Sister
Família Acima de Tudo
Por Jorge Cruz
Assim como visto em “Kitbull“, o curta-metragem também indicado ao Oscar 2020 “Sister” foi escrito e dirigido por uma jovem realizadora que, ao contrário de Rosana Sullivan (realizadora da outra produção citada), não teve a oportunidade de trabalhar em um grande estúdio como a Pixar. Siqi Song é uma chinesa radicada em Los Angeles que, além de seus projetos pessoais, é creditada somente no departamento de arte do sofrível “Link Perdido“.
No Annie Awards, “Sister” foi indicado como melhor curta-metragem de estudante. Trata-se de uma obra de inegável primor estético. Song usa o stop-motion em bonecos de costura, trazendo estética um pouco diferente da comumente vista. A jornada da trama, escrita pela mesma, parte de um princípio universal: a relação entre irmãos. O narrador, dublado por Bingyang Liu, é um adulto que conta passagens de sua infância e a interação com a irmã quatro anos mais jovem.
Nos primeiros momentos do curta-metragem o que mais chama a atenção é a tentativa de usar as possibilidades do exagero visual como parte da narrativa. O protagonista surge muito menor do que a irmãzinha, não sendo necessário que ele verbalize o quanto ele se sentia diminuído pela suposta atenção recebida por ela. Essa construção simplista funciona muito bem para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que insiste em selecionar duas ou três produções semelhantes nesse quesito. É injustificável que Pixar (com “Kitbull”) e Sony (com “Hair Love“) consigam novos apontamentos com produtos muito parecidos com “Sister“.
Ainda mais quando havia na pré-seleção curtas-metragens que superam com folga muitos quesitos de uma produção desta natureza, como, por exemplo, “Guaxuma“. Fica a sensação de que não há interesse em sair dessa mistura de zona de conforto e produto popular, restando ao filme de Siqi Song a visão internacionalista do Oscar dentro da categoria.
O que torna um pouco mais incômodo é que a obra, além de não permitir novas experiências (visto que replica a linguagem estabelecida e popularizada das animações), ainda aposta em uma construção emocional bem diferente do afeto de todas as obras aqui citadas. Sua crítica à política do filho único chinesa, tal qual Nanfu Wang faz em “One Child Nation” é carregada de um moralismo etnocêntrico que bate no mesmo bêbado do documentário da Amazon que saiu vitorioso do Festival de Sundance 2019, mas perdeu força em sua categoria no Oscar. A maneira como “Sister” encerra seu ciclo é tão conservadora que parece discurso de ministra brasileira, uma muleta retrógrada para fazer valer seu ponto – que parece ter se tornado objeto de discussão tarde demais.