NF Trade
Vendemos filmes digitais baratos
Por Ciro Araujo
Durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2021
A tendência atual é de modernização nos métodos de pagamento. Veio o chamado blockchain. Brasileiro, o PIX. O NFT saiu em um desmembramento. “NF Trade” parece um escolha da curadoria do Festival de Brasília como forma de apontar o lema principal desse ano: “qual o cinema do futuro e qual é o futuro do cinema?”. A conversa dentro dessa produção ao redor desses tokens não fungíveis (é o que significa a sigla) chega a ser absurda. Se, algumas dessas moedas já superaram os fortes impactos ambientais que trazem consigo, a aproximação que Thiago Foresti traz consigo ao suposto futuro é confusa. Por um momento, uma exaltação, por outro uma piada. Mas, nada além.
O tema já pressupõe uma questão confusa. Apesar de popular, toda a digitalização monetária continua de difícil acesso ao conceito rotineiro. Talvez expôr essa ideia de capitalismo tardio fosse de maior interesse. Entretanto, “NF Trade” é um filme imóvel. Apresenta uma situação, dissolve em preto e nos mostra algo próximo de um epílogo. Ou “cena pós-crédito” – porém, antes do crédito – como o cinema de heróis nos ensina a chamar-los. Nada além. O cineasta decide investir na situação que, novamente, é longe de uma de compreensão popular. A conversa sobre a verdadeira necessidade dos NFTs parece distante o suficiente para não haver apelo.
A forma que Thiago decide também montar é duvidosa. Duvidosa no sentido também de ser estranho à alguma proposta estética, narrativa, ensaísta. É uma espécie de “e se” que não propõe os absurdos de uma digitalização da apropriação artística. Afinal, não é de hoje que o conceito de possuir arte como única para si existe. Agora, em plena era de reprodutibilidade técnica o que ser debatido é como a tecnologia pode ser aplicada para um meio como a agricultura familiar. É uma forma de advogar, mas estranhamente, de a ironizar. Sem dúvida, o tema será ainda plano de fundo para o cinema se interessar por, mas aqui está longe de ter algo além. E por sinal, ao seu final o ato de promover a venda de seus próprios tokens, que seja como forma de contribuir para o orçamento do filme, torna a produção do curta-metragem como campanha de si própria. Aí já viria a discussão sobre o festival promover a venda de produtos durante a exibição de seus filmes…