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Vermelho Sol

Vermelho SolVermelho Sol

Retrato Latino de um moralismo ético

Por Vitor Velloso

Durante o Festival do Rio 2018

Desde os primeiros dez minutos, o espectador compreende não estar assistindo a filme comum. Mortes inusitadas, hipocrisias de uma acidez brutal e um uso de linguagem cômica que possui um caráter político muito peculiar. A trama de “Vermelho Sol” é de uma caricatura interessantíssima, um advogado, Claudio (Dario Grandinetti), após ser ser ameaçado por um homem armado, presencia uma tentativa de suicídio. Sua atitude será a espinha dorsal da narrativa, ele busca tentar salvar o algoz, frustrado ele leva a esposa em casa e decide abandonar o corpo no deserto. Sua escolha irá guiá-lo em culpa e consequências.

O interessante é a postura do diretor Benjamín Naishtat, diante de toda a possibilidade moral, ética, cômica e dramática que essa proposta possui, ele vai por uma direção completamente diferente, usando um humor tipicamente Argentino e uma concentração de críticas diretas aos homens, à questões políticas e sem dúvida o papel do ser humano em uma sociedade constantemente fadada ao caos estrutural.

Formalmente, “Vermelho Sol” possui o mérito de se concretizar em uma postura tipicamente latino-americana, invés de se entregar à encenação européia, o que dá uma caráter próprio bastante necessário às escolhas do autor, já que não apenas a geografia da narrativa compõe de maneira decisiva a trama, mas projeta uma cultura que nos é familiar. Não à toa, ao vermos o personagem, assassinado posteriormente, e suas atitudes, reconhecemos nele provocações dramáticas que nos sugere uma vasta possibilidade de reflexões do ser humano em meio político e social, que acaba tornando-se transparente com a progressão da história, já que parte de suas motivações são explicadas futuramente.

De certa forma, o caráter da investigação torna o processo pouco menos interessante do ponto de vista narrativo, pois algumas previsibilidades acabam vindo à tona, porém a relação que se constrói, de maneira caricatural, entre o protagonista e o investigador, rende alguns momentos de diversão genuína e uma manipulação de clichês e arquétipos que vai de encontro (no sentido mais provocatório) à indústria. Assim, temos um produto comercial que possui possibilidades sólidas de disseminação, ainda que haja liberdade formal e criativa na estrutura.

O que demonstra, mais uma vez, que o cinema argentino compreendeu de maneira orgânica a conciliação entre mercado e a produção “autoral”. Tal característica acaba esclarecendo problemas antigos do Brasil quanto à isso, seja por uma questão de distribuição, exibição ou espectadores. A política cultural do cinema na Argentina possui um apoio massivo do Estado, no que tange à divulgação e Educação (a raiz do problema brasileiro). Tal desenvolvimento permite à eles, um avanço drástico na questão. Por esse motivo, vemos que tematicamente eles realizaram a passagem do combate direto ao popular.

A fotografia de “Vermelho Sol”  é curiosíssima (perdão o adjetivo de baixa criatividade), já que consegue fomentar as possibilidades do roteiro e da direção com vigor impecável, mas sem tomar para si a tarefa de direcionar à narrativa. Roteiro este que é capaz de permanecer no viés crítico sem que se exclua a participação geral do público, logo, ele deixa claro o que se aponta.

O filme acaba tornando-se enfadonho com o tempo, pela pouca variação no texto a partir da investigação, com isso, acaba afastando o público não habituado. Não pela montagem mais lenta, em comparação ao Brasil, mas por assumir, depois de certo tempo, um senso comum que torna-se excessivamente familiar.

“Vermelho Sol” é um longa singular, sem dúvida, que se inicia criando expectativas quanto ao objeto de discussão, mas retorna ao viés corriqueiro, que pode ser uma vantagem comercial. Consegue ampliar suas possibilidades com soluções formais curiosas, que inclina o projeto à uma direção que fixa seu ponto de vista em uma estoicidade vigorosa, permitindo assim um apuro estético, mas se fragiliza ao encarar tais processos de apreciação imagética como espelhos do roteiro. Mas com toda certeza aparece como uma figura importante do cinema latino-americano em meio à massiva invasão de longas europeus e americanos do momento e representa a fuga necessária da colonização cultural que se vive no país.

3 Nota do Crítico 5 1

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