Balanço Geral e Vencedores do Festival do Rio 2022

Festival do Rio 2022

Balanço Geral e Vencedores do Festival do Rio 2022

Tudo sobre o que aconteceu na edição Opala e na cerimônia de premiação, além de um agradecimento especial a todos os voluntários

Por Fabricio Duque

E assim, entre trancos e barrancos, o Festival do Rio 2022 aconteceu e entregou mais uma edição, a de número 24, que por sua vez representa bodas de Opala, pedra preciosa que significa afloramento que o festival já viveu – e ainda vai viver. É uma metáfora mais que emblemática, porque a palavra de ordem deste festival é resistência, acoplada ao objetivo de fazer o público retornar às salas de cinema após dois anos de uma pandemia que trancou todos em casa. Para o Vertentes do Cinema, o Festival do Rio 2022 teve outro gostinho especial, já que nosso site completou 13 anos (nascido e fundado durante a edição de 2009). Mas talvez a verdadeira importância é mesmo reencontrar os amigos, fazer outros tantos e reviver nossa cinefilia no escurinho do cinema, lugar que sonhos são possíveis e a realidade pode ser apagada. Mas essa volta não só gerou flores. Muitas críticas pulularam durante o festival. Algumas continuaram a existir no meio dos filmes: público falante, que não parava de usar o celular, que entrava atrasado (algumas vezes com mais de uma hora de exibição). Outras, novas, geraram quase um “processo” (nada oficializado) ao Estação Net, tudo porque esse “novo público no novo normal” resolveu fotografar e filmar cenas dos filmes, como foi o caso de “My Policeman”, com o ídolo pop Harry Styles, no Net Botafogo, que suas fãs gravaram praticamente quase tudo. O referido cinema precisou emitir um aviso dizendo que o ato era criminoso e punido por lei. Houve também a questão do Festival do Rio 2022 exibir 200 filmes. Uma afronta ao mais apaixonado pela sétima arte, o “obrigando” a escolher filmes. Uma heresia! 

Mas o burburinho maior sobre o Festival do Rio 2022 foi mesmo a questão da imprensa. No mesmo dia que nosso site publicou a matéria “Cotação dos Filmes e o que acontece no Festival”, a crítica de cinema Maria Caú desabafou em um post público no Facebook, que por sua fez gerou uma ação-carta-petição-resposta da Abraccine, Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Leia a íntegra a seguir escrita por Caú: “Eu amo de paixão o Festival do Rio. Trabalhei nele por cinco anos seguidos. Frequento pelo menos há uns vinte anos. No entanto, o processo de credenciamento da crítica, que mudou este ano, está inaceitável. Agora você ganha uma credencial com direito a dez ingressos, número já reduzido, e só pode retirar ingresso 30 min antes da sessão (no meu veículo, temos que dividir credencial). Na prática, o que isso quer dizer é que a crítica fica com os ingressos que eventualmente sobrarem. A crítica, que afinal está trabalhando de graça cobrindo e divulgando o festival. Antes, podíamos retirar ingressos assim que os filmes eram liberados. Esse processo torna o trabalho da crítica, já ingrato, quase impossível porque você não pode se programar para nada. Tá todo mundo pensando isso e ninguém tá falando, então falo eu.  Em algum momento vai ser necessário que a crítica se organize como sindicato para que estas coisas não ocorram mais”. No mesmo post muitos se pronunciaram e ficaram do lado da crítica. Confesso que sofri com a questão de horários (e por não ter cabines de imprensa), mas nada tão destruidor (talvez porque aceitei a perder filmes como parte natural do processo). Nosso site assistiu mais de 40 filmes apenas no Festival do Rio 2022 e outros mais advindos de festivais prévios, como Berlim, Locarno, Roterdã, Sundance, Cannes). 

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Neste ponto desta matéria balanço, é preciso agradecer ao curador Ricardo Cota, as “meninas diretoras do festival”, mas sobretudo a cada um dos voluntários coordenadores de sala, do Rio Market e à produção. São esses seres guerreiros que fazem o Festival do Rio 2022 acontecer. Cada um deles precisa lidar com limitações, problemas técnicos e até mesmo arrogância de algumas pessoas do público. Cada um merece total reconhecimento e parabéns. Do Estação Net Rio; do Estação Net Botafogo; do Estação Net Gávea; do Rio Market; do Cine Odeon. E, peço licença, mas precisarei listar os nomes de todos os voluntários e todas as  voluntárias que deram seu sangue. De sair às 2:00 da manhã e retornar às 8:00 no outro dia. 

