Curta Paranagua 2024

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

A repetição e o desgate

Por Vitor Velloso

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

Alguns anos atrás, quando saiu “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2018), direção de Rodney Rothman, Peter Ramsey e Bob Persichetti, toda a crítica se rendeu ao primor técnico da animação e ao grau de criatividade que a obra apresentava para lidar com diferentes estilos de linguagem. À época, o filme apresentou algo realmente diferenciado para os padrões de produção de seu contexto. Contudo, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” de Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers soa como uma espécie de outra versão do mesmo projeto, com diversas similaridades e um roteiro, assinado por Dave Callaham, Phil Lord, Christopher Miller, visivelmente mais conturbado. 

E este é um dos maiores problemas da obra, não saber lidar com uma diferença de quase seis anos de um filme para o outro e não amadurecer os dramas de seu personagem central para o público. A maior parte dos dramas pessoais são mais infantis e pouco desenvolvidos, com uma divisão de tempo de tela pouco democrática entre os personagens, fragmentando demais as relações, romances e conflitos. Nesse sentido, mesmo que o vilão de “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” seja relativamente interessante do ponto de vista estético, sua relação com o Homem-Aranha parece genérica, vista em diversas outras obras do cabeça de teia. Os blocos de romance são prolixos, os diálogos não convencem, sempre construídos como uma espécie de dispositivo fácil para encerrar algum pragmatismo dramático etc. É como se a obra se defendesse de suas fragilidades com seus inúmeros méritos técnicos. E nesse sentido, o filme consegue grande destaque, pois a facilidade com que impressiona o espectador pela multiplicidade de estilos, efeitos e versões do homem aranha, faz com que algumas sequências sejam realmente agradáveis de se acompanhar. 

Nesse mesmo caminho, é necessário dizer que as outras versões são estereótipos superficiais, quando não problemáticos, de outras culturas ou de estilos particulares. Um exemplo disso, é o retrato do Pravit Prabhakar, com a voz de Karan Soni, o homem-aranha indiano, que já sofreu algumas críticas na internet por sua representação estereotipada. O problema dessa escolha diz respeito à forma como suas culturas e posições diante do mundo acabam servindo como definição de suas personalidades. O homem-aranha punk, com a voz de Daniel Kaluuya, é um dos retratos mais explícitos nesse sentido, ainda que um dos mais divertidos, quando está em cena. 

“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” não soube amadurecer como sequência e acaba prejudicando a experiência em uma constante tentativa de agradar o público com pistas e indicadores desse grande universo que se agiganta na tela. Esse grande tributo ao fã, pode ser recompensado em alguns blocos, mas acaba comprometendo um filme que não sabe exatamente como se desenvolver para chegar em um clímax que apenas necessita de dois ou três momentos para arrancar aplausos por conta de um entretenimento de segundos de duração. Por essa razão, é uma obra que não consegue se sustentar como sequência, apenas uma nova forma de apresentar as mesmas coisas de forma mais cômica, mesmo que forçadamente, menos eficaz, por conta das tentativas infantis de seus dramas, e um retrocesso acentuado quando entendemos que seis anos depois estamos diante do mesmo filme. 

Trata-se, sem dúvida, de uma decepção em diversos aspectos por permitir ao espectador uma expectativa que não se cumpre e a manutenção de uma fórmula, seja por medo de errar ou pela segurança do sucesso de bilheteria. Ainda assim, dentro desses aspectos, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” pode ser uma boa opção para quem procura um entretenimento rápido e que não exige do espectador um grande esforço para acompanhar a narrativa, mesmo que esta possua largos saltos ao seu bel prazer. E o próprio reforço do produto como advindo do quadrinho, parece desgastado quando para cada introdução de personagem, uma cena programática precisa acontecer como forma de apresentação. É realmente uma obra que flerta com a preguiça.

2 Nota do Crítico 5 1

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