Tudo Sobre a Mostra A Magia dos Pixels: Espelhos Animados da Realidade
Nos últimos dias, mostra no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília exibe filmes da Pixar em sessões ao ar livre
Por Pedro Sales
A mostra A Magia dos Pixels: Espelhos Animados da Realidade chega à última semana em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB). Com início em 14 de julho, as mágicas animações da Pixar Studios se despedem da capital neste domingo, 20 de agosto. Nos últimos dois dias (19 e 20), a partir das 19h, o amplo espaço verde do CCBB Brasília se transforma em cinema com duas sessões ao ar livre: “Toy Story 4” (2019) e “Up: Altas Aventuras” (2009), respectivamente. A entrada é franca mediante a retirada de ingressos na bilheteria física ou no site. Antes da exibição dos filmes, o público ainda assiste aos curtas-metragens brasilienses “O Extraordinário Circo do Bipo”, (2018, Brasil, 14 minutos, Animação, DF), dirigido por Juliet Jones e Cristiano Vieira e “Menino Leão, Menina Coruja” (2017, Brasil, 16 minutos, Ficção, DF), de Renan Montenegro, no sábado; e “Diná e o maravilhoso mundo da ciência” (2018, Brasil, 02 minutos, Animação, DF), dirigido por Juliet Jones, “Encantadores de Histórias” (2011, Brasil, 7 minutos, Animação, DF), de Raquel Piantino, e “Meu amigo Nietzsche” (2012, Brasília, 15 minutos, Ficção, DF), de Fáuston da Silva, no domingo. As sessões são assinadas pela Villa-Lobos Produções em coprodução com a BLG Entretenimento. O projeto conta com patrocínio do Banco do Brasil por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Distrito Federal.
As famílias que comparecerem às sessões ao ar livre poderão colaborar com a ONG Ação Entre Amigos BSB, por meio da doação de brinquedos e materiais escolares. As ações do grupo são itinerantes e beneficiam instituições que assistem crianças, idosos e famílias em regiões de vulnerabilidade socioeconômica do Distrito Federal. A organização do evento disponibilizará um ponto de coleta, onde serão recebidas as doações à entidade sócio-assistencial cadastrada. Para mais informações sobre como doar, acesse: https://www.instagram.com/acaoentreamigosbsb/
Ao todo, 29 filmes foram exibidos, desde os primeiros curtas-metragens como “Luxo Jr” (1986) a sucessos mais recentes como “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” (2020). A mostra, cuja curadoria foi realizada por Eduardo Reginato e Fabrício Duque, mergulha no mundo lúdico e fantástico das animações da Pixar. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria ou no site do CCBB pelo valor de R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). As sessões são dubladas em português, tendo em vista que é uma programação para todas as idades, e alguns filmes possuem recursos de acessibilidade. Audiodescrição em “Toy Story” (1995), interpretação em Libras (Ratatouille) e sessão azul para o público no espectro TEA (Up: Altas Aventuras).
Após a temporada em Brasília, a mostra segue para mais três capitais. No CCBB de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro fica em cartaz de 20 de setembro a 16 de outubro, enquanto no CCBB de São Paulo vai de 4 a 30 de outubro.
Baixe AQUI gratuitamente o catálogo em .pdf da A Magia dos Pixels – Espelhos Animados da Realidade CCBB Brasília
Além da exibição dos filmes, a organização promoveu outras atividades, como oficinas lúdicas e sessão comentada pelo curador Eduardo Reginato, que aprofundou curiosidades e análises sobre o filme “Wall-E” (2008). Em 28 de julho, por exemplo, houve o debate “Como Acontece a Magia dos Pixels?”, com Cecília Barroso, do site Cenas de Cinema e assessora de imprensa do festival Olhar de Cinema; o produtor e cineasta Lino Meireles (diretor do documentário “Candango: Histórias do Festival” e produtor da restauração de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”); e mediação do curador Fabrício Duque (editor geral do Vertentes do Cinema). O trio discutiu acerca dos bastidores das animações e da capacidade que os filmes do estúdio possuem de se conectar tanto com o público adulto quanto infantil. Após cada um expor seu filme preferido da Pixar, foi a vez das crianças subirem ao palco e revelarem seus favoritos, em um momento particularmente fofo com menções a “Wall-E” (2008) e “Elementos” (2023).
Para os organizadores, o conjunto entre revolução técnica nas animações e o aspecto emocional dos longas são os fatores principais da “magia” que dá nome à mostra. “Há muito tempo as animações da Pixar acessam memórias afetivas do público e promovem importantes reflexões. Por isso, a mostra A Magia dos Pixels – Espelhos Animados da Realidade é uma oportunidade única para o público brasileiro fazer uma imersão no universo da Pixar, onde cada filme é uma jornada única, repleta de risos, lágrimas e lições de vida que tocam o coração de espectadores de todas as idades”, explicam os curadores Fabrício Duque e Eduardo Reginato no texto de abertura do catálogo da mostra.
