Festival Curta Campos do Jordao

Não Se Pode Abraçar Uma Memória

Ecos de algum lugar

Por Vitor Velloso

Durante o CineOP 2021

Não Se Pode Abraçar Uma Memória

“Não se pode abraçar uma memória” de Pedro Tavares é um curta-metragem com a clara assinatura do diretor. E não em um sentido restrito ou vulgar de autoria, mas que é parte do que vemos em seus textos, curadorias e conversas. A homenagem a Eli Hayes é particularmente bela e traz consigo a ideia de um plano que carrega o poder de materializar os sentimentos. 

Porém, está claro que essa saudade possui uma verve singular, com pouca ressonância em parte dos espectadores. A própria palavra não se encontra em diversos dicionários ao redor do mundo e sua compreensão é de impossível categorização. Aqui, a exposição de Nova Iorque está entre o delírio e o sonho de uma idealização que me parece inconcebível. Perseguir um arquétipo utópico inviabiliza que essa matéria venha à tona na tela. Não por acaso duas “realidades” travam uma batalha na projeção, uma interferindo a outra, mas esse passado sempre, ou quase, se sobrepõe. Essa virtualidade da imagem é uma certa aproximação com certezas estruturalistas da concepção de espaço e tempo. E aí entram divergências que são incontornáveis e uma digressão pessoal que deve ser feita. 

Nova Iorque sempre me pareceu uma farsa moral da ideologia norte-americana, uma espécie de encenação urbana, que diferentemente de São Paulo (que respira sua cultura em um materialismo), é tão virtual quanto o giro que a norteia, uma ideia. Contudo, sua convergência é explícita. Algo que o Rio, cidade onde nasci e vivo, funciona na posição oposta. Nada se converge, o material é fundido ao metafísico, a memória surge do concreto e se encerra no ritual. Assim, “Não se pode abraçar uma memória” soou com uma simulação de ideia, entre virtualidades e convergências de espaços e tempos, sempre no campo de suspensão do conceito. 

Quando o filme assume essa virtualidade e trabalha com uma espécie de silhueta desse real, as coisas vão bem. Quando persegue o imaginário da saudade, inegavelmente amparado em uma encenação constante, até as notas direcionadas a alguém parecem distantes e perdidas em um ínterim que o próprio simulacro não comporta. E essa ansiedade e aflição da incapacidade de se aproximar dessa projeção, é uma proposta que exige fé, aliada ao martírio. Somando essa convergência, os caminhos levam à imagem do sofrimento, tal como uma Igreja. Se este é o caso, a proposta de suspensão não dá pé. 

2 Nota do Crítico 5 1

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