Vikken
Transformações e velhas permanências
Por Vitor Velloso
Durante o Olhar de Cinema 2021
“Vikken”, de Dounia Sichov, é um filme sobre transformações, renascimentos e transições, parte da Grécia e permanece na Europa com a mesma intensidade da cinematografia contemporânea do continente. Sua temática universal, capaz da catarse individual e coletiva, parte de uma abordagem que não recusa um eurocentrismo inerente à construção que baseia-se na liberdade de ser. Torna-se um ciclo sem fim, onde as reflexões de suma importância e o discurso que sustenta a necessidade de ir contra o conservadorismo de uma sociedade representada em um Estado que oprime, se mantém atreladas às velhas representações do “Velho Continente”.
Por mais que nesse tempo as imagens sejam capazes de evocar essas transformações, a partir das antigas representações ou mesmo da não permanência de suas formas, se atém gravemente à uma tradição que diz menos sobre a sociedade e mais sobre a consciência diante de categorizações exteriores. Mesmo que sua importância esteja fora do âmbito cultural, sua estrutura não permite equívocos quanto às evocações de apropriações e manutenções do rigor plástico e intelectual francês. Torna-se uma grande reflexão desse estado de permanente transformação, onde Véronique e Vikken são eixos centrais para essa compreensão.
É um curta que possui méritos notáveis, mas que seu arcabouço não se renova aos olhos do Sul Global, recuperando tudo aquilo que os olhos se acostumaram a ver e que a moral manteve em seu grau de eloquência de validez. Manifesto que expõe fragilidades da cultura europeia, ainda que crie uma bela representação em slow motion de como essa transformação não pode basear-se apenas na História ou em proposições da representação clássica. E talvez essa seja uma contradição interna de “Vikken” que apesar de procurar diluir essa fixação histórica de uma normatividade, atém-se à sua valoração unilateral que é acachapante nos trópicos.