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Missão: Impossível 7 – Acerto de Contas Parte 1

Muita farinha para pouco pirão

Por Fabricio Duque

Missão: Impossível 7 – Acerto de Contas Parte 1

Escrever sobre alguns filmes vira uma missão impossível aos críticos de cinema, em especial aqueles sobre franquias, como por exemplo, “Identidade Bourne”, “Velosos e Furiosos”, “Transformers”, “Harry Potter”, “Star Wars”, entre tantas outras. Isso acontece porque a cada obra continuada temos a percepção de que tudo o que vemos soa como um produto de massa, padronizado e com propósito unicamente para diversão casual e na maioria dos casos esquecível, quase no tempo comestível da pipoca. Dessa forma, “Missão Impossível”, a versão norte-americana de “007″, não foge à regra da indústria hollywoodiana, cuja campanha midiática não mais pinça doses subliminares, mas sim usa a artilharia pesada a fim de convocar o público aos cinemas. É como a máxima da propaganda: se você não assistir, você ficará para trás. Mesmo que se saiba que toda essa experiência é líquida, ainda assim, esses filmes batem altos índices de audiência. A neurociência explica. Nós somos levados pelo meio social e pela massificação de estímulos divulgados na televisão, internet e outdoor externos. Essas análises ganham eco por causa do novo “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1”, sétimo capítulo da saga de ação e espionagem, iniciada em 1996, e que neste se dividiu em duas partes. 

“Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1” é realizado por Christopher McQuarrie, que já dirigiu dois filmes da franquia “Nação Secreta” (2015) e “Efeito Fallout” (2018), e que já foi anunciado que fará a oitava continuação. Sim, “Missão Impossível: Acerto de Contas – Parte 1” é uma obra honesta, visto que não pretende ser mais do que nasceu sendo, um longa-metragem de gênero de ação que entrega muitos momentos de tensão, perseguições, tiro, porrada, bomba e a sobrevivência no último milésimo de segundo, sempre no limite do limite. Ah, e Tom Cruise, papel desenhado para ele e que neste também se rendeu ao novo efeito queridinho do momento: a visual harmonização facial rejuvenescedora (pela inteligência artificial). A mesma técnica foi utilizada de forma mais explícita com Harrison Ford no novo “Indiana Jones e o Chamado do Destino”. Mas nos perguntamos: se tudo é mais do mesmo qual o motivo de fazer mais capítulos? E esta crítica é necessária? Questão difícil, polêmica e existencial. Então, o que podemos retirar de “Missão Impossível: Acerto de Contas – Parte 1”? É possível nos surpreender? Vamos por partes!

Para começar, a narrativa de “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1” desenvolve-se de forma didática e mais dramática, tudo é detalhadamente explicado, inclusive pela inserção de flashbacks. A parte do submarino russo, por exemplo, consegue ser uma sucessão de ingênuos clichês ambulantes deste gênero de espionagem. Um dos propósitos de “M.I” é abordar os perigos de nossa sociedade. Desta vez, o inimigo é invisível. Um fantasma tecnológico com elementos surpresa. O que destoa na ambientação não é sua condução mais facilitada, quase preguiçosa da direção (especialmente por dotar suas personagens com insights), mas sim a impossibilidade que o espectador tem de acessar a história, como se houvesse uma proteção, uma distante aura metafísica, uma névoa artificial. A partir dessa entidade misteriosa (uma “coisa” que se tornou consciente – um “parasita digital”), nós podemos evocar a referência de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, por causa da ideia do sistema (a máquina) controlando os humanos. “um inimigo em todo lugar e nenhum lugar”, diz-se, entre trabalhos que usam outras pessoas. Se em “Minority Report”, com Tom Cruise, nós imaginamos que a realidade ficava apenas na fantasia (não está mais devido ao novo lançamento da Apple, o óculos de realidade virtual Vision), então daqui a alguns anos, esta ideia poderá acontecer também (ainda que com “bilhões de combinações”)

Pois é, “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1” continua a seguir com melodramas sentimentais, drones, frases de efeito e alívios cômicos. Em Roma. Desta vez, o humor vem de uma civil contra criminosos, que se comportam como “impiedosos robôs assassinos”. E nem o Rio de Janeiro escapa de uma referência prisioneira. Uma ladra sem muitos conhecimentos ilícitos. Aqui, por mais que se tente desconstruir e reverter o machismo estrutural presente no histórico de filmes desse gênero, ainda assim, há mulheres fatais e flertes com “dificuldade”. Outra desconstrução buscada é a de potencializar a vulnerabilidade do protagonista Ethan, o agente invencível, mas que perde lutas e precisa adiar missões. É,“Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1” não quer desperdiçar nenhuma carta na manga. Usa tanto tudo que se perde. Esse balaio de gato apela para “mortos que não retornam”, messias e encontros românticos em Veneza. Bate na mesma tecla de policiais contra Hunt, criando o inverso. Aqui, Tom é salvo e Jerry sempre sofre as consequências. 

Tá, e o que pode surpreender em “Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1”: toda a cena do trem. Um ponto que o espectador torce por finalmente ter seu ingresso pago. Entre “detalhes só atrapalham”, psicopatas mais desligados e questionamentos sobre a rebeldia de Ethan não ser assim tão sem motivo, violência gratuita e altruísmo, tudo soa solto demais, como se fosse uma colagem de momentos. Para concluir, depois do que foi dito, o jeito é aguardar a segunda parte para dizer a nosso cérebro que o ciclo acabou, mas nunca se sabe, não é? Agora até os roteiros podem vir por IA, já pensaram nisso? 

2 Nota do Crítico 5 1

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