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Não Nasci Para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo

Exposição e didatismo

Por Vitor Velloso

Durante o Festival É Tudo Verdade 2020

Não Nasci Para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo

Mais um integrante da Mostra Competitiva de Longas Metragens Brasileiros no É Tudo Verdade de 2020, “Não Nasci Para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo” de Claudio Moraes, é uma obra que possui o exercício do didatismo contundente de quem faz exposição de obras. Não trata-se propriamente de uma biografia, nem mesmo de um compilado artístico, mas é a compreensão do atravessamento espaço-temporal da obra de um fotógrafo, Orlando Brito, que marcou seu olhar em momentos importantes da História brasileira. Além disso, fez como os verdadeiros homens dispostos a desenhar a luz e traçou uma paralelo pelo Brasil em torno das personalidades que moldaram o contemporâneo e do povo que está por receber os créditos dessa terra. 

O grande problema é aqui, é que a articulação que o filme propõe não consegue sair dessa proposição expositiva de como a carreira do fotógrafo possui a dinâmica de parte do séc XX. É uma esquemática que confunde o didatismo e a linguagem televisiva de cíclica compreensão através da ratificação. Isso é explicado com teor facilmente discernível, já que o projeto em si parece perder grande parte de seu interesse em formular algo que não seja a clássica mimesis em torno dessa pontualidade histórica em torno de uma personalidade. O resultado é um documentário que apesar de curta duração, parece possuir o dobro de exibição, pois há um claro entrave entre o campo formal e o dever didático auto imposto por Claudio aqui. E essa digressão nos campos, faz com que Orlando Brito se torne mediador da explicitação constante de sua obra, com o direcionamento para a exaltação da imagem. Que não consegue manter sua qualidade ao longo do documentário, com grandes desníveis na exibição das mesmas. 

O espectador se vê facilmente seduzido à fuga, já que os minutos vão se somando na mesma tecla e a versatilidade se torna um sonho distante. Está claro que parte do trabalho do fotógrafo gera interesse, pois sua pontualidade com a recorrência política, em momentos baixos e muito baixos, é constante. Além do mais a necessidade de representar um Brasil que foge à padronização utópica da burguesia. E aqui deve-se dizer que esse almejo se dá através de um deslocamento na psicologia do restante do país, no campo histórico e geográfico. As aberrações são estrondosas. 

E nessas potencialidades que “Não Nasci Para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo” passa a degringolar, pois recorre à facilidade da superfície e da exposição, sem conceber o intenso olhar crítica da objetiva cinematográfica através do espaço e do tempo, mesmo que apenas a constatação de divergências no campo pictórico, político, ideológico, quiçá da transcriação representativa do fixo ao movimento. É um lugar de conforto que se mantém na linha mimética de quem propõe a aula como conciliação da apresentação e do reforço de seus gostos. Sempre no campo do privado, da subjetivação dos dados materiais, ainda que mediados por câmera-olho, é que reside o problema dessa falta de brio em torno da verve tupiniquim que se debruça sobre a terceirização de suas representações. Neste eixo, há o desvio da própria crítica possível, seja a imagem, ou contexto nacional, pois o paralelismo determinista em torno dessa categorização excessiva de pontos chaves para sua narrativa, o excesso de fades e o pragmatismo musical de tentar tornar agradável a experiência de escutar a apresentação cíclica, forma essa especificidade central da imagem. Pois é a velha tentativa da classe dominante de despir a política do quadro, picturizar o pictórico, reforçar a criação como gesto espontâneo. É o distanciamento do material como produção, para uma idealização fálica em torno desses pilares históricos que se consagraram ao longo dos anos no Brasil. 

“Não Nasci Para Deixar Meus Olhos Perderem Tempo” possui em seu título uma possibilidade da dialética em meio dessa imagem e produção, mas acaba tornando o exercício a sensibilidade de quem sonha em unir cinema e a áurea da burguesia e a contemplação dos quadros em uma exposição sobre História e ainda que estivessem nos momentos, precisam de um slide para que entendam o presente. Por fim, a resolução está sempre em torno dessa compreensão do didatismo e do televisivo como força uníssona para o grau de exposição. 

2 Nota do Crítico 5 1

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