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Scooby! O Filme

O “novo normal”

Por Fabricio Duque

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Scooby! O Filme

A filosofia empírica da vida nos mostra que quando uma maestria é descoberta, o “mais ou menos” torna-se obsoleto. Os olhos “ávidos” voltam-se à novidade e dessa forma acontece uma padronização da forma, que, por sua vez, desencadeia o conforto do olhar. Um “pertencimento saudável” de entender o redor. O mercado cinematográfico talvez seja o “perigoso”, muito por conseguir captar as pessoas e suas sinapses modernas, que cada vez estão mais algorítmicas. A nova versão realizada de “Scooby! O Filme” (2020) para as telas do cinema encontrou o empecilho da crise pandêmica do Coronavírus. A urgência de lançamento gerou uma campanha voltada às redes sociais. O filme está disponível para compra nos streaming. Contudo, com a definição da reabertura dos cinemas, a animação, dirigida por Tony Cervone (de “Scooby-Doo e Kiss: O Mistério do Rock and Roll”, de 2015), ganha polêmica, necessidade, diversão e a dúvida se os pais levarão seus filmes a uma sala fechada, ainda que com todos os procedimentos sanitários respeitados.

“Scooby! O Filme” é o melhor exemplo moderna dessa padronização do olhar. A obra comporta-se como um episódio estendido de um desenho da turma de Fred, Salsicha, Daphne, Velma e o cachorro falante Scooby Dooby Doo. O roteiro mantém a narrativa de aventura, (des)ventura na verdade, em que acasos definem o ritmo e novos acontecimentos. É um filme de situações, que se utilizam da mesma estrutura já formada das típicas histórias de super-heróis (neste caso, civis sendo salvadores), cujas algumas características indicam o espirituoso humor sarcástico (os famosos alívios cômicos), a quebra até certo ponto do conservadorismo americano (como se fosse uma uniformização cúmplice do politicamente incorreto, regradas no limite do que se pode dizer), o nivelamento da diversão e com níveis dosados de inteligência coloquial (para não soar superior demais e assim afastar o público médio).

A animação, da Warner Animation Group Hanna-Barbera, também esbarra nas fragilidades da própria forma construtiva. Nós percebemos uma falta de apuro técnico, que investe mais na ideia conceitual que na qualidade visual, assumindo que é um produto para crianças, e, especialmente, por acreditar de que os “pequenos” são menores e pensam com mais ingenuidade. Logicamente, o espectador não pede uma aula sagaz e de perspicácia rebuscada, mas que entenda que esses “bambinos” estão hoje bem mais antenados com as questões adultas que os próprios “maiores”. “Scooby! O Filme” pede que sejamos complacentes com a importação de uma pureza perdida. Sim, o argumento de resgatar os conceitos importantes da vida, como amizade e a confiança em ser o que é (visto que cada um possui uma maestria e uma unicidade), pode soar piegas (quase de um tempo muito distante), porém é fofo. O longa-metragem também precisou de uma readaptação peremptória. O mundo mudou. Não há mais maniqueísmos. Vilões são humanizados, porque viveram traumas e/ou nasceram psicopatas por natureza (está aí o seriado da Amazon Prime “The Boys” para embasar os pontos de que é preciso apenas um gatilho para transformar o indivíduo – para o bem ou para o mal). E/ou a animação “Meu Malvado Favorito” com seus moralmente indecifráveis “minions”.

“Scooby! O Filme”, que foi pego de surpresa com a morte de Joseph Ruby, co-criador do desenho animado (parceria com Ken Spears em 1969), em agosto de 2020, com 87 anos, também precisou perceber que os comportamentos mudaram, transformados em fluídos e infinitamente possíveis (de escolha e existir), tanto que em julho deste ano, o produtor-diretor publicou no Instagram uma arte de Velma com uma bandeira gay. “Velma não é bi (bissexual), é gay”, disse e complementou que inseriu pistas para que público soubesse que a personagem é lésbica. Sim, o filme tenta construir personalidades particulares de seus integrantes da Kombi colorida. Cada um deles possui um temperamento e uma maneira de lidar com as próprias definições. Inteligência, força, destreza e simpatia. Se em “E O Vento Levou” é dito que “a coragem dispensa reputação”, aqui, a coragem ganha modelo, que interfere e causa redenção de perdão eterno, entre monstros mitológicos e “um por todos e todos por um”. Por mais que o filme nos argumente de que toda esse simplicidade é possível, nós, ainda, presos demais, a ultra realidade do agora, só conseguimos perceber uma ingenuidade datada, daquelas incompatíveis com o tempo presente.

2 Nota do Crítico 5 1

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