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Diário de um Jornalista Bêbado
Ficha Técnica
Direção: Bruce Robinson
Roteiro: Bruce Robinson
Elenco: Johnny Depp, Amber Heard, Aaron Eckhart, Giovanni Ribisi, Richard Jenkins, Amaury Nolasco, Michael Rispoli, Marshall Bell
Fotografia: Dariusz Wolski
Música: Christopher Young
Produção: Christi Dembrowski, Johnny Depp, Graham King, Robert Kravis, Anthony Rhulen
Distribuidora: Vinny Filmes
Estúdio: Dark & Stormy Entertainment / FilmEngine / GK Films / Infinitum Nihil
Duração: 110 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
A opinião
“Diário de um Jornalista Bêbado” pode ser um filme incompreendido e patético num primeiro momento, devido ao grau de manipulação do clichê, da superficialidade e de “suposta” homenagem ao gênero de filmes B, que ganhou força nos anos trinta, e usado, desde então para se referir a qualquer filme comercial de baixo orçamento, com atores pouco conhecidos ou em decadência, geralmente malfeitos em muitos casos. Mas o que na verdade se objetiva é transpassar nostalgia e tentar datar um momento passado, mesclando narrativa surreal, de esquizofrenia psicodélica, deturpando a realidade e a alucinação, ao mesmo tempo, sem explicar nenhuma das duas. O filme, para ser totalmente absorvido, necessita de um conhecimento de algumas informações. Como disse, esta homenagem funciona como uma crítica ao novo cinema, porque atores famosos e bem pagos são escalados, no universo hollywoodiano, vide Johnny Depp, que interpreta o protagonista, um jornalista itinerante, Paul Kemp, que cansado do barulho e da loucura de Nova York e das convenções pesadas da era de Eisenhower na América, viaja para Porto Rico para escrever para um jornal local, o The San Juan Star, dirigido pelo oprimido editor Lotterman (Richard Jenkins). Adotando a vida encharcada de rum da ilha, Paul logo se torna obcecado por Chenault (Amber Heard), a atraente noiva de Sanderson (Aaron Eckhart), nascida em Connecticut. Sanderson é um dos empresários envolvidos em negócios obscuros de desenvolvimento de propriedades na ilha e faz parte de um número crescente de empresários americanos que estão determinados a converter Porto Rico em um paraíso capitalista a serviço dos ricos. Quando Kemp é recrutado por Sanderson para escrever favoravelmente sobre seu sistema de negócio, o jornalista se depara com duas possibilidades: usar suas palavras para o benefício dos empresários corruptos ou usá-las para enfrentá-los.
Não podemos esquecer: de mencionar o personagem Moburg, um jornalista pseudonazista, vivido por Giovanni Ribisi (de “Paraíso”). O roteiro utiliza-se do humor negro, sarcástico (às vezes agressivo), intempestivo, perspicaz, debochado, recheando com piadas batidas, mas que funcionam dentro do contexto abordado. Baseia-se no romance homônimo de Hunter Stockton Thompson, o mesmo de “Medo e Delírio em Los Angeles”, que também se transformou em filme, tendo também Johnny Depp como um dos personagens principais. A palavra “também” é recorrente aqui neste texto, porque no filme / livro passado, também há um jornalista que percebe que somente drogas poderosas podem fazer com que as coisas sejam ligeiramente normais. A coincidência também cerca o diretor Bruce Robinson, que dirigiu e roteirizou “Os Desajustados” (1984), “Como Fazer Carreira em Publicidade” (1989) e “Jennifer 8 – A Próxima Vítima (1992)”, assinou apenas o roteiro de “A Premonição”, “Pela Vida de um Amigo”, e foi ator do filme “A História de Adèle H.”, de François Truffaut, em 1975. O realizador em questão aqui foi convidado por Depp para dirigir “Medo e Delírio” antes da aceitação de Terry Gilliam, mas recusou porque afirmava não saber como levar o livro para as telas. Entender os personagens é preciso embarcar nas características adjetivadas do próprio escritor, que teve pais alcoólatras, foi adolescente problemático, levando um estilo de vida inspirado no Movimento Beat, recebendo influencias de outro escritor “maldito” Charles Bukowski, por exemplo.
Thompson foi o criador de um estilo denominado Jornalismo Gonzo, que se caracteriza por acabar com a distinção entre autor e sujeito, ficção e não-ficção, gerando uma narrativa em jornalismo, cinematografia ou qualquer outra produção de mídia em que o narrador abandona qualquer pretensão de objetividade e se mistura profundamente com a ação. Buscando assim uma interatividade, cumplicidade e sinestesia com o espectador. Muitos não consideram nem uma forma de jornalismo, devido à total parcialidade, falta de objetividade e pela não seriedade com que a notícia é tratada, fugindo a todas as regras básicas do jornalismo. Antes de assisti-lo na Maratona do Cinema Odeon, ouvi de um conhecido “vamos então às caretas e gestos de Johnny Depp”, tudo devido às conhecidas reações faciais dos filmes anteriores do ator, como “Piratas do Caribe”, “A Fantástica fábrica de Chocolate”, “Edward, mãos de tesoura”, entre tantos outros. Digo isso sem crítica pejorativa, por ser este elemento característico essencial, fornecendo naturalidade fantasiosa da atuação. Concluindo, um filme que se utiliza do clichê, o debochando, fazendo com que a narrativa soasse perdido, assim como os personagens, que buscam um ínfimo desejo de injetar ao mundo doses de ética deturpada, questionando os atuais, dos anos sessenta, valores morais e exterminando de vez, sem qualquer possibilidade de rebatimento por parte dos espectadores, a futilidade, superficialidade e o poder em mãos erradas. Isto fica explicito no final do filme, quando sentimentos são personificados, personagens humanizados, sem o sentimentalismo barato e sem pulular gatilhos comuns, transgredindo no próprio drama a quebra dos paradigmas dramáticos. Como disse, não há nada de patético. Há quem diga que é uma sutil continuação. Eu não acho, só acredito que vale à pena assistir. O filme, com orçamento estimado de US$ 45 milhões, deveria ter começado em 2004, mas as filmagens iniciaram somente em março de 2009. Recomendo.
Trailer Oficial
O Diretor
Bruce Robinson, nascido em 2 de maio de 1946, Broadstairs em Kent. Ele é sem dúvida o mais famoso para escrever e dirigir o clássico cult “Withnail e eu” (1986), um filme com elementos cômicos e trágicos estabelecidos em Londres na década de 1960, que desenhou em suas experiências como “um ator alcoólatra e repouso, vivendo na miséria “, em Camden Town. Como ator, ele trabalhou com Franco Zeffirelli , a quem ele baseou o personagem do Tio Monty em Withnail e I; e François Truffaut . Em 1998, ele voltou a atuar no filme rival 70 anos de rock Still Crazy. Com problemas de bebida, fez recuperação em 2003, mas voltou a beber, caindo de um vagão durante as filmagens do seu último filme, e parou de beber, novamente, após o término.

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