Debate Inaugural do Cine OP 2024: Preservação, História e Educação
Na abertura oficial do 19 Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e do encontro da Educação: XVI Fórum da Rede Kino
Por Vitor Velloso
No debate Inaugural do Cine OP, mediado composto por Lígia Morais – Coordenadora geral Educação para os direitos humanos – Ministério de Direitos Humanos e Cidadania / DF, Durval Ângelo, Clarissa Alvarenga – curadora da Temática Educação e coordenação da Rede Kino / MG, Vivian Malusá – curadora Temática Preservação / DF, Paulo Alcoforado – Diretor da Ancine / BA e Durval Angelo, presidente com mediação da Tatiana Carvalho Costa – membro do Conselho Superior de Cinema e presidente da Associação de Profissionais Audiovisuais Negros – Apan / MG.
Já na apresentação de Tatiana, foi possível notar a complexidade dos debates que estavam sendo propostos a partir da temática Memória em Movimento, citando o PDM – Plano de Diretrizes e Metas para o audiovisual, sobre a questão da utilização da Inteligência Artificial no cinema e a importância de pensar em políticas públicas estruturantes para solução de problemas e melhorias no campo da preservação e educação no audiovisual brasileiro.
Durval fez questão de relacionar a dificuldade da produção artística brasileira contemporânea com o último governo federal brasileiro e ressaltar a importância de compreendermos a memória e preservação para as gerações futuras, relacionando o passado, o presente e o futuro.
Clarissa Alvarenga fez questão de recordar que desde a existência do cinema, o cinematógrafo esteve presente nas escolas, para exemplificar que não se trata de um debate contemporâneo, mas uma pauta que está em voga desde os “primórdios do cinema”. Falou de seu trabalho junto com a Adriana Fresquet para o desenvolvimento do Plano Nacional de Cinema na Escola, onde houve a divisão em 4 Grupos de Trabalho Diferentes.
GT 1- FORMAÇÃO DOCENTE
A grande maioria dos professores e professoras que atuam nas escolas da educação básica não tiveram acesso a uma formação de nível superior em que o cinema, o audiovisual e nem tampouco a cultura e as relações étnico-raciais estiveram presentes. Essa lacuna, que ainda é uma realidade no currículo da educação superior, precisa ser discutida. Uma das maneiras de solucionar essa situação é a formação continuada de educadores. Enfim, é preciso compreender as maneiras como o acesso dos educadores e das educadoras a essas experiências pode ser garantido, pois ele é fundamental para que o cinema esteja presente na escola.
GT 2 – CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO E EXIBIÇÃO
Quais são as condições materiais para que o cinema e o audiovisual se façam presentes nas escolas? Sabemos que há uma grande variedade de contextos escolares e queremos assegurar que, dentro dessa diversidade, o cinema eo audiovisual possam estar ao alcance de todos. Como pensar a questão tecnológica em diálogo com as questões culturais, com o meio ambiente e sem desconsiderar as práticas pedagógicas criadas por professores, professoras e estudantes?
GT 3 – ACERVOS E CURADORIAS
Uma das questões centrais para que o cinema e o audiovisual estejam disponíveis nas escolas da educação básica é a disponibilidade pública de acervos de filmes que possam ser exibidos. Essa é uma discussão que remonta àquilo que no contexto das discussões dos últimos 16 anos da Rede Kino chamamos de acervo audiovisual rscolar livre. Quais as características conceituais e curatoriais que esse acervo deve ter no sentido de contemplar a diversidade, as questões raciais, de gênero e classe? Em que medida esse acervo pode ser aproximado de percursos pedagógicos nas escolas? Como fazer com que essas curadorias de filmes se tornem disponíveis para os educadores e as educadoras?
GT 4 – PEDAGOGIAS
Tão importante quanto a disponibilidade pública de acervos audiovisuais para que as comunidades escolares possam ter acesso ao cinema é a elaboração de metodologias, as quais envolvem desde a criação de cineclubes, que permitam ver juntos e debater as imagens, quanto processos de criação audiovisual que tornam possível que estudantes e professores se tornem criadores de conteúdos audiovisuais.
Após apresentar os 4 GTs, Clarissa Alvarenga comentou sobre a necessidade de pensar as relações dos professores e das crianças com imagens, entendendo que essas relações são regidas por “interesses capitalistas”. E que apesar disso, temos de encarar o “cinema como direito para os jovens e que o “cinema brasileiro” também é o cinema indígena mais, o cinema negro, o cinema na escola e que não podemos resumir cinema brasileiro com um cinema feito por cineastas que possuem produtoras e estou um outro lugar de pensar o cinema brasileiro, quase de senso comum.
Vivian Malusá falou da importância de se entender a memória também como ponto de ligação com aqueles que nos precederam e “qual o audiovisual que iremos deixar para as futuras gerações”. Citou os esforços recentes no Brasil “sobre a lei do streaming” e da importância das redes e das políticas públicas na atuação de setores do audiovisual na questão climática, citando como exemplo um trabalho contemporâneo que foi realizado no Rio Grande do Sul.
Reforçou uma pauta que sempre é defendida na CineOP, que a preservação deve ser iniciada no momento da produção.
Pegando algumas deixas oferecidas pela fala de Vivian, Tatiana abordou a violência de alguns alagamentos realizados com frequência na história do cinema brasileiro, citando o caso de Antônia Agape, cineasta negra que fez parte do movimento Super8tista em Pernambuco e que não é citada, decidida a não polemizar sobre um documentário recente que nem credita a Antônia.
Em seguida, Débora Butruce afirmou que para podermos ter novas possibilidades de futuro, é preciso preservar o passado, relembrando que a preservação precisa de estabilidade e para isso, é necessário pensar políticas estruturantes que viabilizem essa estabilidade, pois existe uma instabilidade crônica na preservação.
Comentou também sobre a fragilidade do digital frente ao analógico e que por essa razão, a única coisa que sobre de determinada obra, em muitos casos, é o compartilhamento na Internet. Porém, chama atenção para o limites do armazenamento de dados e repetiu um dos maiores consensos nos debates sobre a preservação audiovisual no Brasil, a descentralização, altamente debatida durante as outras edições da CineOP.
Tatiana aproveitou para compreender que todas as falas estão inseridas no contexto de direitos humanos.
Lígia Morais emendou a fala de Tatiana para afirmar que “no Brasil é difícil pensar cinema e direitos humanos em espectros distintos e divulgou dois projetos que estão em desenvolvimento/andamento que é a Mostra Cinema e Direitos Humanos, que procura democratizar o acesso e que atualmente nossa memória está em disputa, pois há batalhas que estão sendo perdidas através das narrativas revisionistas.
E o segundo projeto Centro de Memória em direitos humanos, funcionando como um acervo cultural da Luta e Atuação pelo Direitos Humanos, como um espaço de reparação simbólico.
Paulo Alcoforado, procurou falar um pouco sobre o papel das Agências no Brasil, e que as mesmas estão direcionadas ao desenvolvimento de determinados mercados.
O debate foi interessante para compreendermos melhor qual a proposta de reflexão que está sendo oferecida na temática atual da 19 CineOP.
A programação é gratuita e o evento acontece até o dia 24/06 com cobertura diária aqui no Vertentes do Cinema.