Mostra Um Curta Por Dia Marco mes 9

In Flow of Words

A ética das representações

Por Vitor Velloso

Durante o Festival de Locarno 2021

In Flow of Words

“In Flow of Words” de Eliane Esther Bots é um projeto que compreende o poder das palavras de seus personagens sem precisar recorrer a grandes recursos imagéticos. A estrutura é apresentada com um distanciamento em um primeiro momento, onde uma voz anuncia que em um filme ela seria a “voice over”. Esse deslocamento como uma formalização da mediação para as falas posteriores é menos uma suavização das histórias e mais uma provocação direta ao seu próprio conteúdo. A articulação fria chega a desafiar uma possível reação do espectador e lembra que “são apenas palavras” e que a descrição não chega perto do horror presencial.

De certa forma existe uma postura curiosa diante dessas “confissões”, a exposição de um possível debate em torno da ética da própria função de intérprete nesses cenários. Aliás, o poder do discurso está na mão dessas pessoas e o julgamento moral é inevitável. Por essa razão, “In Flow of Words” brinca com a sensação de estarmos abrindo a “caixa preta” dos tribunais (aqui, o Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia) e consequentemente do passado recente do conflito. Quando a voz afirma que “eu sou você”, o jogo de representações se confunde na estrutura e o espectador se vê no imbróglio dessas relações. Esse dispositivo formal faz com que possamos entender o problema pessoal dos intérpretes no que tange testemunhas, vítimas e perpetradores.

O rigor do espaço do Tribunal não permite reações emocionais ou que a história dos profissionais sejam contadas. Aqui, os personagens se permitem falar de suas relações pessoais com o conflito em si e como o impacto do mesmo se dá na percepção daqueles julgamentos. E nessa ideia dos espaços, o curta expõe o funcionamento desses ofícios, ainda que não projete uma imagem clara, recorrendo a desenhos e objetos que sintetizem como essas pessoas se sentem diante do processo. “Testemunhas dessa história” é a conclusão de uma das falas, que revela a consciência de uma penalização que acomete a todos, ainda que suas posições nesse grande teatro ajudem a definir o futuro e o passado, de maneira “inequívoca”.

4 Nota do Crítico 5 1

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