Francisco
Busca por Identidade
Por Jorge Cruz
Mostra Sesc de Cinema 2019
O representante do Acre na 3ª Mostra Sesc de Cinema, o curta-metragem “Francisco”, é quase uma produção de manual. Bem construída pelo diretor e roteirista Teddy Falcão, o filme foi exibido ao lado do fundamental “Kbela” na Mostra Negra do Cineclube Opiniões, já tradicional em Rio Branco e merecidamente ganha projeção nacional com sessões espalhadas por todo o país.
Abrindo espaço para debate acerca da busca por identidade, o jovem Francisco nos é apresentado nos revelando duas vias de sua certidão de nascimento, uma onde lhe é definido como pardo e outra como negro. Quase como se essa ausência de definição, um reflexo direto da disrupção na ordem social que rompeu silenciamentos históricos, iniciasse um processo de regressão no protagonista. A câmera tenta nos colocar em contato com o corpo do rapaz, nos únicos momentos em que o tradicionalismo nos enquadramentos é quebrado.
A partir daí um pequeno panorama do caminho traçado por Francisco nos é revelado. A influência do Cristianismo perdura: não apenas a presença em cultos no presente como a revelação de que seu nome é uma homenagem a São Francisco de Assis. Falcão também monta o curta-metragem e exerce tal função tão bem quanto as outras.
O resultado final se mostra um produto adequado a sua proposta, sem tirar foco do seu objeto. Em meio a um simples passeio sobre a vida daquele garoto, o que parecia caminhar para a gênese de uma juventude simples e tranquila se esvai em um depoimento de um Francisco traumatizado pela violência que amplia as chances de um homem negro ter uma vida mais efêmera, com abreviações de existência inexplicáveis. Dessa maneira Teddy Falcão nos coloca em estágio avançado de um Francisco consciente, que insiste em não se conformar, para – em ato final que tira quase todos os elementos visuais de cena – dar mais peso aos motivos que endureceram a carcaça de um humano que já nasce sobrevivente.