano o festival retorna com a itinerância, com exibições em Belo Horizonte, no mês de junho. Então, público mineiro, aguarde que logo o festival chegará por aí. 

Além das concorridas sessões competitivas como todos os anos, os programas especiais se destacaram com a mostra Thomaz Farkas (que completaria 100 anos em 2024 e teve fala emocionada de Amir na cerimônia de abertura no Rio de Janeiro), no qual consegui conferir os títulos: “Thomaz Farkas, Brasileiro”, dirigido pelo veterano Walter Limar Jr. (que também compunha o Júri da Mostra Competitiva Nacional), em que o cineasta fala sobre  Farkas com entrevistas, mostrando um pouco de sua carreira; assisti também ao ótimo “Todo Mundo”, realizado pelo próprio Farkas em 1980 e no qual o realizador aborda as torcidas de futebol nos campeonatos brasileiros. E o que se vê nas telas daquela década não é muito diferente do que se tem hoje, ou seja, a velha e conhecida rivalidade das torcidas organizadas; “Paraíso Juarez”, também dirigido por Farkas, que apresenta a obra do artista plástico baiano Juarez Paraíso no Cinema Tupi em Salvador, na década de 70; e “Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba”, este mais recente, dirigido pelo cineasta Ricardo Dias que recuperou imagens do cantor feitas por Thomaz Farkas, no IV centenário da cidade de São Paulo.

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Tudo Sobre o Festival É Tudo Verdade 2024

Ainda dentro dos programas especiais teve a Retrospectiva Internacional do cineasta irlandês Mark Cousins, que esteve pela primeira vez no Brasil. Além de oito títulos de sua filmografia no qual eu consegui conferir o lindo “Uma História de Crianças e Cinema, e Eu Sou Belfast”, o cineasta deu uma masterclass mediada por Amir Labaki. O realizador falou sobre seu processo de criação dos filmes. Com muita descontração e já parecendo um brasileiro, Cousins arrancou risadas da plateia ao dizer que o documentário não é sexy e não tem o glamour dos longas de ficção. 

“Documentários não tem estrelas do cinema, não têm tapete vermelho, mas fazem com que cheguemos perto da realidade e fazem com que refletimos o esplendor dos lugares, abrindo nossos olhos e fazendo com que seguimos em frente”, disse Cousins durante a masterclass. No Rio de Janeiro também aconteceu uma conversa “estendida” com o público. E o documentarista, e pesquisador, que tem uma vasta carreira e diversos livros publicados, aproveitou sua estada aqui no Brasil para capturar imagens desse imenso território com tantas histórias para contar. E nós, só temos que agradecê-lo.

O filme Tesouro de Natterer, de Renato Barbieri, que retrata a coleção de mais de 50 mil objetos indígenas feitas pelo naturalista austríaco Johann Natterer, foi o grande vencedor desta edição como Melhor Documentário Brasileiro, na categoria de longas e médias metragens. E recebeu o prêmio R$ 20.000,00. “Pelos compromissos com pesquisa, com o tempo e a memória, pela bela fotografia”, justificativa do júri oficial, que esse ano foi composto por: Edileuza Penha de Souza, Miriam Biderman e Walter Lima Jr. Já o curta brasileiro “As Placas São Invisíveis”, de Gabrielle Ferreira, recebeu o Troféu É Tudo Verdade de Melhor Filme (e prêmio R$ 6.000,00). O trio justificou a escolha: “Pelo convite de refletir sobre a invisibilidade das barreiras sociais, políticas e econômica, que muitas vezes impedem a plena participação de todos os indivíduos na sociedade e, consequentemente, no acesso à permanência ao ensino superior público e de qualidade”. E ainda concedeu uma Menção Honrosa para o curta indígena, Aguyjevete Avaxi’i””, de Kerexu Martim, “Pelo cuidado, pela poesia, mas sobretudo pela reconstrução da vida.  Pelo semear, acompanhar, crescer. colher, debulhar, preparar e alimentar.  Como diria Chico Buarque “Afagar a terra. Conhecer os desejos da terra. Cio da terra, a propícia estação. E fecundar o chão.””

Tesouro Natterer
Cena do filme “Tesouro Natterer”, de Renato Barbieri

O longa alemão Cento e Quatro de Jonathan Schörnig, foi escolhido pelo júri, como o Melhor Documentário Internacional, que ainda recebeu o prêmio de R$ 12.000, e justificativa do júri composto por Helena Solberg, Mark Cousins e Sérgio Tréfaut: “Um filme que olha para uma das mais importantes questões dos nossos tempos – imigração – de uma forma crua, envolvente e cheia de adrenalina. À medida que se desenrola em tempo real, percebemos que este filme deveria ser visto em todos os lugares.”. O trio também concedeu uma Menção Honrosa para o longa-metragem de produção japonesa, americana e inglesa, Diários da Caixa Preta”, de Shiori Ito. Já na categoria de curtas internacionais, que aliás estavam excelentes, “Só a Lua Entenderá”, da cineasta Kim Torres, foi o vencedor do Troféu É Tudo Verdade e recebeu o prêmio de R$ 6.000,00 (“Um retrato poético e onírico da infância e do envelhecimento. Um filme de momentos mágicos”). O curta, que é uma coprodução da Costa Rica e dos EUA, retrata a forma de vida de uma forma poética das moradoras de Manzallino. E uma Menção Especial ao filme Zinzindurrunkarratz“,de Oskar Alegria (Espanha), “uma generosa e sensorial peregrinação experimental pela memória e pelo som”.

