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Questões de Família

Ressaca familiar

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

Questões de Família

A máquina de Hollywood encontrou uma fórmula muito confortável e sólida em seu modelo de produção, conseguiu, através do imperialismo cultural, consolidar uma estrutura que consolida todas as pretensões com o público, no gênero do drama (subgênero “lições”), da lágrima arrancada à “mensagem de vida”. Dessa dominação industrial, nasce, na Holanda, “Questões de Família”.

Dirigido por Will Koopman e estrelado por Linda de Mol, Tjitske Reidinga e Elise Schaap, o filme, o arquétipo máximo desse modelo de negócio remodelado de cinematografia popular, concebe uma articulação ampla, no sentido dramático, de seu encaminhamento, abarcando questões culturais próprias dos países baixos, em especial, a concepção que aterroriza a Holanda. As águas que um dia irão invadir o país por um desleixo do homem em seu habitat, é o tema centralizador do irmão autista no filme, que busca um cuidado eco psicológico com os peixes, não vê sentido no afogamento, mas procura o suicídio por reconhecer seu peso familiar em meio às discussões e um alívio para a futura perda de sua mãe. 

Implorando a mesma que não se vá até que seu cavalo marinha dê luz, ele une a família para que a mesma seja capaz de amadurecer e ganhe seu espírito afetivo com o vindouro vácuo. 

O tema central de “Questões de Família” é o tempo e seu desgaste, não à toa, por exposição mímica, as irmãs se chamam Abril (Linda de Mol), Junho (Tjitske Reidinga) e Maio (Elise Schaap). Tal tempo encontra a muleta perfeita, um reconciliação com o passado que irá culminar na busca incessante pelo pai de Jan (Bas Hoeflaak). O contorno dramático-familiar está dado. Já a questão cultural…. Ela é uma espécie de pano de fundo para se trabalhar uma inclinação aos EUA, onde se fala em inglês em alguns momentos e se fala como na Califórnia a vida parece perfeita e anda de maneira brevemente falsa, pois o “google street view” nos mostra apenas a fachada, não o interior das residências.

É uma crítica que mais parece um aceno. Pois não se põe nada em cheque aqui, muito menos a forma, já que essa, transa incessantemente com o modelo proposto pelos norte-americanos. Temos o jogo padrão: plano geral de contextualização espacial, plano e contraplano durante os diálogos e uma variação breve para ângulos não visitados, com cortes múltiplos, para dinamizar a relação. Daí o problema do ritmo se concretiza em tempo-montagem, pois esses cortes não compreendem um redirecionamento psicológico e/ou dramático da cena (como em David Fincher, para citar um exemplo da Trumpland), eles são arbitrários, indicam uma predisposição à aceleração da narrativa, mas não transporta essa linguagem para uma funcionalidade direta da situação.

E isso fica especialmente claro, em um momento onde a família está reunida pela primeira vez e o enquadramento ajuda a concretizar a mise-èn-scene ultra-teatral ali presente, a entrada de Jan na cena, os movimentos dos personagens em meio ao cenário, as reações, tudo está posto a partir de uma dramaturgia que não foge o irmão cenográfico, para que na cena seguinte às pazes sejam feitas com as novelas de TV. E essa relação afetiva com as novelas não é difícil de enxergar durante a exibição do longa, pois toda a narrativa se dá nessa concepção de reviravoltas dramáticas contidas em um espaço determinado, seja ele psicológico ou “geográfico”. 

O filme acredita que soltar diálogos deslocados da realidade, para que haja uma digressão “intelectual” da narrativa é positivo para que se compreenda a potência do pensamento de Jan, por isso cai na armadilha de acreditar ser mais potente do que realmente o é, pois desses momentos, pouco se aproveita da relação autismo x família x intelecto x incompreensão. Dessa forma, a afetividade vira uma costura para essas relações que se dão ao longo do tempo, sendo apenas um apoio para que o jogo formal se realize enquanto verbalização desses problemas familiares. 

Em “Questões de Família” as problemáticas do capital, natureza, família e reconciliação através do tempo, estão dadas à maneira que a indústria enxerga salubre as conceber. Nada foge a padronização Hollywoodiana, apenas se estrutura em um ambiente geográfico e cultural que se consolida através de meandros brevemente distintos. E quando se propõe a falta de humanização do trabalhador frente à seu ofício, a mais-valia emocional é dada por uma das poucas, se não a única personagem negra do filme. Que leva um dos meses, caracterizados em personagem ao vômito da ressaca da noite anterior. 

As relações interpessoais se dissipam no final xerocado de todos os projetos que servem de base a este. A ressaca se confunde no ato de debruçar ao vaso sanitário com a ressaca marítima que vai irromper diante da Holanda, deveríamos chamar de Estados Imperialistas da América, mas é mais fácil articular uma cortina de fumaça.

1 Nota do Crítico 5 1

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