Sobre a temática das obras, Duque diz, em entrevista à TV Cultura Brasília, que qualquer um pode se encontrar nos filmes da Pixar. “Você vai mergulhar dentro de questões muito sérias: diversidade, questões LGBTQIA+. Todos os temas são universais. Todo mundo sofre, todo mundo sente a mesma coisa, uns mais, uns menos. Por exemplo, em “Os Incríveis” (2004), as questões familiares. Vou trabalhar a liberdade de ser o que eu quero, em “Valente” (2012). Tem outros filmes que você vai se identificando, porque são temas universais”.
Não é novidade que a Pixar é um dos maiores nomes, senão o maior, das animações. Tudo começou em 1979, quando ainda era chamada Graphics Group, uma divisão da Lucasfilm, produtora de George Lucas. Anos depois, em 1986, foi comprada pelo co-fundador da Apple, Steve Jobs, por US$ 5 milhões, foi neste momento em que a empresa foi rebatizada como “Pixar”, uma junção de “pixel” e “radar”. Atualmente, entretanto, o estúdio pertence a Walt Disney Company desde 2006. Essa parceria de sucesso se estendeu para crítica e público. A Pixar já recebeu 18 Oscares da Academia, 10 Globos de Ouro e 11 Grammys. De 1995, lançamento de Toy Story”, até julho de 2019, calcula-se que o estúdio arrecadou mais de US$ 14 bilhões em todo o mundo, com uma média de US$ 597 milhões por filme.
Portanto, a Pixar começou primeiramente como uma empresa de tecnologia e não propriamente de animação. Ainda como Graphics Group, a empresa criou softwares de computação gráfica e colaborou com a Industrial Light & Magic na criação de alguns efeitos visuais, principalmente nos filmes “Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan” e “O Enigma da Pirâmide”. Na venda para Steve Jobs, esse caráter foi resguardado, o produto primário era o computador Pixar Image Computer e posteriormente o CAPS, um software que permitia colorizar animação tradicional no computador. A capacidade dos aparelhos era constantemente testada por um dos empregados, John Lasseter, que produzia curtas animados como Luxo Jr. O pioneirismo da Pixar, assim, também moldou a indústria no geral. O software de renderização padrão da indústria RenderMan, usado para geração de imagens de realismo fotográfico, foi desenvolvido pela empresa.
“A Pixar descobriu a forma infalível do sucesso com sua precisa combinação equilibrada de emoção-sinestesia e aventura-entretenimento. É muito mais que uma simples aventura. É permitir a desconstrução para se reconectar com os valores básicos da família.”, dizem os curadores. “O espectador é imerso na jornada-aventura de cunho pessoal-existencial de seres ‘estranhos’ e ‘bizarros’ que se comportam exatamente aos humanos, com os mesmos sentimentos de amor, impulsividade, medo, invisibilidade e perdas familiares.”
Sobre seres “estranhos e bizarros” nas animações, Fabricio Duque, um dos curadores, ainda aponta uma intersecção desta mostra com uma exposição anterior do CCBB. “O público é automaticamente remetido aos trabalhos ultra-realistas da artista plástica australiana Patricia Piccinini e sua exposição “Comciência”, que aconteceu no CCBB há alguns anos. A artista lida com nossa reação de estranhamento, ao mesmo tempo incômodo e sedutor, desencadeando uma repulsa visual diante de esquisitas criaturas fantásticas e imaginárias, deformadas e ou mutantes. E ao confrontar, consegue aflorar uma empatia que humaniza estes seres, desestruturando a opinião já segmentada da ‘normalidade’.”
Por fim, os curadores reconhecem o aspecto emocional dos filmes da Pixar e se posicionam contra o senso comum de que animações são feitas apenas para crianças. “Ainda que a animação tendencie que é um filme para crianças, são os adultos que conseguem uma terapia cognitiva por permitir, que observando as histórias, possam receber mensagens de auto-ajuda (de superação e altruísmo – o “bíblico” sacrifício pelo bem do próximo)”, complementa o curador Eduardo Reginato.
A organização da mostra “A Magia dos Pixels: Espelhos Animados da Realidade” aproveita um espacinho deste texto para fazer seus agradecimentos a Tuka Villa Lobos, responsável pela produção local (Villa Lobos Produções); Sandra Tavares, responsável pela monitoria das sessões de cinema; Amanda Bittar, da Un Nome Comunicação; Patrícia Gomes Serfaty, assessora de imprensa do CCBB Brasília; aos fotógrafos Thiago Sabino e Fábio Rosemberg; Breno Lira Gomes, da BLG; aos palestrantes Cecília Barroso e Lino Meireles e a toda equipe que participou da realização desta mostra.