O Prêmio Canal Brasil de Curtas foi concedido pelo júri composto por Ana Paula Barbosa (Narrativa Feminina); Janda Montenegro (Cabine Secreta/CinePOP); Paola Piola (AdoroCinema); Raphael Camacho (Guia do Cinéfilo); e Ricardo Ferreira (O Globo) e premiou o filme “A Edição do  Nordeste”, de Pedro Fiuza, “Por apresentar uma montagem criativa sobre a cultura e imaginário nordestino através do cinema”.

O Prêmio Mistika de Melhor Documentário da Competição Brasileira de Curtas-Metragens foi para o curta “As Placas São Invisíveis”, que ganhou R$ 8.000 em serviços de pós-produção digital. Os Prêmios EDT de Montagem 2024. (Associação de Profissionais de Edição Audiovisual) concedeu Melhor Montagem para: o curta-metragem “Utopia Muda”, de Julio Matos (Montagem de Lucas Lazarini e Julio Matos) e ao longa-metragemFernanda Young – Foge-me ao Controle, de Susanna Lira (Montagem de Ítalo Rocha).

Fernanda Young - Foge-me ao Controle
Cena do filme “Fernanda Young – Foge-me ao Controle”, de Susanna Lira

O Festival É Tudo Verdade 2024 exibiu um total de 77 produções entre longas, médias e curtas-metragens de 34 países. Suas retrospectivas celebraram o cineasta britânico Mark Cousins e o centenário de um dos grandes expoentes do audiovisual brasileiro, Thomaz Farkas. Lembro que o festival É Tudo Verdade 2024 continua exibindo seus curtas-metragens na plataforma do Itaù Cultural Play, até o dia 30 de abril. Além dos nove títulos nacionais (incluindo os ganhadores), o festival disponibiliza o curta de Thomaz Farkas Paraíso Juarez”, já citado aqui na matéria. Para assistir basta acessar: https://www.itauculturalplay.com.br/  e fazer um cadastro. E tudo isso de forma gratuita.

Após a sessão de premiação, que aconteceu na Cinemateca Brasileira, o Festival É Tudo Verdade 2024 encerrou com o longa-metragem “Luiz Melodia No Coração do Brasil”, de Alessandra Dorgan. Com sessão lotada, o filme arrancou palmas da plateia por conta de um roteiro bem amarrado (com narração do próprio cantor), com várias imagens de arquivos, passando pelos altos e baixos da carreira desse artista falecido em agosto de 2017, e com ótima direção musical da jornalista especializada em música, Patrícia Palumbo, que também assina o roteiro do filme ao lado de Alessandra Dorgan. E para o próximo ano, o Festival É Tudo Verdade acontecerá de 03 a 13 de abril. Nós vemos lá, sempre com a já tradicional cobertura do Vertentes do Cinema. 

LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DO FESTIVAL É TUDO VERDADE 2024

Festival E Tudo Verdade 2024

JURI OFICIAL

Melhor Documentário da Competição Brasileira: Longas ou Médias-Metragens

“Tesouro de Natterer”, de Renato Babieri   que recebe o prêmio R$ 20.000,00 e Troféu É Tudo Verdade

Melhor Documentário da Competição Brasileira: Curtas-Metragens

“As Placas São Invisíveis”, de Gabrielle Ferreira, que recebe o prêmio R$ 6.000,00 e o Troféu É Tudo Verdade.

Menção Honrosa da Competição Brasileira de Curtas-Metragens

Menção honrosa para “Aguyjevete Avaxi’i”, de Kerexu Martim

Melhor Documentário da Competição Internacional: Longas ou Médias-Metragens

“Cento e Quatro”, de Jonathan Schörnig que recebe R$ 12.000 e o Troféu É Tudo Verdade.

Menção Honrosa da Competição Internacional: Longas ou Médias-Metragens

Menção Honrosa a “Diários da Caixa Preta”, de Shiori Ito (Japão/ EUA/ Reino Unido)

Menção Especial da Competição Internacional: Longas ou Médias-Metragens

Menção Especial a “Zinzindurrunkarratz”, de Oskar Alegria (Espanha)

Melhor Documentário da Competição Internacional: Curtas-Metragens

“Só a Lua Entenderá”, dirigido por Kim Torres (Costa Rica/ EUA) que recebe R$ 6.000,00 e o Troféu É Tudo Verdade.

PREMIAÇÃO PARALELA

Prêmio Canal Brasil de Curtas (para Curtas da Competição Brasileira) 

“A Edição do Nordeste”, de Pedro Fiúza

Prêmio Mistika – Melhor Documentário da Competição Brasileira de Curta-Metragens

Melhor Documentário da Competição Brasileira de Curtas-Metragens, para o curta “As Placas São Invisíveis” – R$ 8.000 em serviços de pós-produção digital.

Prêmios EDT. (Associação de Profissionais de Edição Audiovisual) – Melhor Montagem (Curta e Longa-Metragem)

Curta-Metragem: “Utopia Muda”, de Julio Matos. (Montagem: Lucas Lazarini e Julio Matos)
Longa-Metragem: “Fernanda Young – Foge-me ao Controle”, de Susanna Lira (Montagem: Ítalo Rocha)

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