Egum
Oyá e Valéria em Consonância da Ancestralidade
Por Vitor Velloso
Crítico convidado pela Mostra de Tiradentes 2020
Os diálogos entre “Cavalo” e “Egum”, duas obras selecionadas para a 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes, são diversos, tanto em gira de corpo e fé, como o processo direto que se estende à ancestralidade e um enfrentamento com requisitos de burocracia procrastinadora de avanço cinematográfico.
Yuri Costa, diretor do projeto, é consciente de um processo de entrega daqueles corpos, o que acaba sendo transmitido diretamente na linguagem do curta-metragem, que se apropria de uma inconstância que está presente diretamente na narrativa do curta. Tal escolha implica diretamente em dois fatores cruciais, quais sejam, o ritmo e a estética.
Toda a dinâmica da narrativa de “Egum” depende da estrutura que é empregada à mesma, em uma ciranda que reconhece em si a capacidade de purificação de um processo que torna a História um palco curandeiro da alma e dos dramas projetados na tela.
Em dança e adereço, a oralidade é transmitida em sabedoria de Mãe que esclarece as necessidades de se empreender na jornada de ceder em respeito e aprender um coletivo de lítio que, em expurgo, é ciranda de cavalo. O sofrimento é uma verve que o qual o curta-metragem se apropria, contudo, reflete com uma força potente à visceralidade social de se polarizar uma cultura em racismo e ódio. Os berros e a lente movimentada em frente à porta repudia aquilo que há de ser expelido.
Enquanto as telas de Tiradentes são ocupadas, assim como os palcos, a girar há de girar sempre. Quase um filme de gênero, em “Egum” a espiritualidade toma conta da tela e o espectador sente em cada corte um pulso que firma sua posição em espaço-tempo. A manifestação colhida de Yuri Custa revela muito deste processo da obra e mais ainda de sua importância para o cinema. Em suas palavras: “nós entramos nesse set como uma equipe, mas saímos como um quilombo”.