Coordenação das salas: Mariana Pierri Bersch Milanez; Antonia Pampillon; Caio Matheus; Gustavo Monção; Marina Nascimento; Fernanda Conde; Gabriel Muylaert; Isabela Brito; Maria Ianne Evangelista Santos; Mariana Athadeu; Sharon Félix; Vitor Boavista; Ana Carla Fonseca; Ana Gadelha; Caio Sarzeda Reis Guerr; Camila Quelhas Mussauer; Camile Séllos; Carina Piomonte; Clarice Salcides; Diego Barreto Neves; Gabriela Marangoni Ferreira; Gabriell da Silva Coelho; Leticia Guimarães Barbara; Luanna Silva Ferraz Mello; Lui Nacif; Luiza Rafaella; Marcela Coutinho Sendas; Maria Fernanda; Yara Sales da Silva; Juliana Trindade Jorge; Pedro Martins Andrade; Vinicius Verta; André Wilson de Sousa Rodrigues; Marina Montenegro; Marianna Leal de Araujo. Da Imprensa: Júlia Peçanha Muniz; Sofia Peregrino Ramos; Mariah Gomes Bellido. Credenciamento: Isabel; Mariana; Camilla; Endia; Giulia; Malu; Matheus. Equipe Liège: Catarina Costa Moura Franca; Eloah da Cruz Moreira de Almeida; Mariana Bege; João Victor Ferreira de Carvalho. Equipe Première Brasil Debate: Ana Clara Marques; Ellen Ribeiro; Thiago Barboza; Ana Borges. Receptivo internacional: Ana Carolina Maroneze; Ana Júlia Pereira; Floriana Palomino; Gabriel Araújo; João Gabriel; Lia Machado Forte; Maria Fernanda Cavaliere; Mariana Castro; Pedro Velloso; Rachel Rangel. Rio Market: Amanda Rodrigues; Ana Cecília; Anna Clara Borges; Breno Albuquerque; Daniel Queiroz; Emanuel Robaina; Felipe Muniz; Fernando Coelho; Filipe Reis; Gabriel Borrego; Giulia Vieira; Isabela Mendes; Júlia Giacomin; Julia Ramos; Juliana Caldas; Lais Gusmão; Leonardo Pacheco; Luiza Carvalho; Marcelle Farias; Maria Cecília Müller; Maria Eduarda Cahet; Maria Eduarda Falcão; Maria Eduarda Pereira Alves; Michele Lemos; Natália Bonnas; Pedro Henrique Brum; Rafael Xavier; Thiago Castro. Sim, cada um merece aplausos. E se algum nome ficou de fora (avise-nos que o incluiremos). 

Festival do Rio 2022

Agora podemos analisar e listar a lista completa dos vencedores da Première Brasil ao Troféu Redentor. A cerimônia de premiação aconteceu neste domingo (16), no mesmo horário do debate presidencial. Se na televisão, os ânimos dos candidatos estavam alterados, no Cine Odeon (lotado), a noite era de festa, mas também de posicionamento político. O espetáculo começou com um dueto musical dos apresentadores, a atriz Samantha Schmütz e o ator Ícaro Silva cantando “Andança”, de Elis Regina, também interpretada por Beth Carvalho. E pequenos trechos de clássicos brasileiros como “O mundo é um moinho”, de Cartola; “Primavera”, de Tim Maia; e “Sujeito de sorte”, de Belchior; que embalaram algumas sessões da Première Brasil. Este ano, a mostra reuniu cerca de 70 produções inéditas. A cerimônia não se estendeu. Era texto, referência cinematográfica e entrega de prêmios. 

O ator Paulo Gustavo, falecido em maio de 2021, foi homenageado com Prêmio Suzy Capó – Personalidade Felix do Ano. “Paulo Gustavo desafiou todos os tabus da intolerância desse país, garantindo ao circuito exibidor uma receita milionária, que desafiou todos os moralismos e quebrando todos os paradigmas éticos e comerciais. Graças a ele temos um fomento que põe bons projetos de pé”, declarou Samantha Schmütz. Confira a seguir a lista completa dos premiados! 

LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DA PREMIÈRE BRASIL DO FESTIVAL DO RIO 2022

Paloma

PREMIÈRE BRASIL

Júri: Antônio Pitanga (presidente), Clélia Bessa, Andréia Horta, João Jardim, Bernard Payen e Eleonora Granata-Jenkinson.

