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Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar

A fragilidade do comercial

Por Vitor Velloso

Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar

Filmes sobre futebol possuem apelo popular, já que é o esporte mais jogado no mundo, mas quando se trata de América Latina, o impacto cultural é diferente, com uma intensidade profunda, visto que os países latinos possuem a tradição de conciliar a política através do futebol, e vice-versa, além de estender as rivalidades à setores exteriores ao próprio âmbito esportivo.

Dirigido por Carlos Andrés Morelli, “Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar” segue um padrão narrativo bastante comum no cinema, a dramatização de uma jovem promessa que perpassa por todas as dúvidas e enfrentamentos que a responsabilidade do esporte faz surgir. Assim, é difícil se impressionar narrativamente com a obra, já que conhecemos cada aspecto que será trabalhado. Contudo, o filme de Morelli toca em um assunto pertinente, um garoto de 14 anos passa a sustentar a família através do futebol, não consegue terminar a escola e recebe toda a pressão da mídia por ser “o novo Messi”. A discussão é antiga, mas vê-la no cinema pode ser uma forma de dar luz à essas questões, já que todos os anos vemos jogadores se perderem com o sucesso e ostentação. E claro, aqui estamos falando de uma parcela bem pequena do mercado, pois a maioria dos jogadores sequer conseguem se sustentar com o salário do clube, sendo obrigados a possuírem outro emprego.

“Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar” possui uma força para fazer girar o diálogo, Néstor Guzzini (leia AQUI nosso entrevista com ator) que interpreta Ruben, o pai do protagonista, Tito (Facundo Campelo). Um homem que possui diversos empregos, a fim de sustentar sua família e mal consegue pagar as contas. Que ao ver o progresso de Tito na carreira de jogador, compreende uma possível saída para seus filhos e esposa, porém se pergunta qual o bem aquilo faria à seu filho, que possui apenas 14 anos e já repetiu diversas vezes a sexta série. Dentro destes dilemas morais é onde Guzzini trabalha, criando um personagem crível, com soluções não aparentes e uma intensa problemática acerca do futuro de seu filho e de sua família.

Ao retirarmos Ruben da equação, o equilíbrio se perde por completo, Tito é um personagem unidimensional, que se vê perdido no turbilhão de acontecimentos e não reage. A mãe, Marisa (Veronica Perrotta), se resume em acreditar no potencial de seu filho e apoiá-lo incondicionalmente. Logo vemos que os personagens coadjuvantes são apenas bases frágeis dos protagonistas, o que gera um desconforto tamanho durante a projeção, pois toda a discussão moral que vemos ser iniciada com o pai, vai se diluindo em todo uma proposta formuláica e que demonstra as inclinações indústrias da produção.

O diretor insiste em explorar arquétipos tolos deste universo futebolístico, busca ângulos clichês com o sol atrás etc, utiliza slow motion para dar a ideia da velocidade com a qual as jogadas são realizadas. Nada aqui possui uma assinatura, pelo contrário, Morelli encontrou uma receita de bolo e a seguiu cegamente. A fotografia segue o padrão, vai explorar o sol a fim de gerar quadros emblemáticos, mas acaba demonstrando a fragilidade da produção e da montagem, como um chute que Florencia (Candelaria Rienzi) vai dar, a luz explora os contornos, mas na lógica da continuidade e da montagem, os ângulos de onde a bola vêm, para onde ela chuta etc, não faz o menor sentido. E essa deficiência na misancene é constante, já que acompanhamos uma grande construção na cidade inicial, mas jamais compreendemos a geografia daquele local e sua posição narrativa em relação aos personagens, ainda que a partir dos diálogos seja possível perceber que há alguma importância dramática para os mesmos. O filme conquistou o prêmio de Melhor Ator para Nestor Guzzini, na competição internacional do Festival de Gramado 2018.

“Meu Mundial – Para Vencer Não Basta Jogar”, Baseado no livro homônimo de Daniel Baldi, que foi financiado pelo Programa de Parceiros Audiovisuais de Montevidéu da Intendência Municipal, demonstra as fraquezas de um cinema comercial latino, ainda que a Argentina já compreendeu seu formato há anos. Está longe de ser uma bomba, mas não consegue impressionar em nada, nem emocionar, ainda que constantemente haja um apelo musical e imagético para que o espectador sinta a emoção da cena. As discussões não saem da superfície e os debates morais ficam pro espectador no pós-sessão e muito além filme. Mas com tudo isso, ainda é um projeto mais sólido que o chernobyl do ano “Eu sou brasileiro”.     

2 Nota do Crítico 5 1

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