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Apostando Alto

Rock n Paris

Por Vitor Velloso

Apostando Alto

O cinema francês viveu por um bom período às dependências de seu classicismo e dos realizadores renomados, tendo Truffaut como ponta de lança. Atualmente, outras envergaduras vulgares são colocadas em jogo. “Apostando Alto” de Marie Monge é uma obra que explicita como mercado cinematográfico francês tenta viver de seus arquétipos mais febris, enquanto segue uma transa rígida com a indústria internacional, mantendo o consenso da engrenagem.

A esquemática é trabalhar o romance de dois protagonistas que se envolvem com máfias e mundo de apostas, com uma catarse climática à lá Hollywood. Entre o comercial e o independente, o filme tenta se encaixar em algumas propostas de gênero que possam funcionar de maneiras mais direta e imediata. Porém, esse pragmatismo transforma a experiência em um protótipo das falibilidades mais tacanhas das obras de “apostas” que se popularizaram no final de 90 e início dos anos 2000. Todo o modelo de negócios que envolve “Apostando Alto” demonstra que o projeto se desenrola a partir de uma necessidade de mercado e não investe tanto em sua narrativa, que é deslocada para um segundo plano, afim de priorizar o impacto de determinadas cenas, explosões em diálogos de sotaques parisienses e discussões calorosas que irá terminar na reconciliação dos animos.

É a liberdade individual caminhando com o acúmulo de capital a partir de uma espécie de coaching de apostas. Se a receita soa estranha, o modo de preparo é ainda mais. O longa se esforça na atmosfera, com câmera na mão, um desenho sonoro que busca algum impacto dramático em cenas de ação, uma narração em off falada com velocidade singular para demonstrar a complexidade dos planos. Contudo, pouca coisa funciona na prática, pois o “Rock n Rolla Parisiense” tenta transmitir a tensão de seus personagens em uma trama que soa inquieta, mas possui um problema de ritmo grave. São muitos platôs que desembocam em cenas frágeis, apelativas, onde a misancene contribui para uma lentidão direta dessas relações. Enquanto a linguagem tenta achar o meio termo do industrial e passível de premiações em festivais internacionais, o espectador perde o interesse pela narrativa, que é atirada ao seu colo e retirada com igual velocidade.

“Apostando Alto” credita às interpretações principais o carisma do projeto, algum grau de sedução e uma dose de bandidagem capitalista. Porém, a química entre Abel (Tahar Rahim) e Ella (Stacy Martin) é pouquíssimo funcional, o barato meio “Demônio das Onze Horas” é atravessado por um texto expositivo e uma objetiva que não consegue fugir da representação de suas referências. Uma espécie de vício formal se traduz na câmera nervosa, pela iluminação homocrômica no figurino que não consegue acrescentar nada de novo para o filme, apenas serve de espelho. O longa é falho não por errar ao tentar algo que faça sua particularidade se destacar, sim por não investir esforços em se distanciar dos clichês que regem essa internacionalidade que o projeto esbanja.

O filme não deve fazer muito alarde, apesar de um período repleto de caça-níqueis, a publicidade está tentando vender a ideia de um suspense complexo repleto de crimes e o pôster que lembra a franquia “Ela dança eu danço” pouco convence também. É provável que caia no limbo das obras que ninguém lembra que chegou a lançar no Brasil. E com isso, seguimos como depósito de obras europeias mambembes que não conseguem uma ampla distribuição mundial e vem fazer uns números no terceyro mundo. Nossa dependência de exibição é a plataforma perfeita para a distribuição desenfreada em um descarte que parece durar o ano inteiro.

Mais grave que isso é sabermos que haverá espaço em alguns setores da Zona Sul carioca para fomentar o desejo da burguesia intelectual de assistir obras francesas. Para dar seguimento ao projeto de homologação, o Varilux trará uns baratos parecidos, como de praste. “Apostando Alto” é mais um cansativo lançamento que nos obriga a testemunhar como a indústria usurpa nossas possibilidades de acesso e maltrata a paciência do espectador. Aos que se aventurarem até o fim da projeção, poderá ver como a escola Truffaut deu lugar aos filmes de cassino norte-americanos.

2 Nota do Crítico 5 1

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