Canastrice super heróica
Por Vitor Velloso
Com a excessiva presença de super-heróis nas telonas, as fórmulas vão se estabelecendo e as repetições ficam cada vez mais constantes. A Marvel, por exemplo, vive com uma estrutura pré-estabelecida e a utiliza em todos seus projetos, ainda que os irmãos Russo tenham feito pequenas mudanças no andamento dessas narrativas. Já que a Disney/Marvel só quer manter seu lucro seguro, e por isso não vai arriscar, resta às outras empresas buscarem mudanças no gênero. A Fox (que agora também é Disney) fez isso com “Deadpool” e “Logan”, sendo bem sucedida em aumentar a classificação etária e dar aos personagens histórias que eles mereciam de fato.
A DC/Warner tentou se afastar desta proposta “marvelesca”, construiu tramas sérias, fotografias mais pesada etc. Não teve sucesso, “Batman V Superman” foi um fracasso, “Esquadrão Suicida” um desastre, “Mulher Maravilha” teve uma recepção razoável para boa, mas “Liga da Justiça” foi outra bomba. Após todo esse repertório tenebroso “Aquaman” com James Wan (Invocação do Mal e Jogos Mortais) introduziu a empresa no mercado novamente. E agora, “Shazam!” com David F. Sandberg (“Lights Out” e “Annabelle 2”).
O longa vai contar a história de Billy Batson (Asher Angel), um garoto de 14 anos que pula de uma família adotiva a outra, seu desejo de encontrar sua mãe não permite que ele se sinta confortável em uma família “que não a sua”. Um dia, no metrô, ele se vê em um local estranho e um velho mago lhe oferece poderes inimagináveis ao alcance de apenas uma palavra “Shazam!”, onde torna-se adulto (Zachary Levi) e superpoderoso. Por ser apenas um adolescente, essa responsabilidade dos poderes não o afeta, ele apenas quer descobrir quais habilidades ele tem e se divertir com elas. Mas, claro, há um vilão, Dr. Thaddeus Sivana (Mark Strong) que rouba um artefato sagrado do mago e deseja absorver os poderes do protagonista.
A trama não é muito elaborada, nem é a proposta, a ideia é ser uma diversão do início ao fim e não levar nada a sério, e nessa perspectiva ele se sai muito bem. Diversas referências e memes são utilizados com a intenção de popularizar a narrativa. Enquanto “Deadpool” se vangloria por ser um ponto fora da curva no subgênero dos heróis, “Shazam!” utiliza a estrutura narrativa clássica para contar sua história se apropriando de diversos clichês e amarrando todas as pontas muito bem. Normalmente onde se vê fragilidade por tratar-se de uma arquétipo já consolidado, aqui é o oposto, pois a canastrice de todo o projeto jamais nos deixa supor uma seriedade ou um drama sólido em meio aquilo tudo. No máximo a questão da mãe do protagonista, que ainda assim pincela pequenos trechos do filme. O humor é onde reside a maior parte da projeção, enquanto ele descobre todos seus poderes vemos piadas com Super-homem, Batman e Aquaman sendo feitas o tempo inteiro. Curiosamente, além das questões cômicas ele consegue ser parcialmente eficiente em buscar um amadurecimento do personagem e enquadrá-lo nesta família que o acolheu. O importante é saber caçoar de tudo e de todos, principalmente com a ideia de “filme de origem” para um personagem que se encaixa em uma mitologia tão infantilóide.
Mas para servir de aproximação com o público durante todo este processo temos Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), sempre hilário. E ao juntar um herói adolescente, irresponsável e com ânsia de novidades, com Freddy, sofre bullying, quer mostrar ao mundo que é mais que um garoto deficiente físico, temos a junção perfeita para compor uma fajutice tamanha.
E Sandberg é um cineasta competentes, ainda que seus últimos longas não tenham sido bem recebidos (por razões óbvias), é nítido que o diretor possui uma consciência clara do que está realizando em set, sua construção de misancene e movimentos de câmera são precisos e denota um ritmo toda a projeção à uma atmosfera específica, que neste caso possui seus momentos “found-footage” e dão um dinamismo intenso à trama, num esquema meio sketch, pois a intenção dos dois é postar os vídeos na internet e bombarem a imagem do novo super poderoso.
Ainda que diversos problemas de estrutura sejam nítidos, as caricaturas vilanescas estejam mais claras que nunca e a falta de ousadia na trama seja um incômodo, toda a composição do projeto é extremamente fora da curva e essa intenção inovadora que toma conta aqui, cria uma nova atmosfera à DC, que até agora, em 2019, segue batendo a Marvel.