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O Beco do Pesadelo

Nostalgia exaustiva

Por Vitor Velloso

Durante o Festival do Rio 2021

O Beco do Pesadelo

O novo longa de Guillermo del Toro confirma a má fase do cineasta em meio aos orçamentos espalhafatosos. “O Beco do Pesadelo” é um estiloso noir de pouca substância e muita especulação, recheado de alegorias frágeis que sustentam um drama profundamente desinteressante. Contudo, o charme do design de produção e a sedução que a câmera provoca, consegue dar um tom para o entretenimento. O maior problema do filme é que toda essa construção de época, para nos mostrar a década de 40 e fazer homenagens ao cinema feito nesse período, é tão esvaziada de propósito que a própria diversão prática não acontece. A sensação é que as duras horas e vinte de projeção apenas reproduz uma série de elementos para conquistar através da nostalgia.

O longa é baseado no livro “O Beco das Ilusões Perdidas”, de William Lindsay Gresham, e conta com um elenco de peso: Bradley Cooper, Rooney Mara, Cate Blanchett, Toni Collette, Williem Dafoe, Richard Jenkins e Ron Perlman. Semelhante à “A Forma da Água” (2017) e “Colina Escarlate” (2015), “O Beco do Pesadelo” revela a face mais diluída das propostas de Guillermo del Toro, uma espécie de opacidade diante de um estilo que se esvazia no primeiro contato. O resultado se limita nas imagens bonitas, dramas particulares, traumas do passado e toda a pompa de uma direção de arte capaz de reconstruir épocas, ainda que com a particularidade do cineasta, uma atmosfera estranha difícil de categorizar. Porém, essas características acabam saturando o profundo vazio de suas narrativas, mesmo que possua, isoladamente, alguns momentos de brilho. Por exemplo, toda a trama envolvendo Stan utiliza o passado para justificar certas atitudes tomadas pelo personagem, até mesmo sua ganância. Sua arrogância é um tema recorrente, que modifica por completo os acontecimentos, provocando uma ruptura das próprias conquistas.

Esses recursos na construção dramática já estava presente em outros filmes, mas aqui a coisa fica ainda mais exacerbada, insistindo em um tipo de engajamento com esse luxo decadente, uma espécie de demonstração das fragilidades de seus personagens através de uma abordagem ainda mais ampla. Da mesma forma que em “Colina Escarlate”, a proposta funciona por um breve momento, vacilando em tantos pontos da projeção, que deixa um vácuo na experiência. O espectador pode assistir “O Beco do Pesadelo” e sair frustrado com sua inocuidade, com as tentativas de aproximar as inúmeras analogias, tão presentes no cinema de Guillermo del Toro. A sensação é que o filme é aborrecido com a própria grandiosidade, provocando constantemente a fotografia a demonstrar toda a beleza de seus cenários, dos efeitos especiais, do figurino, e que no meio desse glamour todo, há uma história que envolve charlatões e jogos de dominação.

De toda forma, alguma interpretação em torno da própria função de cineasta diante dessa manipulação do universo, pode ser feita, mas sem grande rigor, já que tudo é afetado pelo maneirismo cínico. Não por acaso, as atuações são recheadas de tiques, pontos de apoio, seguindo a mesma lógica da direção, que reforça um certo padrão do Noir, reproduzindo à exaustão os clichês.

“O Beco do Pesadelo” é tão falcatrua quanto seu protagonista, trabalha com ilusões e manipula a narrativa para que cada novo movimento de seus personagens pareça épico, decadente e luxuoso. Mas essa vaidade toda parece falsa desde um diálogo com “Freaks”, onde os reclusos também fazem parte dessa dança de um orçamento estratosférico e um resultado frágil. Guillermo del Toro e Iñarritu estão assinando produções que dialogam com alguma intimidade, ambos perderam o brilho dos filmes do início da carreira e demonstram que quanto mais próximo do coração da indústria, maior a dificuldade de poder construir um filme que possa fazer jus aos louros do passado.

Por fim, o longa termina em uma moralidade que reflete o quão superficial e mimético pode ser uma tentativa nostálgica de estilizar um contexto.

2 Nota do Crítico 5 1

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