Melhor longa de ficção: Paloma, de Marcelo Gomes (Carnaval Filmes)
Melhor longa documentário: Exu e o Universo, de Thiago Zanato (Em Caliente Films)
Menção honrosa do júri: 7 Cortes de Cabelo no Congo, de Luciana Bezerra, Gustavo Melo e Pedro Rossi
Prêmio Especial do JúriMato Seco em Chamas, de Adirley Queirós e Joana Pimenta (Cinco da Norte)
Melhor direção de ficção: Julia Murat, por Regra 34
Melhor direção de documentário: Juliana Vicente, por Diálogos com Ruth de Souza 
Melhor fotografia: Joana Pimenta, por Mato Seco em Chamas 
Melhor roteiro: Carolina Marcowicz, por Carvão
Melhor direção de arte: Marines Mencio, por Carvão
Melhor montagem: Matheus Farias, por Propriedade
Melhor atriz coadjuvante: Aline Marta, por Carvão
Melhor ator coadjuvante: Timothy Wilson, por Fogaréu
Melhor ator: Dario Grandinetti, por Bem-vinda, Violeta!
Melhor atriz: Kika Sena, por Paloma
Melhor curta: Escasso, de Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles

Texto de Agradecimento de Julia Murat por “Regra 34”: “Muito orgulho que o meu primeiro prêmio no Brasil seja de direção, no festival do rio e com esse filme. Gabriel está aqui hoje, como diretor assistente, representando toda a equipe de direção do filme. Mas nossa direção não estaria sendo premiada hoje se não fosse por uma equipe de produção por trás que topou o risco de se filmar dentro de modelos totalmente fora do convencional: Joelma, Sabrina e Samuca, obrigada por embarcarem no risco, definirem limites saudáveis e buscarem novos modelos. E um obrigada especial a Tatiana e Isabel pela parceria e apoio desde o início do processo até hoje. Uma pareceria sem a qual seria impossível correr esses riscos. Esse modelo de produção fora do convencional vinha de um desejo de criar intimidade com os atores, buscar uma liberdade criativa, sem perder completamente a qualidade estética. Junto com Alex, Leticia e Diana pensamos em soluções para não ter equipe de arte e figurino em parte das filmagens. E eles tiveram uma confiança e generosidade incríveis ao construir mapas de figurino e estudos de arte que tentávamos seguir o mais fielmente possível. Leo Bittencourt e Laura toparam estar muitas vezes sozinhos em um set, e assumir o risco de não controlar a estética e técnica do filme, para potencializar outra coisa: algo menos palpável, mas que, acredito, ajudou a construir a vida que está pro trás do roteiro que Gabi Capello, Rafael, Roberto e eu havíamos escrito. Nessa busca por algo que não era palpável mas que sentíamos que existia por trás dessa história, Gabriel foi essencial, desde roteiro até o cartaz do filme, pensando, questionando e construindo estética, politica e narrativamente, e trazendo o seu conhecimento do universo online e BDSM para dentro do filme. Os atores toparam o desafio de materializar esse impalpável. Eles se deram a mão, se apoiaram e se entregaram abertamente para o projeto. Todos os atores. Os que interpretaram os alunos e professores da defensoria, os amigos, (Isabela, Lucas e Lorena)… mas em especial a Sol. Sem a sua generosidade, trabalho duro, entrega, esse filme não seria nada.Toda essa vida construída na filmagem tinha o risco de ser esvaziada na pós produção. E o trabalho de edição da Bia e Mair, de som do Daniel e do Emmanuelle, e da música, do Lucas e Maria foram no sentido de permitir que o trabalho dos atores florescesse. Obrigada a todos por apostarem no incontrolável.”

PREMIERE BRASIL NOVOS RUMOS

Júri: Sara Silveria (presidente), Alice Marcone, Dina Salem Levy e Eduardo Ades.

Melhor longa: Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre
Melhor direção: Leonardo Martinelli por Fantasma Neon
Prêmio Especial do Júri: Maputo Nakuzandza, de Ariadine Zampaulo
Melhor curta: Curupira e a Máquina do Destino, de Janaina Wagner

PRÊMIO FELIX

Júri: Ailton Franco Jr (presidente), Marcio Debellian, Mayara Aguiar e Luiza Shelling Tubaldini.

Melhor Filme Brasileiro: Paloma, de Marcelo Gomes
Melhor Documentário: Corpolítica, de Pedro Henrique França
Menção Honrosa: Não é A Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor, de Luis Carlos de Alencar
Melhor Filme EstrangeiroMeu Lugar no Mundo (Mi Vacío y Yo), de Adrián Silvestre
Prêmio Especial do Júri: Fogo-Fátuo, de João Pedro Rodrigues

PRÊMIO VERTENTES DO CINEMA

Melhor Filme Brasileiro: Paloma, de Marcelo Gomes
Melhor curta: Escasso, de Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles
Menções Honrosas: Transe, de Carolina Jabor; Bing Bang, de Carlos Segundo

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