Curta Paranagua 2024

O Mensageiro do Último Dia

O barato do vazio

Por Vitor Velloso

O Mensageiro do Último Dia

“O Mensageiro do Último Dia” de David Prior é mais um caso de tentativa da indústria de redirecionar seus esforços para fomentar o mercado dos genéricos com algumas bombas possivelmente comerciais.

O filme de Prior será divulgado como “complexo”, “de explodir cabeça”, “intrigante” e qualquer adjetivo ou termo que posa tentar instigar o público a “decifrar” o filme. E aqui existe o primeiro sintoma dessas produções, obras que possuem uma diretriz simples, mas uma construção narrativa tão fragmentada que evoca uma ideia de “complexidade” na colcha de retalhos dos clichês estonteantes. Toda a trama que envolve o “Empty Man” é uma mistura de Cientologia com pastor pós-dízimo e umas pitadas de lenda urbana. A “mistureba” toda até poderia dar um barato interessante, se os personagens não fossem tão unilaterais e a linguagem não se achasse tão “modernona”.

Tem uns drones, umas tomadas tremidas, em alguns momentos o filme se aproxima de umas ideias de videoclipe etc. Mas como tudo em “O Mensageiro do Último Dia”, os recursos são utilizados à esmo, como quem procura uma determinada aprovação formal de um setor da indústria, agregando muitos recursos, utilizando todos apenas para estilização. O mercado vêm tentando encontrar outra proposta de linguagem que possua um impacto de “Atividade Paranormal” nas cifras, para isso, algumas obras vão se amontoando, é uma espécie de “tentativa e erro”. Com muitos erros, lógico.

Por mais que o filme se esforce para criar uma atmosfera, e compreenda uma artificialidade particular que possua, não consegue manejar os esforços para criar uma unidade funcional, em torno de nenhum “clima” propriamente dito, tudo passa batido por imagens flickadas, músicas miméticas que surgem repentinamente e uns arquétipos de “susto”. O maior problema de “O Mensageiro do Último Dia” é tentar passar por cima de suas fragilidades e não incorporá-las. Prior faz de tudo para tentar surgir efeito a partir de suas pirotecnias formais, se esforça horrores para tentar criar uma espécie de frenezi na narrativa, que jamais se concretiza, pois além de mal construída, é previsível, repleta de clichês e fragmentada. O desejo de se tornar “enigma”, acaba forçando cada traço da história em um bololô de personagens, que surgem e desaparecem de tela, quando o longa julgar “necessário”.

O trailer tenta se promover como uma espécie de “terror adolescente” com tramas de jovens invocando o tinhoso, umas mortes, um policial e uma criatura que persegue suas vítimas. Contudo, não consegue ser um “Bye Bye Man”, “Hangman” e outros capetas juvenis. Não consegue uma onda de mortes que possa fomentar o fetiche de violência que o mercado necessita. O policial é o de sempre, deixa muitas pistas passarem, abusa no álcool e é desacreditado por todos. E a “criatura” tá mais prum borrão de paint que aparece ocasionalmente, pra dar trabalho pro pessoal dos efeitos especiais. Nenhuma de suas aparições consegue, ao menos, transmitir um grau de periculosidade que faça o espectador ser impactado com sua presença.

No fim, até seus esconderijos são pouco pragmáticos, a “poderosa criatura” fica agachada num degrau da escada para assustar o protagonista. Se ao menos fosse um trash assumido, ia ser um bocado divertido. Mas “O Mensageiro do Último Dia” acredita no poder de sua linguagem “moderna”, seus flicks e em plots previsíveis. O resultado disso é uma interpretação desacreditada de James Badge Dale que acaba comprometendo ainda mais com a soma de clichês que culmina na decadência do filme, que é agravada pela duração de 130 minutos, que parecem uma eternidade.

Se tudo já parecia complicado, quando o longa decide assumir seu lado sobrenatural, com discussões metafísicas e um protótipo de possessão, o negócio desanda gravemente. Infelizmente o fã de terror deverá seguir suas procuras em outras obras, porque o “homem vazio”, é vazio mesmo. Acontece que essas tentativas de reformular a obra em uma linguagem que se vê representando os interesses da indústria, só o transforma em produto descartável, pois não se concentra em usar o artifícios a favor, só pirotecnia mesmo. Janeiro já começa a janela de descartes, mostrando pro que veio.

1 Nota do Crítico 5 1

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