Mostra Um Curta Por Dia Marco mes 9

O Filho de Sofia

Entre as realidades

Por Vitor Velloso

Reserva Imovision

O Filho de Sofia

“O Filho de Sofia” de Elina Psikou que chega ao Reserva Imovison, desafia o espectador ao desconforto constante sem forçar suas arestas dramáticas. A obra funciona em um sistema ambíguo de representações, o real e a fantasia que se popularizou nos últimos anos. A verve parte de uma chave comum dessa assimilação das dores e abusos para o espectro da fuga, não à toa, os países que estão desenvolvendo o realismo-fantástico atravessam momentos conturbados, é uma reação não-natural de lidar com essa realidade brutal que nos cerca. 

Por essa razão, é necessário compreender que a vida do protagonista sofre uma realocação drástica que envolve não apenas a troca de país (cultura, língua) como a necessidade de lidar com a ausência paterna e a realidade materna. “O Filho de Sofia” se desenvolve um tempo lento, arrastado, mas que queima violentamente conforme a progressão expõe parte dos demônios que cercam o personagem central. Seu padrasto é conhecido na Grécia como um homem que ama as crianças, mas se revela um torturador, abusador e eugenista de uma herança histórica, material que tenta a todo custo, sucumbir a história de Misha (Viktor Khomut) para uma nova idealização da Grécia. E os Jogos Olímpicos simbolizam essa “comunhão de culturas” que são seccionadas por uma competição repleta de naturalizados e “não-gregos”, como é salientado por parte dos personagens. 

O processo de homologação cultural sintetizado na empreitada de uma geração possui uma contraposição geracional que é exposta em blocos dramáticos que a obra discute. E o escape para essa turbulência fica mais claro na medida que os mascotes das Olimpíadas são materializadas em desejos, sonhos e pesadelos que se materializam diante da tela em planos sequências de luminosidade seletiva, onde o cenário se distancia da proposição já estabelecida para criar um universo distinto. “O Filho de Sofia” faz poucos recortes para essa construção multifacetada da própria estrutura, mas utiliza do absurdo na fantasia, a fim de desarticular o rigor formal presente durante boa parte da projeção. É uma dicotomia que nunca se formaliza a partir das divergências entre os mundos, mas da assimilação dessas realidades. Apesar de ajudar a consolidar a ideia por trás dessas opressões que o longa está representando, as investidas são breves e não são articuladas de maneira conjunta ao eixo narrativo principal, que envolve essa relação conturbada de Misha com Mikos (Thanasis Papageorgiou). 

Dessa forma, o espectador é constantemente realocado entre o cúmplice e o mero espectador, o que explica parte do rigor formal que a obra assume ao tratar da desavença do protagonista com parte do mundo ao seu redor. O filme parte de um acordo entre desafios regularmente dados por cenas que provocam e incomodam o sossego do público diante do lugar passivo que foi colocado. O meio de campo é feito por uma montagem que compreende os tempos dessa representação, ou seja, sabe que a relação entre os espaços que explora, em sua grande maioria, estranhos a Misha, e a duração de uma contemplação que cabe no quadro à medida que existe uma expansão desse universo do real. A partir disso, toda a calmaria está suspensa e a situação é o desconforto em uma crescente que cessa na primeira lágrima de nosso protagonista, rodeado de sonhos e anseios fomentados pelo imaginário da política internacionalista que o esporte carrega em si. Curioso ver o filme em um cenário onde o Brasil, pior centro da América Latina para sediar a Copa Libertadores da Améria, uma “Cova América” do Conmebol, aceita liberar 4 estádio (+1) para comportar os jogos de um “covidão” latino com a segunda dose da vacina em comprometimento. 

“O Filho de Sofia” é uma síntese de como a política internacional destrói a estrutura da cultura interna em prol de uma homogeneização capitaneada pela alta burguesia, aqui representada pelas Olimpíadas, militarismo e programa de TV infantil. Ou seja, toda a indústria de ideologia burguesa que reina o capital de giro. Misha é uma figura que sofre com essa transa maníaca que a Europa promoveu e fica na mão de um abusador que pouco se distancia dos piores nomes que já pisaram no continente, e olha que não faltam candidatos….

3 Nota do Crítico 5 1

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  • comentários eivados de muita politica e carentes de adpectos de arte
    Cinemátografica em si mesma.
    Neste país ideologias
    Engolem a cultura na sua essência!

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