Mostra Um Curta Por Dia 2025

Rosa – A Narradora de Outros Brasis

Uma pesquisadora voraz

Por Vitor Velloso

Festival Internacional de Cinema de Paraty

Rosa – A Narradora de Outros Brasis

A maior vencedora da história da Sapucaí, com sete títulos, Rosa Magalhães faleceu no dia 26 de agosto de 2024 e foi homenageada no Festival Internacional de Cinema de Paraty com a exibição do filme “Rosa – A Narradora de Outros Brasis”, de Valmir Moratelli e Libário Nogueira. O documentário procura transmitir a grandeza dos feitos de Rosa, sua vida, a influência que exerce por onde passa e a história que possui no carnaval do Rio. 

Atravessando por histórias pessoais e muitas imagens de arquivo, o documentário faz um esforço para traçar a grande personalidade da protagonista e o arcabouço cultural que possuía, rememorando a estrutura familiar, bastante erudita, além de mencionar o extenso trabalho como pesquisadora realizado por Rosa para desenvolver os trabalhos que vimos na Sapucaí. Neste sentido, o longa é eficiente na construção das características que norteiam a vida da lendária carnavalesca, especialmente nesse aspecto de um aparato social, econômico e cultural. O problema do filme é conseguir conectar alguns depoimentos para criar uma noção de progressão, seja ela histórica ou apenas da obra em si. Pois algumas entrevistas aparecem de forma deslocada, sem um fio condutor, outras parecem ser interrompidas de forma abrupta, enquanto alguns blocos parecem ser deslocados de seus contextos de origem. Essa estranha sensação perpassa uma boa parte da projeção de “Rosa – A Narradora de Outros Brasis”, o que prejudica a imersão do espectador, e compromete o desenvolvimento do projeto. 

Em alguns momentos, é possível notar que a montagem procurou inserir uma determinada história, por parecer interessante em um primeiro momento, ou ser uma história de bastidor que nunca foi contada, mas a permanência prejudica fortemente o andamento da obra, por perder o foco e soar completamente retirado de um contexto que está sendo construído pelo documentário. Essa sensação constante de deslocamento não está presente apenas entre as entrevistas, mas às vezes com o mesmo personagem, onde há um salto no assunto tratado, fugindo completamente daquilo que estava sendo dito anteriormente. Contudo, enquanto exposição do brilhantismo de Rosa Magalhães, o registro funciona para sintetizar essa brilhante carreira e reforçar sua verve como pesquisadora, multifacetada e aberta para novas pesquisas, descobertas e incorporações. Nesse sentido, é uma importante lacuna preenchida na cinematografia brasileira, pois procurar traçar a história e trajetória de Rosa, é atravessar uma parte da história do carnaval carioca como um todo. 

Ainda assim, essa importância não retira os problemas de um filme que não parece estar em seu corte final, com oscilações drásticas no som, transições de entrevistas que parecem incompletas e assuntos cortados abruptamente. “Rosa – A Narradora de Outros Brasis” parece não saber como criar um recorte de seu objeto, pretendendo assim acumular tudo que for possível para o resultado final, mesmo com excessos e/ou quedas de ritmo, através das interrupções, o que implica nessa oscilação constante da experiência com a película. De toda forma, mesmo sendo irregular durante a maior parte do tempo, o esforço para utilizar o material de arquivo para expor algumas das falas de Rosa, assim como a série de registros dos depoimentos que falam sobre sua personalidade, características de trabalho e formas de pesquisa, transforma o filme em documento importante para que alguém possa se debruçar sobre sua carreira no futuro, por mais que apresente alguns elementos que parecem ser secundários (mesmo que relevantes), como o livro de “A Moça Prosa da Avenida”, de Luiz Ricardo Leitão, que fala com frequência no filme, segurando o livro, mas nunca há uma exposição direta da pesquisa ali presente. 

Seja pelo preenchimento da lacuna ou pelo carisma inegável de Rosa, o documentário errático consegue cativar parte do público pela estima que temos da protagonista e pela forma apaixonada com que narra suas aventuras para tornar-se a maior campeã do carnaval carioca. 

3 Nota do Crítico 5 1

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