Curta Paranagua 2024

Tolkien

Açucarado

Por Vitor Velloso

Tolkien foi uma figura marcante na literatura de ficção, sua história é repleta de momentos curiosos, como a participação na Primeira Guerra Mundial e a amizade com C.S Lewis. Assim, é compreensível a vontade de passar essa trajetória para o cinema, ainda mais após a trilogia de “Senhor dos Anéis” e “Hobbit”, que gerou milhões de fãs pelo mundo. Porém, cinebiografias já possuem um estigma frágil e uma fórmula fajuta que é replicada ano após ano em personalidades menos ou mais interessantes que ele, e aqui só vemos como diversas questões desta proposta tendem ao ridículo.

Dirigido pelo nada surpreendente Dome Karukoski, o filme não vai atrás do escritor de uma das ficções fantásticas mais importantes da literatura do século XX, mas sim de um jovem que possui paixão pelas palavras e que busca ingressar em Oxford, acaba por participar da Guerra e só. Esse resumo soa injusto com a trajetória do escritor, mas é exatamente o que o diretor do longa nos mostra, a partir de uma ótica canhestra quase uma parodia de uma vida com “dificuldades”, leia-se casos amorosos e péssimas condições de terminar a faculdade. É uma experiência tão cansativa assistir à obra, que o tempo inteiro nos perguntamos o motivo da realização daquilo, pois não conhecemos nada sobre Tolkien, nem somos agraciados com um drama com D maiúsculo.

Nicholas Hoult, Tolkien e Lily Collins, Edith, são os protagonistas, que amparados por diálogos duvidosos vão compondo uma gama de cenas sofríveis, exemplo a discussão no parque, tão terrivelmente interpretada e escrita que é capaz de gerar o sentimento oposto. Enquanto isso Karukoski decide manter-se na zona de conforto de um dramalhão preguiçoso durante toda a projeção, com uma decupagem tão marcada que o espectador sente que já viu esse filme diversas vezes. Pois além de sua forma sonolenta, sua estrutura mantém a cartilha convencional de trabalhar dramas datados à maneira que convém um modelo europeu de entretenimento barato.

A necessidade constante de projetar alusões à futura obra de Tolkien é tão forçada durante a narrativa que nos perguntamos se passamos de drama fajuto à fantasia de segunda categoria. A exposição destas projeções é dada através de espelhos (às vezes literalmente) de suas criações, que utiliza situações pragmáticas que nos leva a isso, fumaça, céu, árvore etc. Toda essa encenação que busca ser lúdica através dos sentimentos do protagonista, vai esgotando todas as possibilidades de multi-camadas da obra. Karukoski é tão inábil em trabalhar suas intenções que não sabe ao que recorrer quando implementa seus clichês e sua misancene padronizada por uma impulso imperialista de remontar um caráter glorioso da História de seu país. Quando parece abdicar disso é um por um motivo de consenso geral humanístico, a Guerra, mas ainda assim não abdica totalmente da falsidade (aqui como pejorativo) plástica, pois apenas as reações do protagonista nos dão a noção real das intenções do diretor.

A trilha sonora sem vida que acompanhamos é dotada de todos os recursos batidos do cinema, ela é tão previsível que somos capazes de saber seu início, seu fim e onde o volume irá aumentar. O roteiro é possivelmente a maior tragédia aqui, com diálogos hiper expositivos, por vezes sem sentido dramático, a estrutura que ele mantém da narrativa é completamente deslocada da proposta direta, ainda que assustadoramente falha, da mesma. Tudo isso só piora com a montagem que decide refletir todas falhas do filme em sua forma.

Infelizmente não podemos dizer que “Tolkien” é um projeto bem sucedido, todas as suas etapas de produção falharam, e ainda que sua fotografia tenha um ou outro take esteticamente belo, não consegue compor, nem impor nada. O sentimento “good feeling” que alguns comentam ao fim da sessão é causado através de seu drama com muito açúcar e pouca água, que vai enjoando com o tempo. Difícil conquistar o público com questões tão problemáticas, não nos interessamos mais pela figura central, pelo contrário, apenas sentimos necessidade de sair do cinema e esquecer. Se ao menos a curiosidade fosse despertada feliz sairia o espectador. Que venha ao menos uma decência sobre a relação de Tolkien com Lewis, quem sabe? E não um longa sobre amizade, que nem mesmo dá atenção às personalidades de cada um.

1 Nota do Crítico 5 1

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