Influência
Peçonhentos
Por Vitor Velloso
Durante o Festival É Tudo Verdade 2020
A influência dos detentores do capital financeiro em eleições e como o âmbito cultural de um país é deturpado de acordo com o poder que eles vão receber a partir dos candidatos que apoiam. No Brasil, patati careca Hang e o patatá XP, são os que tentam criar a influência reacionária no âmbito midiático e social, para além das figuras vergonhosas, ambos criaram redes de financiamento para manter seus apoios conservadores. Com isso, perderam alguns processos, a moral diante do próprio público etc. “Influência” é um documentário que tenta compreender as movimentações políticas desses agentes do capital, na política britânica e no cenário internacional. Os recursos são duvidosos e a ética é destroçada pelo mal-caratismo da alta burguesia que visa apenas a tomada do poder na situação política, como de costume na classe.
Richard Poplak e Diana Neille constroem aqui uma obra que está visando diretamente o rompimento democrático, ético, moral do processo político, em prol da manutenção do poder. São pessoas que possuem o poder, apenas querem manter-se com o mesmo. E tal possibilidade, permite que haja uma completa homogeneização de seus interesses particulares, com o poder público. Suas ideologias viram parâmetro de sociedade, passam a moldar o convívio do país, aos prazeres dessa classe dominante. Afinal, esta era a função da Tim Bell, o homem que planejou a vitória de Thatcher no poder. A reacionária foi amplamente amparada pelo igualmente reacionário, Tim, para que a campanha fosse conduzida à sua vitória, a fim de encerrar com a projeção de alguma possibilidade de um governo levemente mais progressista. E aqui, ambos, se assumem como tal. Em determinado momento, Bell diz sentir ódio e repulsa de sindicato e negociações coletivas. Conscientemente, seu desprezo por algo que fuja sua individualidade, torna-se a maior arma para manipular os zumbis descerebrados, pois quanto mais fácil o gatilho através da alienação absoluta por meios de comunicação, uma venda que vá direto no interior de um imperialismo cultural, mais rapidamente a horda torna-se um levante de fiéis conservadores, muito além de breves eleitores.
A Bell Pottinger, envolvida em dezenas de escândalos escabrosos, se vê em amplitude de degradação como a Cambridge Analytica, ambas empresas seguem rumos específicos para doutrinar e modificar a política mundial, em prol de suas crenças reacionárias, totalizantes e assassinas. Não por acaso o mesmo britânico foi auxiliado por Pinochet. Nigel Oakes é outro monstro que aparece aqui no filme, se orgulhando do poder e da produção de armas, o peçonhento exibe suas conquistas e ideologias como troféus. Sempre se vangloriando das “façanhas” reacionárias que conquistou. Os orgulhos em torno de como criaram uma rede de extrema-direita com amplo apoio mútuo, é de revirar o estômago, não à toa, o Brasil aparece na lista de países onde o grupo atuou, recebendo quantias altíssimas de dinheiro. Acredito que se Bell e Bannon jantarem juntos, o inferno festejará.
Mas não só de infelizes e tóxicos vive “Influência”, Phumzile Van Damme também aparece no documentário, a mulher sul-africana que conseguiu derrubar o poder imperialista de Bell na África do Sul. Mas o foco do filme está sempre em conseguir tornar o exercício expositivo em torno dessa questão da extrema-direita e sua influência, mas acaba costurando tudo isso como quem tem muito o que dizer, em pouco tempo. Tudo é muito corrido na estrutura do longa e a montagem não consegue organizar de maneira que não comprometa a visão particular que o filme possui sobre os acontecimentos e perde ritmo com seus esforços. Pois a árdua tarefa de seccionar parcialmente o discurso para que haja algum grau de engajamento, contra ou a favor das políticas ali expostas. Está claro que o filme não assume uma postura rígida frente aos entrevistados, em vez disso, utiliza-se de imagens de arquivo para conseguir traçar algum tom crítico às falsas verdades que proferem o tempo inteiro.
“Influência” é uma obra importante para compreendermos as resoluções políticas que levaram o mundo à crise generalizada que vive hoje, onde a economia é dissolvida, a ideologia é radicalizada e os governos de extrema-direita falham constantemente em apreender resoluções públicas que consigam dar o mínimo de amparo para sua população. Mas o documentário acaba se apegando demais em sua exposição e realizando uma cadência crítica pouco incisiva, denotando algum grau de admiração pela “inteligência” dos verdadeiros algozes da política internacional.