O Último Rei da Sérvia
O último rei em movimento
Por Vitor Velloso
Cinema Virtual
São muitas obras que consideramos alguma relevância pelo estatuto informativo que trazem. “O Último Rei da Sérvia” não consegue fazer isso. Aqui, as coisas funcionam como mera exposição de encenação da especulação dramática dos meandros da Primeira Guerra. E ainda falha.
Dirigido por Petar Ristovski, o filme quer conciliar uma formalidade para negociar à distribuição no mercado internacional, ao passo que anseia em firmar alguma autoria em torno da condução narrativa. O problema reside na descida vertiginosa que o filme realiza, para conseguir esse acordo prévio. São muitas peças fora do lugar, um excesso de situações tacanhas, vexaminosas, com música alta para reafirmar o momento dramático, que vão transformando a obra, em uma colcha de retalhos que visa um gatilho simplório em um engajamento sentimental do público, ao passo que ensaia uma personalidade que recorre sistematicamente ao raquitismo (en)cenográfico.
A decadência imagética denuncia a pequeneza do projeto, que assalta as próprias ideias e dispara pela rua, desesperado como o assassino de pincel italiano. A diferença da anedota à questão do texto, se encontra no auto das ideias. Não se trata de um mero desvio de conduta, ou uma aberração figurativa, mas sim da exposição desses escrivães que nem sequer título possuem. Se igualarmos o primordial da parábola com o que dá título à postagem, teremos na gênese da fabulação: História.
Em pensamento seccionado, para não soar tão unilateral no campo ideológico, podemos abrir verberações possíveis quanto às questões de liderança ao longo do maiúsculo. Uma pena Pedro não ter aprendido com BK. Líder em movimento ocupa seus inimigos com a capa do jornal e a boca do povo, o outro rouba a bituca do cadáver e mira o mar. Veja lá! Até tabaco ele nega aos mortos! Pobre de Caronte se o escambo for como nas cadeias. Os mortos condenados à vagação e o remador ao suplício da Souza Cruz.
O leitor se pergunta sobre o que escreve o demente auto denominado. A verdade é que o mesmo distrai os olhares. O tédio agonizante de “O Último Rei da Sérvia”. Antes fosse por deboche em reflexo da obra. Não! Não! Quem me dera! Solene o que nos obriga repousar-se sobre o ecrã. Por setemilequentos segundos. Afim de ver o balacochê de um “brkovi” eleito pela vontade de Madalena e mais ninguém. Balbuciando palavras cíclicas sobre a tragédia da guerra. Então, convido o fazedor de xerox, com semelhante suntuosidade, à revisitar a Ilha.
E se a disposição de tornar a leitura menos (i)lícita, surge por uma falta de brio em debruçar-se sobre “O Último Rei da Sérvia” :O homem que nega tabaco à cadáveres, o mesmo pode ser dito sobre a funcionalidade daquilo que farei adiante, explicitar o óbvio. O que? Que tudo no longa surge como uma réplica ocasional, seja na montagem ou mesmo na fotografia. Mas réplica do que!? – Irrompe o anão na taverna dos arcos luminosos – Poderia eu ignorá-lo, mas basta olhar o catálogo do serviço cristão. Spitak que o diga. E se o diálogo soa distante, perdoe-me, é para salvaguardar Édipos futuros, que os olhos não sejam vítimas de equívoco particular.
Metonímia formal. Música. Imagem. Sentimento. Equação que não cabe na tela. Transconfiguração textual. Razão. Inaudita. Ora, ora, seria uma versão descabida (com a misericórdia do bom senso) do sugador de películas, fumador de tabacos!? Sim! Se Jairo Ferreira morresse na frente de Pedro, este lhe roubaria o cigarro! O mesmo para Clarice! Joaquim! João Ubaldo! Abaixo ao imperialismo! Onde já se viu tamanho atentado à cultura nacional! O que vocês querem?! Impedir que obras brasileiras sejam consumidas? Pois não conseguirão! Pois o filho do puto está a frente do espelho, o Matador de Cangaceiro saiu do sertão para invadir suas casas! Caminhou do Inferno para o ambiente virtual e quer sangue!
Interrompemos a programação para dizer que a estafa alcançou o pobre escritor. Sendo assim, vamos continuar a partir de suas inconclusões.
“O Último Rei da Sérvia” é uma obra que não se distancia dos demais produtos que são comercializados no mercado internacional, pois parece apreender a estrutura narrativa e a linguagem como recurso de informação histórica e especulação de si. Se atém a pequena de um materialismo para captar seu espectador enquanto corrobora com o aval das distribuidoras brasileiras.
Ele voltará.